Efeito Nulo

234 24 352
                                    

Julia Arguelles

-Eu não acredito - murmurei descrente, encarando quem estava à minha frente.

-Pois acredite, pois seus olhos não mentem - Andrea soprou em meu ouvido, estando logo atrás de mim. Eu conseguia até mesmo sentir seu olhar satisfatório e sorriso presunçoso formados em seu rosto.

Se eu soubesse, pensaria duas vezes antes de vir perturbar a mexicana.

Já havia se passado um dia desde a tão esperada festa surpresa de Isabela. Havia acordado um pouco depois do meio-dia, recebendo belíssimas mensagens de carinho do meu tio, que havia descoberto o banquinho com a perna torta escondido no estoque. Se não fosse pela cena de André caindo, o grito de Agustina - que era a única que o observava no momento - e Rhener sendo sua salvação por um triz, eu diria que não teria valido a pena levar bronca.

De qualquer maneira, o ponto não é esse, e sim que, pelo meu cansaço depois do aniversário e falta de vontade em fazer qualquer coisa por conta própria, recorri à minha última opção: Andrea de Alba.

Claro, minha intenção ao chegar em sua casa não era ser a chata da relação, isso vem de brinde, mas eu realmente gostaria de passar um tempo com ela. Os últimos dias haviam sido tão corridos com os preparativos que mal tivemos tempo de conversarmos uma com a outra. Portanto, que mal haveria em visitá-la nesse final de tarde?

Contudo, eu só não contava que, ao avisá-la que eu estava vindo, ela faria uma coisa, ou melhor, convidaria alguém:

-Boa tarde, meninas! - Esteban cumprimentou num tom alegre, fingindo inocência. Pensa que me engana, só pensa! - Faz tanto tempo que não venho aqui que quase confundi a casa, mas sabe, tem uma coisa que é inconfundível...

-E o que é? - a morena deu um passo à frente, se posicionando ao meu lado. Outra que pensava que me enganava com seu "brilho de curiosidade" nos olhos.

-O melhor bom humor de Buenos Aires: o de... - fez um breve suspense. - Julia Arguelles! - apontou para mim com ambas as mãos numa encenação patética, eu diria.

-Não creio! E eu tenho a honra de ter essa pessoa em minha própria casa!? - Andrea complementou, cobrindo a boca com as mãos e expressando surpresa ao me encarar.

-Pode apostar! Quão sortudos somos não?! - como se estivesse apresentando em programa infantil, o Velásquez cruzou os braços sobre o peito e sorriu abertamente, fitando-me com um brilho jovial no olhar.

-Demais! Mal consigo conter a emoção!

Enquanto isso, eu fiquei de cara fechada durante toda a encenação barata, intercalando entre encarar tediosamente os dois patetas e pensar o quão ridículos eles eram.

-Os holofotes se apagaram ou ainda estamos apresentando? - questionei num tom irônico, cruzando meus braços e revirando os olhos de maneira que deixasse bem claro o que eu achava de toda aquela "zoeira" desnecessária. Aquilo era um absurdo com minha pessoa!

Como resposta, os dois caíram na gargalhada, fazendo com que eu revirasse meus olhos mais uma vez, mas não resisti ao sorriso que veio logo em seguida. Tudo bem, eles são dois idiotas, mas são dois idiotas que eu amo.

-Qual é, essa foi boa, vai!

-Boa para pagar mico, isso sim! - respondi ao rapaz com o meu melhor sorriso debochado.

-Só diz isso porque seria a sua cara estampada nas manchetes! Sério, eu devia ter tirado uma foto - Andrea acrescentou num ar convencido e Esteban assentiu em concordância.

-Agradeço pelo "devia", porque conseguir não conseguiu - pisquei, levando meus dedos aos lábios e mandando um beijinho para ela no ar.

O que foi? Eu também tinha o direito de me divertir!

O Desafio dos 30 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora