— Ottawa, Canadá. 1999 d.C
Eu não estava nem um pouco empolgado para a festa de formatura da escola. Ao contrário dos jogadores de futebol, das meninas da torcida, dos caras que faziam parte do comitê estudantil, eu estava menos empolgado para sair da escola média do que, em alguns dias, acordar e descobrir que não precisava mais acordar cedo, suportar os alunos mais malas da sala 10 e repetir um ciclo que parecia interminável para mim pelo menos.
Sempre gostei da escola, para mim era um lugar cômodo, confortável e onde podia discutir as minhas ideias, encontrar os meus amigos e juntos idealizarmos o futuro. Talvez não um futuro utópico onde carros possam voar acima das estradas, não somos tão inteligentes assim, sobretudo Jimitri que aspirava o shake de frutas pelo nariz e até então não havia engasgado. Uma plateia empolgada esperava pela conclusão daquele show perigoso que nos rendeu uns bons momentos de diversão. Era sempre assim, não éramos populares, claro, mas tinha vezes em que eu pensava: passou tão rápido! Por que não mais um ano? Certo, eu poderia prolongar ou partir para um curso intensivo de inverno, mas para que? Eu precisava mesmo era de um emprego ou de uma boa faculdade para, acima de tudo, encontrar o meu objetivo de vida.
Tem uma garota que senta no fundo, seu nome é Cristina, uma americana folgada que acredita ser uma feiticeira; apontar seu dedo preenchido de esmalte caro e conceder o poder do julgo absoluto sobre qualquer pessoa.
É toda hora: Sullivan, você é um otário, nunca vai conseguir nada desse jeito. E em outro momento ela engrossa mais: o mundo real não é a droga do seu quarto, esses caras mexem com você porque você é um otário que não faz nada além de ler livros infantis.
Infantis? Qual é, tudo o que eu faço é me informar das melhores história de ficção e fantasia, estou errado por gostar mais do mundo que existe dentro da minha cabeça do que o que existe aqui fora?
Sinceramente, nunca entendi se ela fazia isso com todo mundo; apontar o dedo mágico e dizer o que pensa sobre cada pessoa, ou estava apenas tentando ajudar.
De qualquer forma, Cristina Billiard será passado daqui a três dias, assim como todos os otários que nos fizeram de esparro durante o ano, dessa vez para sempre. Muitos vão engravidar essas garotas no grande baile de formatura, outros vão desaparecer em algum instituto no interior do país e outros como eu só vão voltar para casa e tentar encontrar um objetivo, um mundo que possa ser melhor do que o da imaginação.
Parece impossível a princípio, não?
O grande Jimitri consegue a sua marca e acaba de inspirar o shake pelo nariz. Os grupos o aplaudem, logo antes de ele cair desmaiado e os seus cem quilos de carne branca esparramar pelo chão.
Ninguém se importa.
— Mandou bem, gordão — zombou Barry, nosso amigo da turma de Inglês.
— Valeu! Precisava dessa marca para fechar o ano com chave de ouro.
— Com 252 vitaminas sugadas pelo nariz — propus um brinde. — É ouro mesmo. Agora vamos torcer para que no ano que vem não apareça outro gordão e quebre o seu recorde.
Ele se levantou e se sentou junto com a gente a mesa de volta, onde restavam poucos minutos para a gente voltar as aulas.
— E ai, o que planejam para as férias definitivas? — perguntei.
— A minha mãe quer me levar para a academia. Eu falei para ela "mãe, do que adianta você gastar 46 dólares em uma mensalidade de academia sabendo que eu vou comer 50 dólares de Beefet? — beefet era o hambúrguer favorito de Jimitri, e olha que nem tinha tantas calorias quanto acreditávamos que teria a princípio.
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Sullivan, o Jovem Tutor
Teen FictionPerdido com os rumos da vida pós-ensino médio, Sullivan Oliver sonha em ser um grande escritor. De família humilde, o jovem com mentalidade de adulto vê a vida pacata se transformar do dia para a noite quando, sozinho, herda uma difícil tarefa: cuid...