Primeiras Vítimas

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Agustina Palma


-Até que são bonitos - murmurei para mim mesma enquanto via alguns brincos pela vitrine de uma loja.

Uma vendedora pareceu me notar do lado de dentro da loja e deu um sorriso convidativo para mim, como se quisesse me tentar ainda mais com a ideia de: "além de você puder levar algo que queira, também receberá um bom atendimento". Bom, eu teria de recusar a oferta dessa vez, até porque eu não estava no shopping para fazer compras, mas sim por causa do ar-condicionado que era uma rota de escape do calor infernal do verão. Me perguntava como Buenos Aires estava tão quente, sendo que normalmente as noites veraneais são mais frescas.

Retribuí o sorriso da vendedora por educação e senti um pouco de pena ao me virar para a esquerda e seguir com o meu caminho pelo extenso corredor do shopping. Não gostava de dar falsas esperanças às pessoas, mas o que eu poderia fazer sendo que eu não tinha mais do que alguns pesos no bolso? Aquilo não deveria pagar nem mesmo o mais barato dos lanches para mim.

De qualquer maneira, era mais fácil eu me distrair em um shopping do que em um passeio pelas ruas. Ver os itens dispostos nas vitrines das mais diversas lojas, procurar por alguma nova atração e estar ciente dos novos filmes no cinema afastavam pensamentos que tiravam a minha paz interior. Me perguntava se Gabriella e Rhener já teriam feito sua primeira jogada, ou se só estavam nesse silêncio por ainda estarem esperando pela oportunidade para fazerem as primeiras vítimas, ou então tivessem desistido do desafio e só não haviam comunicado ninguém para não entrarem em encrenca com quem estava de acordo, mas custava dar um sinal de vida? Morreriam se o fizessem?

Acho que o que mais me incomodava era o fato deles terem - literalmente - desaparecido das redes sociais. Quer dizer, não é 'pra tanto, já que percebo os dois online em alguns momentos do dia, mas não havia atualização alguma de status ou de stories, nem mesmo respondiam as mensagens dos grupos.

Isso tudo me afligia, então nada melhor do que distrair a cabeça com uma saída de casa, não é mesmo?

Para aproveitar meu tempo sem preocupações, havia avisado no grupo que eu estaria fora por esta noite e deixei o celular em casa, o que me deixava completamente alheia ao horário. Por sorte, mesmo que eu saísse daqui no momento em que o shopping estivesse para fechar, eu não estava muito longe de casa, ou seja, menos uma preocupação para minha mente "problemática".

Só espero que minha "sorte" não colabore para que eu encontre algum conhecido - principalmente alguém do meu grupo de amigos - por aqui, até porque com minhas experiências de vida, sei que darão um jeito de entrar em algum assunto que me causa certo desconforto, sendo que estou aqui justamente para fugir disso por hora.

-Papai, eu não consigo encontrar!

Uma voz infantil interrompeu a minha linha de raciocínio. Diminui o ritmo da caminhada para olhar para uma garotinha que andava de um lado para o outro, olhando fixamente para o chão. Um homem fazia exatamente o mesmo que a menina, enquanto que uma jovem mulher parava algumas pessoas para perguntar algo.

Eu não fazia ideia do que estavam procurando, então eu continuaria seguindo com o meu rumo me mantendo atenta. Se eu encontrasse algo caído, pegaria e devolveria, mas se não, eu não teria o que fazer.

Como se o destino tivesse me preparado uma surpresa, senti algo bater em meu calcanhar, algo que não era o pé de alguém. Olhei para trás e percebi que uma bolinha rosa rolava pelo chão em direção a outro pé.

Claro que tinha que ser uma bolinha, e não algo que ficasse inerte facilmente!

Parei de andar apenas para começar a seguir aquela pequena esfera, tentando em vão chegar nela antes que fosse chutada para outro lado. Bufei e mudei o meu curso novamente para tentar pegá-la. Por que eu tinha de ter escutado o que a garotinha dissera? Agora eu estava "compromissada" a devolver aquele brinquedinho a ela, pelo menos, era como eu me sentia.

O Desafio dos 30 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora