General Arguelles

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Esteban Velásquez

-Deseja algo a mais?

Desviei o olhar da tela do celular para a jovem mulher ao meu lado, que deixava meu segundo pedido sobre a mesa. Dei um sorriso amigável e a respondi oralmente:

-Não, senhorita Victoria. Obrigado pelo bom atendimento!

Ela retribuiu o meu sorriso desconcertada, provavelmente por eu tê-la chamado pelo nome - que estava gravado em uma plaquinha presa em seu uniforme - e ainda elogiado seu serviço. Imagino que não é comum uma garçonete receber tal tratamento de um cliente no local de trabalho.

Quando ela se afastou e se escorou no balcão para conversar com a atendente, voltei minha atenção para o aparelho eletrônico, visualizando algumas mensagens que haviam me enviado pela madrugada. Eu sentia o sono bater em minha porta por eu ter acordado um pouco antes do sol nascer para que eu e Julia pudéssemos cumprir com o planejado: visitar o seu tio e convencê-lo de emprestar a quitanda que possuía antes que o mesmo a abrisse para mais um dia de trabalho. Essa tarefa era essencial, pois sem ela, teríamos de ir em busca de outro lugar o mais rápido possível. Por causa disso, as horas que tive para dormir foram escassas. Gostaria de que a loira italiana tivesse avisado com antecedência, assim eu e Julia não precisaríamos fazer uma mudança drástica em nosso horário de sono após conversarmos sobre o que faríamos.

Mas meus pensamentos logo se perderam quando vi uma garota em específico abrir a porta da lanchonete. Sorri ao visualizar a figura aparentemente exausta de Julia, que, assim como eu, tinha olheiras marcadas abaixo das pálpebras inferiores. Ela me buscou com o olhar e quando me encontrou, se aproximou com uma carranca bem presente em sua face.

-Bom dia, bela adormecida - cumprimentei em um tom divertido, bloqueando a tela do celular e o deixando sobre a superfície de madeira da mesa.

-Já pensou em ganhar a vida sendo o despertador irritante das pessoas? Se você me fizesse mais uma ligação, eu juro que te afogaria no mar!

-Deixou o senso de humor em casa, Juh?

Ela me mostrou o dedo do meio e se sentou logo em seguida. Eu ri como se não temesse por minha vida.

-Isso é para mim? - seu olhar curioso substituiu a expressão fechada ao apontar para o prato contendo um pão quentinho, recheado de frios, e uma xícara de café com leite fumegante, ou melhor, leite com café.

-E para quem mais seria?

-Meu Deus! Obrigada por ter colocado um pouco de juízo nesse garoto! - ela apontou para mim transparecendo felicidade, como se presenciasse um dos maiores milagres da vida.

-Viu? Não sou tão irritante assim.

Não houve resposta, preferindo dar atenção à bebida na sua frente do que no que eu havia dito. Um sorriso maldoso se ocupou de meus lábios discretamente quando a vi aproximar a xícara dos lábios, como se eu tivesse colocado algum veneno no líquido e estivesse prestes a presenciar a morte de meu pior inimigo. E quando ela deu o primeiro gole, não demorou para que uma careta desgostosa se ocupasse de seu rosto e minha gargalhada tomasse conta do local, chamando a atenção das únicas pessoas presentes - que no caso, eram a garçonete e a atendente.

-Desgraçado! Você pediu com canela de propósito! Eu vou te matar Esteban!

Eu não me importei se eu estava sendo escandaloso demais antes das sete da manhã, eu ri e ri com gosto.

Se fosse com outra pessoa, talvez ela ficasse chateada, o que talvez me fizesse perceber que havia sido um erro, mas não com Julia. A Arguelles não conseguiu manter a cara fechada por muito mais tempo, logo se rendendo ao contágio do riso.

O Desafio dos 30 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora