capitulo excluido

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♥♥♥Editado♥♥♥

**Rafaela Eller narrando**

       Durante as corridas que eu participava, a cada vitória era uma vibração só. O pessoal adorava me ver ganhar, dava de perceber isso. Por eu ser uma das raras garotas correndo nos "rachinhas" do festival, eu ganhava a torcida como brinde. Confesso que no inicio foi até fácil vencer. Os pilotos me viam e logo imaginava que eu não era um grande desafio, e novamente por eu ser garota, não queriam pegar pesado comigo. O que eles esqueciam de calcular, era que além de eu pesar apenas 55 kg, o que dava muita leveza para o motor de minha moto, era a filha de John Eller correndo, claro que aprendi com o melhor. Quando eu tinha meus dez anos, já estava, tão acostumadas a brinquedos de motocicletas e carrinhos clássicos, que no dia do meu aniversário, decapitei a primeira boneca que ganhei de uma tia, da parte de minha mãe. Realmente, não vi graça nenhuma em uma coisa molenga que me assustava com aqueles olhos de vidros. Foi desde então que percebi, que eu não era como as outras garotas. Castelinho de princesa, maquiagem rosa? Aquilo era tão infantil, preferia bem mais conversar com meu pai sobre assuntos mais empolgantes, como a sua oficina, quando eu poderia ter minha própria moto e quando ele me ensinaria a pilotar. Meu laser nos fins de semana que ele não estava em algum evento do MC era passear em sua garupa, tomar sorvete e ver o pessoal da minha escola olhando em minha direção. Meu pai era demais, mesmo eu sendo a mais anormal da classe, ninguém me provocava, pois meu pai botava medo neles sempre que ele ia me buscar depois da aula. Eu me sentia muito bem, sabendo que somente eu via o anjo que ele era por baixo de seus musculos, colete e tatuagem. Mas voltando a corrida, depois de ter ganho mais de cinco corridas consecutivas, o pessoal ia mais nervoso para a corrida, mesmo eu ganhando e fazendo o pessoal vibrar de alegria e o sarro que rolava entre os amigos, ninguém gostava de perder dinheiro. Alguns dobravam ou apostavam até R$ 200,00 , talvez pensando que me intimidaria, eu tava ali para correr e como já havia ganho a publicidade da loja do meu pai, mesmo eu perdendo, a corrida seria comentada, talvez fosse algo como:
- A filha do John venceu todas, saiu de la com o bolso cheio, aposto que ele mexeu na moto dela! Vou levar a minha moto na loja dele também!

Ou algo assim:

- Depois de vencer cinco corridas a filha do John perdeu tudo numa aposta grande. Sim a filha do John que tem aquela loja de motos em Nova Odessa.

De qualquer forma, além da diversão o que mandava era participar. 




No fim da tarde, depois de descansar, correr mais, e descansar novamente, perdi as contas de quantas venci e quantas perdi, mas lembro que sai com R$ 750,00. Dividido em vários bolsos de minha jaqueta. Acho que o que mais me motivou nessas corridas foi os gritos de meu pai, ele sem duvida era meu herói. Eu já havia bebido algumas cervejas, então correr mais seria perigoso, e eu não queria por a minha vida e a vida de outras pessoas em risco, sem responsabilidade, esportes que envolvem duas rodas se tornam perigosos. Então

tirei algumas fotos com o pessoal que ali estavam, isso fazia eu me sentir tão bem, não sei se era por conta dos rachinhas que venci ou por estar concorrendo a Miss Duas Rodas, mas isso me fazia muito bem, sentir aquela sensação de ser desejada. Ha! Nada melhor! Então fui me banhar, pois logo pegaria estrada de volta pra casa. Eu sabia que o festival era muito importante para o club, mas eu devia abrir o bar, chegaria um carga de bebidas direto do Paraguai, e um pessoal que vem de outro estado participar do festival. Hoje eles iriam descansar lá para no dia seguinte vir para o festival. Era um pessoal de um MC que tinha parceria com os Iron Wing. Então resumindo, não vou nem abrir o bar, vou apenas aguardar a entrega e guarda-la para dentro, entregar as chaves para o pessoal que logo iria chegar, trancar o bar e vir participar do evento novamente.


          O sol estava enfraquecendo já, dali a poucas horas ele iria se por. Fui até meu pai, me despedi com um abraço, expliquei o que faria e que logo estaria de volta. Até o bar seriam 200 km em asfalto. Eu adorava pegar esse tipo de estrada, era rápida, simples e sem buracos. Porém há quem prefira pegar um atalho, que segue uma trilha por dentro de algumas fazendas. Pra quem gosta de adrenalina e superar barrancos, essa é a melhor opção, pois economiza 80km. Sendo assim em 120km já esta na cidade, bem pertinho do bar. Como minha moto não é de estrada de chão, eu não faria essa burrice de detonar seus amortecedores e demorar o mesmo tempo que se fosse pela rota maior.

- Hey! - Gritou meu pai erguendo sua mão e correndo em minha direção. - Tome cuidado filha, Odessa está cada vez mais perigosa. Leve seu celular e se precisar de ajuda...

-Eu sei pai... - Disse olhando pra ele com um leve deboche, as vezes ele se preocupava demais comigo, deve pensar que ainda tenho vinte anos. - Eu sei me cuidar, eu me sairei bem, ta?
- Ta bem filha. - Me abraçou novamente, deu uns tapinhas em minhas costas  e voltou para o meio do pessoal que estava pulando abraçados ouvindo um show de uma banda de rock ao vivo, claro todos com uma cerveja na mão.

          Protegida com minhas roupas de couro, pus meus óculos escuros de aviador e meu capacete alemão, prendi ele, acelerei rumo a Nova Odessa, deixando para trás apenas o cheiro de gasolina e o ronco do escapamento esportivo que ecoava pelas serras e árvores ao redor da pista. O sol estava começando a tingir o tom vermelho. Se for rápido, eu voltaria a tempo de ver a segunda banda da noite.

Vocês já repararam que durante o dia o céu assume infinitos tons de cor diferentes? Todos sabemos disso, mas nunca paramos para pensar sobre. Essa é uma das maravilhas de pegar estrada sob duas rodas, você começa a pensar em tudo enquanto o cenário voa para trás e o vento balança seus cabelos. Mas o fato é que todos nós só prestamos atenção quando ele muda de cor drasticamente, do céu azul para laranja, ou vermelho. Eu acho lindo, esse efeito de degradê, em cor fria e quente. Acho lindo também as variações de azul, mas laranja é de longe a mais linda. Em uma média de 140km/h eu voava no asfalto, ninguém me ultrapassava e eu não via nenhuma dificuldade na viagem, apenas o prazer do vento morno do asfalto me esquentar, a viajem toda até a chegada no bar.

          O portão estava meio aberto, o suficiente para a moto passar, estacionei ao lado da garagem. Acho que eu já disse antes como é minha casa, grande e de dois andares, embaixo é o bar, encima residencia, ao lado uma pequena garagem e ao redor peças velhas de motos espalhadas pelos muros e portão. Abri a porta do bar liguei a Jukebox ao som de Matanza - Mulher Diabo, e em seguida uma playlist aleatória. Pus uma cadeira em frente ao bar, fechei  a porta, sentei e abri uma Stella. Pernas cruzadas sobre os calcanhares, uma mão no bolso da jaqueta, os óculos ajudavam apreciar o que restava do sol, lentamente, até que um furgão parou bruscamente em minha frente, nem percebi quando abriram o portão. Imagino que abriram enquanto eu ligava a musica. O furgão era escuro meio desbotado. Na hora imaginei que fosse o pessoal que iria dormir ali, mas de carro? Porém reconheci o motorista, era o cara da entrega de bebidas, a qual eu estava esperando. Me levantei para cumprimentá-lo, porém ao invés de encomenda, de trás do veículo desceu quatro homens carecas, de coletes pretos e um deles segurava um taco de basebol. Eu estava confusa, era o pessoal amigo do MC, mas o que o cara das bebidas fazia ali? Coisa boa certamente não era.


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