Ódio

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Havia andado pelo quartel pelo menos umas 10 vezes hoje. Procurei pelos meninos e por Ah-ri, mas não havia sequer um sinal deles. Havia permanecido próximo ao quartel, aonde escutava durante a noite vários estralos e gritos de dor. Soldados que foram abatidos e se tornaram essas coisas.

Não podia ficar ali. Tinha que ir embora.

Mas não conseguia.

Por dois pontos, primeiro, minha perna.

Segundo, eu ainda tinha esperança de que eles estão nesse quartel em alguma porra de lugar.

Era a quarta noite que eu estava ali. Não havia conseguido dormir, estava apavorada. Não sabia que era aquela coisa que invadiu o quartel. Era assustador me sentir abandonada novamente.

Havia conseguido chegar ao arsenal e estava com muitos mantimentos, o que ajudaria por um ano.

- Quero ir embora...- Sussurrei baixo para a foto que havíamos tirado há algumas semanas. - A onde é que vocês estão...?

Disse com os olhos lacrimejados, pensando em como encontraria eles. Até que notei algo no meu dormitório. A luz está acesa... Tem energia!

- Burra, como não viu isso antes?? - Falei um pouco mais alto, e escutei algo correndo pelo corredor. - Merda...

Peguei a escopeta rapidamente, recarregando a arma e apontando para a porta. Segurei a respiração por alguns instantes, prendendo o ar completamente. Esperei alguns minutos, até ouvir a correria ir para o outro lado do quartel. Soltei o ar, calmamente, e olhei para o meu quarto. E pensei em algo. 

Todo alojamento, tem um kit de comunicação. Muitas vezes são rádios, ou tablets militares, e até as vezes computadores móveis. E a maioria dos caminhões, caminhonetes e jeeps militares, tem rastreadores. 

Olho calmamente embaixo da cama, onde encontro o compartimento onde há os materiais. Puxo para fora, onde abro quase quebrando o conteúdo.

- Por favor, que tenha alguma coisa... - Fecho os olhos, quando abro o notebook, esperando a luz azul dele, incomodar meus olhos. E incomoda. - Tente se lembrar... O dia...

Começo a abrir o histórico de gravação de câmeras, procurando o momento exato que os meninos foram vistos pela última vez. Abro no sistema, e vejo que deram saída em um caminhão de suprimentos. Clico no vídeo da garagem, onde pego todos eles, junto de Ah-ri e Sunmi.

Eles fugiram.

Eles não se preocuparam comigo.

Nem vieram atrás de mim.

Fecho os olhos, fortemente, segurando as lágrimas e notando meu rosto esquentar. Me abandonaram, como Javier me abandonou, como minha mãe me abandonou.

Todos são sozinhos afinal, né?

Pego uma mala cheia de roupas, mantimentos e munição. Respiro fundo. Pego meus analgésicos, o que estava ficando em falta. Pego as peças de manutenção da perna robótica, e saio pela janela.

Mantinha uma mini metralhadora próximo ao meu peito, sentindo mais e mais lágrimas descer pelas minhas bochechas, e meu rosto arder. Sentindo o ar preso na minha garganta, gigante vontade de gritar essa minha. Vou na parte da frente vendo uma caminhonete, com um zumbi no banco do motorista. Pego a faca e enfio em sua cabeça, abrindo a porta em seguida, vendo o corpo caindo no chão se desmontando.

Jogo as mochilas dentro da caminhonete, entrando em seguida.

- Hora de voltar ao objetivo original. Achar uma fazenda, e ficar longe das cidades.

Ligo o motor, vendo que tinha bastante gasolina. Suspiro fundo, pegando a foto deles.

- Nunca mais. - Pego a foto, puxando ela de lados opostos, começando um rasgo pequeno. - Nunca mais mesmo.

O rasgo é feito.

Jogo os pedaços da foto pela janela, e em seguida começo a dirigir.

_-_-_-_

Dias depois.

Havia estacionado a caminhonete, para ver se conseguia alguma gasolina. Precisava chegar ao sul, onde tinham algumas fazendas remotas.

Andava com um galão e mangueira, abrindo alguns carros. Mantinha a cabeça abaixada, ainda abalada.

E com raiva.

Ninguém merece perdão.

Nem amor, nem compaixão.

Só muita dor e sofrimento. Coisa que havia sentido na própria pele. Minha perna robótica estava ótima, não precisava de reparos à dias.

- Hey. - Digo ao ver algo fuxicando embaixo de um carro. Vendo que era uma coisa branca. - Pera eu reconheço essa branquela...

Vendo a bola de pelo branca correndo em minha direção.

Meu sorriso se torna largo quando vejo ela.

- Alasca! - Me agacho, sentindo as lambidas dela em meu rosto, e a abraço. - Lindona, por onde você andou??? Comeu porcaria nenhuma não né?

Lambendo meu rosto, ela se senta em cima de minha coxa, deixando meu rosto mais e mais molhado. Passo a mão em seu corpo, notando que ela estava bem alimentada e cuidada.

- Alasca? - Escuto uma voz irritante.

Olho mais pra frente, preparando a pistola. Noto quem era, e mantenho a mira.

- Sun? Está viva? - Dizia o homem.

- Não, magina. Sou um zumbi que agora faz carinho na MINHA cachorra. - Digo sarcástica. - Deveria ter desejado ter morrido, Jay.

- Calma, Sun. - Ele dizia. - Peço perdão. Quero trégua entre nós, por favor.

- Suas amiguinhas me fizeram perder a porra da perna, Jay. Deveria fazer você perder o pinto! - Grito.

- Olha, aqui não é seguro... Por favor, nunca quis ser uma má pessoa... Venha comigo, conheci um grupo.

- Não ligo mais pra porcarias de grupos. - Respondo, irritada. - Nunca mais, Jay!

- Venha, comigo. - Ele dizia se aproximando.

Dou um tiro de aviso.

- Sai de perto de mim, agora.

Levanto me, calmamente, me apoiando em Alasca, que mantinha a posição de ataque. Havia treinado ela bem.

- Que porra, SUN! Tô querendo me redimir com você!

- Se redime com Deus, sobre a porra de teus pecados. - Aviso. - Não chegue perto de mim, nem de Alasca, tá entendendo?!

Começo a andar pra trás, mantendo a mira presa em Jay. Mas ao virar meu rosto, vejo um cano de arma apontado para meu rosto. Assusto, desarmando a pessoa atrás de mim.

- Qual é, Senhorita S/n... Você sempre conseguiu me desarmar! - Olho mais calmamente.

- Sehun?

Our Guardian - IMAGINE BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora