Em um barracão pouco iluminado, varias silhuetas agasalhadas se aglomeravam ao redor de uma caixa de madeira grande, que no momento servia de mesa, com um lampião que emitia uma luz bruxuleante e um mapa de papel. As pessoas conversavam entre sim, quase em total escuridão. A ponta dos cigarros emitiam uma suave luz, que ao ser tragado, intensificava, revelando por um breve momento, mais detalhe do rosto de que estava fumando. Já se passara varias horas desde que o sol havia se pondo.
- Vamos iniciar nossa reunião, quem não chegou ainda, está fora.
Sentenciou um homem que segurava seu cigarro com os lábios, enquanto com as mãos mantinha o mapa aberto e o estudava.
- Ainda acho que deveríamos esperar o Fantasma, Roger. Ele sempre é de grande ajuda. E depois da crise viral no oriente, toda ajuda ainda é pouco. Não sabemos, se seremos afetados diretamente nessa crise. Mas antes de qualquer coisa, devemos utilizar esse cenário a nosso favor. Nunca importamos equipamento da China, por preços tão baixos.
Quem dirigia a palavra ao homem com o mapa nas mãos era o mais velho das pessoas que estavam ali, passara da hora de se aposentar.
- É sempre assim. O Fantasma acha que é o cara, chega quando quer, me desrespeita e sai sempre impune pois tem umas habilidades legais! Já estou farto de sua rebeldia, e que se dane se ele é um bom soldado, tenho certeza que qualquer um aqui daria a vida pela causa assim como ele e resolveria qualquer problema com ou sem a ajuda daquele imbecil.
Roger sabia que precisava do soldado tanto quanto qualquer um presente ali sabia, mas dizia constantemente a todos que desprezava o integrante, tudo somente para murchar o ego do rapaz. Naquele momento a grande porta do barracão se abriu e clareou todo o recinto com a luz alta do farol de uma moto, surgindo então a silhueta negra de um homem com algo nas mãos.
- Eu que estou farto de sua insolência e de meus queridos companheiros, Roger.
- Fantasma!? Mas que porr...
Roger então percebeu que o objeto nas mãos do piloto era uma arma.
- Fantasma, Soldado, Imbecil... Vocês nunca se decidem como me chamar. Sabe por quê me chamam pelo apelido de fantasma?
- Abaixa a arma cara!
Dizia um homem gordo que que tremia enquanto tinha as mãos para o alto, com um masso de cigarros na mão direita. Agora com a luz no barracão, era possível ver caixas e mais caixas com madeiras de paletes empilhadas e um colete jeans sem nenhum patch ou estampa nas costas do homem gordo. Com a escopeta automática já carregada, o soldado disparou no centro do rosto do homem, que morreu na hora, tombando seu corpo gordo para trás enquanto seus braços se mantinham enrijecidos e com o masso ainda preso entre os dedos. Enquanto alguém gritava alguma coisa, houve o segundo disparo, dessa vez contra o lampião de querosene que explodiu, lançando chamas para todos os lados.
- Você enlouqueceu cara!
Gritou Roger enquanto ouvia uma sequencia de cinco disparos seguidos da arma de alto calibre, então tudo ficou em silencio, exceto o motor da motocicleta funcionando no lado de fora do barracão e os paços de alguém que se aproximava pisando em um piso poeirento, agora encharcado de sangue e restos de cranio e massa cinzenta e cefálica. Quando olhou por cima da caixa que estava escondido, viu a silhueta do assassino segurando a escopeta com uma mão, descansando o cano sobre o ombro, enquanto pitava um cachimbo.
- Só sobrou você Roger. Me conte para onde foi a mercadoria e talvez você viva mais um dia. Sabe o que acho engraçado em toda esse tempo que passamos juntos? Sempre que a policia estava em nossa cola, eles vinham atrás de mim. Por que sou um ex combatente? Não... Por que vocês me denunciavam e vocês, meus companheiros de assalto, plantavam falsas provas cotra mim. É engraçado, pois eram falsas provas, mas ainda assim não deixavam de ser verdadeiras. Eu sempre tive um pé atrás com tudo isso, só podia ser coincidência, mas no dia em que vi você entrar naquela viatura e ser solto três quarteirões da delegacia, sem um arranhão, então eu soube o que fazer. O cara que ouviu sua delação, teve a pior noite de sua vida, posso garantir.
- Você matou o Milton? Você matou... Era um rapaz novo, ele não tinha nada a ver com isso.
- Quieto! - Gritou exasperado - Fale para onde foi a mercadoria agora ou eu juro que sua morte será a pior de todos que morreram aqui hoje.
- Seu imprestável! Por isso você disse para não trazermos armas nas reuniões! Estava planejando isso o tempo todo.
- Não me subestime... Acha que não foi perfeito também encontrar esse barracão disponível para hoje a noite? Falando nisso, o desgraçado do Borges não veio hoje, era para ele estar aqui. Não importa, logo o encontrarei. Fala logo!
- F6! F6! F6...
Fantasma andando de costas, se aproximou do mapa, tirou um esqueiro do bolso e o acendeu, olhando para o homem que estava tremendo sentando no chão e ao mesmo tempo para o mapa, juntou as coordenadas e identificou no mapa onde era F6.
- Cidade de Nova Odessa hem... Quem imaginaria!? Fui o único que sobreviveu no meu pelotão, mas não por que o inimigo era implacável, mas por que se rebelaram contra mim por eu ter feito coisas imorais com os civis. Hoje, assim como seus amigos, todos do meu batalhão estão mortos. E agora chegou sua vez.Enquanto o assassino levantava a arma em direção a vitima desarmada, o fogo antes alimentado pelo querosene, ja tomava a maior parte das caixas de madeira e as labaredas ja lambiam o telhado. Duas pilhas despencaram em cima do Roger, em um misto de braza, fogo, fumaça clara e escura. Percebendo que ali já estava perigoso, Fantasma correu para sua moto, e acelerou. Em breve a policia e o corpo de bombeiros estriam ali, sem fazer ideia do que aconteceu ou quem fora o autor da chacina.

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Motoclub
AdventureNa cidade de Nova Odessa em São Paulo, ha um tipico bar de estrada, cheio de rock, motos customizada e fraternidade. Rafaela Eller, uma menina recém formada, vê o Moto Club de seu pai passar por dificuldades, então ela decide que é hora de agir, fa...