Giulia Guerrini
Tédio. Era isso o que mais me atormentava naquela hora de início de tarde: o mais puro, torturante e agonizante tédio. Eu podia estar fazendo mil e uma coisas mais úteis, mas depois de dias usando de toda a minha animação para preparar a festa surpresa de Isabela - que, inclusive, havia saído há pouco dizendo que estava indo ver André e que não tinha hora para voltar -, minha força de vontade havia sido tão reduzida que eu tinha preguiça até de colocar os pés no chão e me levantar do sofá.
Por conta disso, eu me mantinha deitada, com as pernas jogadas sobre o encosto do sofá enquanto eu tentava encontrar algo de interessante no Instagram, algo tão interessante que trouxesse de volta nem que uma pequena porcentagem do meu ânimo. Eu detestava ficar assim: jogada num canto qualquer, com tantas outras coisas mais interessantes ou importantes para serem feitas, porém me sentindo como se estivesse esgotada, sem ter um motivo real para isso, não que eu saiba.
Agustina estava metida dentro do quarto, lendo alegremente algum livro de sua estante - a qual eu gostava de chamar de "biblioteca particular" -, ou seja, isso significava um belo de um "não perturbe, ou lide com meu mau humor". Sem ela, eu estava por conta própria na tarefa de me reanimar, por mais que eu não tenha ideia de como eu faria isso.
Antes que eu conseguisse passar mais algum tempo naquele meu conflito interno, a campainha tocou. Grunhi, me obrigando a sentar-me para me levantar, me perguntando quem raios seria. Não teria como ser a Isa, já que ela continha a cópia das chaves, então quem?
Numa má vontade impressionante, me pus de pé no chão da sala, me encaminhando para a cozinha para que eu pudesse pegar a chave sobre a bancada.
No meio do caminho, a campainha tocou mais duas vezes. Que ótimo, como eu amo gente impaciente no meu humor atual!
-Já vai! - gritei, capturando o molho de chaves com minha mão direita e procurando pela correta com a outra.
Ao chegar na porta, a campainha foi tocada mais uma vez, me fazendo cerrar os olhos e respirar profundamente.
Quando destranquei a porta, abri bruscamente, descontando minha raiva no movimento e me exaltando em seguida:
-Mas que desgraça! Não sabe o que é ter paciên...?
Me calei ao encontrar aqueles olhos azuis intensos e irritantes com meu olhar. Guido Messina estava na frente da porta de casa com uma cara não muito boa, segurando uma pequena gaiola onde eu sabia que Mittens estava por escutar um miado seu. Se eu o conhecesse bem, eu diria que estava angustiado por causa de sua inquietação e impaciência, mas vai saber o que se passa na cabeça desse idiota!
-Giulia, eu preciso que você cuide da Mittens, por favor.
Pisquei algumas vezes, processando suas palavras. Espera, o quê? O mesmo palerma que estava falando dias atrás sobre dar um gato para mim ao invés de deixar sua gata passar um tempo aqui em casa, estava agora me pedindo para cuidar dela!?
Que mundo maluco, não?
-Espera, como assim? - perguntei curiosa, pegando a gaiolinha que ele havia estendido para mim.
-A casa de vocês fica a caminho do hospital. Não tenho tempo para explicar - disse rapidamente, descendo as escadas logo após e correndo em direção ao seu carro que estava ligado. Arregalei os olhos, surpresa com o que ele havia dito.
-Hospital? O que aconteceu!? - soltei a caixa de plástico que eu segurava no chão, pulando o breve lance de escadas e me dirigindo a ele, que trazia uma sacola com as coisas da felina nos braços.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Desafio dos 30 Dias
FanfictionAmizades que duram desde a época escolar, boa convivência e férias para os que estão na faculdade. O que seria necessário para agitar a relação desse grupo de amigos? Eis a resposta: um reencontro marcado, um filme clichê e um desafio que duraria po...