Sete (Camila/You)

Capítulo XVI

“Defendo o que eu gosto e quem eu gosto até o fim, mesmo que para isso eu fique em pedaços. A vida pode te deixar em pedaços, mas o amor te deixará inteiro.”
– Lima Barreto

Desculpem qualquer erro. Boa leitura.

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》Camila

Nicholas havia chegado tarde, o que já não era nenhuma novidade ultimamente, então, não nos falamos. Quando ele chegou eu já estava na cama fingindo, como sempre, que estava dormindo, porém, eu ouvi cada passo que ele deu pelo quarto, o vi entrar e sair do banho e senti o peso de seu corpo afudando o colchão ao meu lado. Apesar do banho, ele ainda carregava um forte cheiro de álcool no corpo que senti logo que ele entrou no quarto. Estava bêbado e por isso apagou logo que deitou.

Na manhã seguinte nos vimos quando ele já saía para o trabalho e eu ia até a cozinha para tomar café. Não trocamos um monossílabo sequer, ele saiu de cabeça baixa sem nem ao menos olhar para mim. O que é que andava fazendo ou, melhor dizendo, o que o afligia tanto que não podia sequer olhar para o meu rosto? Não é que eu esteja necessitada disso, não, não necessito de nada que venha desse homem, porém, eu podia notar que algo estava acontecendo, algo que ele não queria que eu soubesse.

- Com certeza é alguma vadia com quem está me traindo. - Murmurei em tom de deboche para mim mesma porque eu não me importava desde que, a partir do momento em que ele estivesse com outra, ele não sentiria necessidade de me tocar.

Por breves segundos me passou à cabeça que poderia não ser nada do que eu estava supondo. Talvez estivesse tendo problemas no trabalho, talvez a produção não estivesse rendendo o suficiente para lhe dar lucro, talvez algum funcionário tenha lhe dado dores de cabeça, talvez (SeuNome) não queira mais ter relações comerciais com ele, o que era péssimo uma vez que o restaurante dela havia passado a ser o nosso principal comprador. Talvez fosse algo com (SeuNome). Sim, isso me passou pela cabeça. Poderia ser algo que ultrapassasse questões de negócios e fosse diretamente a algo que eu já conhecia bem: a atração e relação que Nicholas tivera um dia com ela. Pode ser que ainda goste dela, não como sócia ou amiga, mas como mulher e esta é um teoria bem plausível quando se leva em conta o que ela me contou e o que eu ouvi ele dizer para ela após aquele jantar aqui em casa.

- Ela não daria chances para ele, Camila. Você sabe que ela não faria isso. - Murmurei mais uma vez tentando negar os meus pensamentos que me faziam supor que, talvez e só talvez, (SeuNome) pudesse também querer algo a mais com Nicholas. Não era uma coisa tão surpreendente, poderia acontecer de novo já que já tiveram algo no passado. - Ela não faria isso, ontem mesmo estava a ponto de rastejar por mim, de implorar por mim e se subjugar aos meus pés.

Balancei a cabeça negativamente a fim de afastar essas suposições da minha mente. Ela não faria isso.

- Vamos, Camila. Deixe de devaneio, você tem que trabalhar.

Peguei a bolsa, chave do carro e saí. Eis aí um dia em que eu optei por não trabalhar em casa. Iria à biblioteca pública da cidade. Porém... Não pude entrar no carro antes de ter de ouvir o que a avarenta da senhora Watson tinha a dizer.

- Bom dia, Camila. - Ela abriu um sorriso velho e mais assutador do que simpático, o que deveria ser o normal de se esperar de um sorriso daquela velha: velho e assustador.

Respondi brevemente ao cumprimento da velha que me acompanhava enquanto eu entrava no carro que já estava na rua. Esperava que ela me desse espaço, entretanto, não tendo noção disso ou melhor, talvez apenas fingisse não ter - é como dizem por aí: fingir demência e ela fingiu, embora eu não tivesse tanta certeza se aquela velha ainda possuía alguma sanidade -, a senhora Watson se debruçou com ambos os braços sobre a janela do carro e, ainda com aquele mesmo sorriso asqueroso no rosto, abriu sua boca com um hálito forte de alguma bebida alcoólica e falou sorrateiramente enquanto resquícios de saliva esticavam entre seus lábios e ao canto de sua boca: