Bancar o Santo

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Julia Arguelles


A noite em Buenos Aires estava realmente agradável, por mais que o calor deixasse a sua marca na cidade. Eu diria que era o momento perfeito para se acomodar em casa com a presença de um ventilador ou  ar-condicionado, ou então para ir a uma sorveteria com os amigos, ou simplesmente para dar um curto passeio pelas ruas da cidade. No meu caso, preferi visitar a praia, onde eu poderia submergir os pés na água gelada do mar, curtir a brisa não muito perceptível do local e ainda por cima gravar uma bela paisagem na memória, seja ela a da cabeça ou do celular.

Mas antes que eu me encaminhasse para o lugar que agora estou, aderi a ideia de chamar, ou melhor, arrastar alguém comigo. Nessas horas, Andrea de Alba deve "amar" ser justamente a amiga que mora mais perto de minha casa.

-Você poderia ter entrado em casa ao invés de me trazer aqui. Maratonar uma série não é tão ruim assim - resmungou a mexicana ao meu lado que, assim como eu, levava o par de chinelos nas mãos. A única diferença era que meus pés se moviam com leveza pela água, enquanto ela dava chutes fracos para se locomover por ela.

-Você fala como se detestasse andar na praia de noite quando não está tão movimentada - comentei com um sorriso no rosto. - Não é tão ruim assim ter seus planos atrapalhados por mim, Andrea! Pense pelo lado bom: você tem a companhia perfeita para o restante da noite.

Ela revirou os olhos, mas logo um sorriso um tanto maldoso se ocupou de seus lábios bem desenhados.

-Realmente devo te agradecer por fazer o mar de meu acompanhante. Ele sim é a companhia perfeita!

A olhei indignada e fiz um movimento brusco com o pé, jogando assim alguns grossos respingos da água salgada na morena, que foi atingida da barriga para baixo.

-Ei!

Ela não deixou passar barato e logo revidou o meu ato. Estava prestes a fazer o ciclo se repetir, contudo meus braços foram agarrados antes que eu cometesse o ato e fui ameaçada de ser jogada no mar.

-Andrea, não! Eu parei! Eu me rendo! - implorei, quase tropeçando pela forma repentina a qual ela havia me puxado para o lado.

Percebi um sorriso "inocente" adornar o seu rosto e em seguida ela me soltou, me dando a oportunidade de recuperar o equilíbrio. A encarei com uma expressão fechada, mas não consegui mantê-la por muito mais tempo, já que a vontade de rir da situação foi maior. Talvez não fosse adequado rir do quase próprio desastre, mas não pude evitar. No nosso grupo de amigos, eu era o típico caso que sentia uma vontade insana de rir em ocasiões nem um pouco adequadas, pelo menos, era assim na maioria das vezes. Me lembro até hoje da vez em que levei Isabela e uma outra garota para a diretoria, afinal, um riso leva a outro. No quesito controle, eu certamente reprovaria.

-Louca! - exclamei ainda rindo.

-Se eu sou louca, tenho medo de descobrir em que nível você está. Ainda é tarde para ligar para um hospital psiquiátrico?

-Um pouco, ainda mais se levarmos em conta que não seria eu a sair menos louca de lá.

-Nesse caso, acho que os médicos te expulsariam do local no mesmo dia.

-Qual é, eu não sou tão insuportável assim!

Andrea me encarou fixamente, arqueando as sobrancelhas para dar ênfase no tanto que "acreditava" nas minhas palavras.

O Desafio dos 30 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora