Capítulo XLVI

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“And you're probably with that blonde girl (E você provavelmente está com aquela garota loira)
Who always made me doubt (Que sempre me fez duvidar)
She's so much older than me (Ela é muito mais velha que eu)
She's everything I'm insecure about (Ela é tudo aquilo que me deixa insegura)
Yeah, today I drove through the suburbs (Sim, hoje eu dirigi pelos subúrbios)
'Cause how could I ever love someone else? (Porque, como eu poderia amar outra pessoa?)” 
Drivers License - Olivia Rodrigo

OBS: Para quem conhece ou não, essa será a música que toca no carro em que a personagem está. Para quem não conhece, vale à pena conhecer, é uma canção interessante e eu sinto muito se, por algum motivo, como aconteceu comigo, te lembrar de alguém que você gostaria de esquecer.

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A cada manhã, a cada amanhã, eu me desfaço, mas me deixo em minúsculos e infinitos pedaços ao longo da vida daqueles que conheço a cada instante que passo e, por isso, eu me desfaço. Mas tudo bem, eu me desfaço, pedaço por pedaço, porque sei que permaneço na inconstância do tempo me tornando memória e passado. 

- "Red lights, stop signs, I still see your face in the white cars…" - Cantarolo baixo para mim mesma enquanto dirijo até em casa. 

Deixo o carro na rua mesmo, pois a entrada em casa é apenas para deixar as compras que havia feito no mercado. Tomo o cuidado de guardar ao menos todas as verduras e frutas na geladeira e, devido ao atraso para o compromisso que tinha, deixo os demais produtos nas sacolas mesmo.

Saio às pressas de casa, cruzo o quintal, mas antes, apesar do atraso, decido trocar algumas palavras com a simpática senhora Watson que varria vagarosamente seu passeio.

- Olá, senhora Watson. Tudo bem? 

- Oh! Olá, mocinha! Sim, tudo indo muito bem! Só estou dando uma limpada no passeio antes que meus filhos cheguem. É aniversário do mais velho e vamos fazer uma festa surpresa para ele. Aliás, você está convidada. 

- Oras, agradeço o convite, mas eu estou voltando para Miami hoje à noite. Mas espero que tenham uma boa festa. 

A senhora apenas sorriu. Gostava muito dela, pois era uma senhora muito agradável e que contava boas histórias da sua juventude. Além disso, era muito caridosa, gostava de ajudar as pessoas. 

Me despedi e entrei no carro e ali, no espaço interno daquela lata, a mesma canção se repetia inúmeras vezes. 

- "Sidewalks we cross, I still hear your voice in the traffic…" - Voltei a cantarolar enquanto dirigia e, vez ou outra, batia os dedos sobre o volante.

Mais à frente o sinal estava vermelho e tive de parar o carro. É bastante comum em alguns lugares que haja pessoas pedindo dinheiro, vendendo coisas ou fazendo apresentações nos faróis de trânsito e ali estavam um rapaz e uma moça, os quais eu conhecia por nome, mas não tínhamos um relacionamento. Era Vicent e Julliet, ambos vendendo balas para conseguir dinheiro para poderem se casar e construírem sua família. Via-se de longe que ambos eram humildes o suficiente para trabalhar em um emprego que, mesmo não sendo dos melhores, era digno. Não havia vaidade nem orgulho para ser exposto acima das demais pessoas como fazem aqueles ricos esnobes, mas havia orgulho em trabalhar e correr atrás do que queriam, apesar das dificuldades.

- Hey, senhorita! Uma ajuda a este simpático casal?! - Vicent veio gracejando até minha janela. 

Comprei algumas balas do casal que soou bastante agradecido. Dali segui meu caminho e, mais à frente, em uma praça, eu via o senhor Young, pai de Julliet, trabalhando em sua humilde banca de jornal, local de onde tirava o rendimento da família e tentava juntar um dinheiro para ajudar o casal. Era um bom homem que, junto de sua esposa, apesar de não terem muitas posses, tentava tirar das ruas e auxiliar crianças e jovens mulheres, principalmente aquelas que houvessem passado por situações de abuso. Era um bom homem, afinal.

Sete (Camila/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora