Vossa Majestade

281 37 396
                                    

Alan Madanes


6:27

Quando eu vi essa numeração no relógio de pulso, só pude pensar no quanto "acordar tarde" não era uma das definições de férias, infelizmente. Não estava acreditando que eu havia acordado tão cedo para ir na casa de Julio, pegar alguns itens da festa da Isa que estavam com ele. Se não fosse por esse compromisso, eu não teria topado ocupar logo o primeiro turno na quitanda do avô da Julia, ou seria primo? Talvez um tio? Bom, descobriria quando chegasse lá, já que não prestara muita atenção nesse detalhe nas mensagens que haviam enviado.

Assim que o elevador parou, esperei por alguns segundos até que as portas metálicas se abrissem no terceiro andar. Quando aconteceu, sem mais delongas, saí do elevador. Torcia para que um pouco mais de movimentação retirasse o sono e a preguiça que residiam em meu corpo, assim eu poderia estar mais desperto no momento do "trabalho" que Esteban havia nos metido.

Apartamento número 34.

Olhei para a numeração da porta e logo aproximei o dedo da campainha, mas se eu iria simplesmente apertá-la? Claro que não!

Tan, tananana na, tan tan!

Pelo que eu me recordava, esse era o ritmo da musiquinha "irritante" - em alguns pontos de vista - que antigamente era usada pelo grupo quando se queria atenção exclusiva. No entanto, eu não deixaria essa lembrança ser esquecida de nosso meio, não tão cedo.

Escutei o girar da chave na fechadura e troquei a perna de apoio, ansioso para ver meu brother, que estava mais para nosso brother quando colocado no contexto do grupo inteiro.

-E aí Alan! - Julio me cumprimentou, num sorriso.

-Fala parça!

Fizemos um toque - inventado por mim - antes que eu entrasse em seu lar, ou como eu gosto de chamar, "apartamento de luxo". Fala sério, quem não queria ter uma casa como a do Julio? Ainda mais quando se é o próprio decorador dela em questão de quadros e mais algumas coisinhas. São nesses momentos que eu sentia um pinguinho de inveja por seu talento artístico.

-Como anda? - perguntou enquanto fechava a porta, sem trancar desta vez.

-'Tô tranquilo, 'tô favorável, apesar da leseira do sono. Vem cá, você não 'tá nem um pouco cansado?

-Como você mesmo disse, 'tô tranquilo, 'tô favorável.

-Às vezes esqueço que você é um ET espacial que veio parar na Terra. Não sei que tipo de ser humano consegue manter uma rotina nas férias - comentei, me dirigindo para o sofá e jogando-me contra o seu estofado.

-Um ser humano que preza pela saúde e evita a tortura de se reacostumar com o horário no início das aulas.

-Prezar pela saúde? Só se for na parte do sono, porque você é uma decepção quando se trata de não se arriscar. De onde você tirou aquela ideia de aparecer de camiseta no meio do inverno?

Ele riu, passando a caminhar em direção ao seu quarto.

-Não 'tava muito frio no dia.

-Não 'tava muito frio? O André foi com duas blusas e queria mais uma!

-Em minha defesa, ele cresceu em um país tropical e ele mesmo já disse que não fazia tanto frio durante o inverno onde ele morava.

Eu tinha uma resposta na ponta da língua, mas decidi poupá-lo quando o vi surgir com algo um tanto grande nas mãos, deixando encostado no sofá ao se aproximar.

O Desafio dos 30 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora