Capítulo VIII

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"Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.

(...)

Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim.

(...)

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."

- Trechos de Felicidade Clandestina, Clarice Lispector.

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》 (SeuNome)

Estava colocando o carro na rua quando o veículo do casal McDermott mais jovem, isto é, Gregory e sua esposa Ana, estacionou logo atrás, o que acabou dificultando que eu manobrasse o carro. No entanto, eu não iria pedir nenhum favor ao homem para que deixasse a área livre para mim, preferi apostar nas minhas habilidades de fazer baliza.

Enquanto manobrava o carro, tive um breve vislumbre de Emily que estava agachada de frente para um garoto. Era o filho caçula do casal, Gustave. O garoto tinha cinco anos, tinha o cabelo penteado para lado, os pequenos olhos eram castanhos, tinha um par de bochechas vermelhas e gordas que esmagavam seu olhos pequenos da mesma forma que acontecia no rosto do avô e, naquele momento, enquanto Emily provavelmente dizia o quão fofo ele era, o menino comia um enorme algodão doce. Futuramente seria tão gordo quanto o pai e talvez mais do que o avô.

Ao deixar o carro paralelo ao passeio, deixei o veículo e me juntei a minha esposa, porém, sem dar atenção ao garoto. Enquanto isso, o Sr. McDermott, o avô, ia até o nosso encontro.

- Bom dia, senhoras Werner.

- Bom dia. - Emily e eu respondemos juntas, no entanto, ela ignorou a presença do homem depois de responder ao cumprimento.

- Vejo que ela gosta de crianças! - Ele abriu um sorriso com sua boca pequena coberta pelo bigode.

- Sim, ela gosta. Quem não gosta?

- Por que não adotam uma?

- É complicado. - Esquivei da pergunta.

A verdade era que não adotávamos uma criança porque Emily queria a todo custo, um filho de seu próprio sangue. Para mim, a questão sanguínea era a última coisa que importava, no entanto, para ela, essa, a adoção, era apenas a última opção. Seu medo era que não pudesse amar algo que veio de outra pessoa. Impossível! Emily sabia amar tudo sem esforço e de todas as formas. Seu amor era voluntário, não exigia nada em troca. Eu tinha total convicção de que ela saberia amar, porém, deixei que ela fizesse tudo em sua própria maneira.

- Vi que voltou tarde do trabalho ontem e que foi a senhorita Cabello que a trouxe em casa.

- Sim, ela estava no restaurante quando eu o fechei e acabou me oferecendo uma carona.

- Mas você não tinha fechado às dez? Por que só chegou às onze?

- Sr. McDermott, está um belo dia hoje, sabe qual a melhor coisa que o senhor pode fazer para aproveitar este belo dia? - Perguntei irônica e ele apenas negou com a cabeça. - Cuidar da sua vida. Emily, vamos!

Dei as costas ao homem. Sabia que tinha sido rude com um fornecedor do restaurante e sabia que essa minha fama iria rodar pela cidade, mas não me importei. Emily nao hesitou e fez o que pedi. Seguimos ao trabalho.

A primeira coisa a ser feita naquela manhã era entrevistar o rapaz que Emily tinha me indicado para ocupar a vaga de subchef. Eu o estava esperando na sala dela enquanto lia o currículo dele. Realmente, ele tinha bastante aptidão para assumir o cargo apesar de tão jovem, pois não passava de um garoto de 21 anos.

Sete (Camila/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora