Capítulo VI

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"Os poetas, porém, são por demais mentirosos." - Friedrich Nietzsche

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》(SeuNome)

Sentada numa mesa qualquer dentro do restaurante, eu escolhia o cardápio do almoço. Iríamos começar a servir às onze da manhã naquele dia. Emily estava no escritório lidando com um monte de papéis com os quais eu não queria me meter, e com os quais eu sabia que ela tinha melhor capacidade e entendimento para lidar do que eu.

O sino da porta de entrada soou indicando que alguém havia acabado de penetrar no estabelecimento, o que me fez desviar toda a atenção ao indivíduo que se aproximava da mesa onde eu estava.

- Me desculpe senhor, mas ainda estamos fechados. - O adiverti, no entanto ele continuou a se aproximar, o que acabou me fazendo levantar e avançar poucos passos em sua direção. - Bem, em que posso ajudá-lo?

- Eu vi o anúncio na porta de que estão contratando um subchef de cozinha. Quero me candidatar à vaga.

- Okay. Claro! Você trouxe seu currículo?

- Sim. Aqui está. - Ele me entregou um envelope pardo e o tomei em minhas mãos. Levaria para Emily olhar depois.

- Certo, então é só aguardar que poderemos entrar em contato para uma possível entrevista. Boa sorte.

Ele agradeceu e saiu. Eis aí um dos meus futuros problemas.

Levei o envelope para Emily, era ela quem ficava responsável por analisar os currículos que chegavam. Andávamos a procurar um subchef de cozinha para que estivesse no meu lugar quando eu precisasse sair, porém, a disponibilidade de pessoas com formação ou experiência suficiente para ocupar o cargo era bastante escassa na cidade.

Retornei à mesa de antes para me entreter novamente na elaboração do menu para aquele dia. Mal me sentei e estava sendo interrompida mais uma vez.

- Ainda não abrimos. É tão difícil assim entender a placa de 'fechado' do lado de fora da porta?

Ao levantar a cabeça para atender a pessoa que acabava de entrar no restaurante, acabei me surpreendendo ao ver Nicholas na minha frente. Eu não esperava encontrá-lo tão cedo depois do episódio da noite anterior. Nunca o tinha visto daquela forma. Nunca. Aquela foi a primeira vez, pois, até onde eu sabia, ele não se entregava tão facilmente à bebida daquela maneira.

- Oi, (SeuNome)...

- Oi, Nicholas. - Me levantei e segui até ele enquanto estendia a mão para que este a apertasse em cumprimento, o que ele rapidamente fez. - Como você está?

- Bem, muito bem. Quanto a você?

- Bem, também. Ainda estou tentando me adaptar à mudança. Mudanças nunca são fáceis, não é? Mas estou bem. Logo eu me ajeito. - Sorri em sua direção e ele fez o mesmo, porém, se contendo bastante no ato de sorrir. - Então... Acredito que não esteja aqui somente para saber do meu bem estar, não é?

- Realmente. Eu queria me desculpar pela noite passada. Eu não me lembrava de nada quando acordei, mas Camila me contou hoje de manhã. - Nicholas levou a mão à nuca e abaixou a cabeça enquanto mantinha os olhos em mim. Estava visivelmente envergonhado.

Ao ouvir seu pedido de desculpa, em momento algum eu quis saber por qual razão ele havia bebido tanto na noite anterior. Ele não me interessava, pelo menos, não mais. Ao tê-lo em minha frente, eu enxergava ainda mais nitidamente o contraste entre ele e a esposa: ele era um grandalhão de braços largos, queimado de sol, mãos grossas e ásperas e não ligava muito em usar vestes melhor apresentáveis - geralmente o via com as roupas do serviço - e tinha um jeito grotesco e bruto nos modos: exagerava nos movimentos com as mãos, pisava forte e duro, falava curto e grosso, além de que, o único conhecimento que realmente guardou para si, excluindo o do curso de agronomia, era o que a experiência de vida lhe proporcionara. Era um homem que dificilmente mostrava alguma sensibilidade ou emoção. Em resumo: era um verdadeiro ogro na pele de homem.

Sete (Camila/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora