Capitulo 18

23 3 0
                                    


O Hyundai 97 cobalto do meu pai parecia em bom estado. E daí que eu falhei em algumas aulas de direção e fiquei devendo trezentos dólares para ele por ter desperdiçado as aulas com boas notas negativas e alguns pontos comidos por erros nas aulas práticas? Eu não podia viver sem um carro, e de torna ainda tinha como escolher entre o carro e a velha moto, estacionada próximo a parede e coberta por uma lona suja e fedorenta.

Joguei a lona com cheiro de urina de rato para longe e a vi. Laranja, com lindas curvas, guidão alongado, para-choques cobrindo parte dos pneus murchos e danificados da batida e o tanque perfurado e amassado.

Isso é uma moto de homem.

Diferente das outras vezes, dessa eu não chorei ao relembrar o quanto meu pai gostava dessa coisa e quantas vezes por semana andávamos ele, Landon e eu através da cidade. As gatinhas adoravam, os velhos adoravam, eu adorava acreditar que estava pilotando-a. Até mesmo as crianças adoravam o som potente que ela fazia.

Peguei o molho de chaves e encontrei a dela. Inseri e girei. Ela rugiu e suas luzes trazeiras e dianteiras iluminaram o escuro daquela garagem não muito grande. Girei o acelerador e ela gritou por seus escapamentos enferrujados incríveis. Mazie gostava dessas coisas, agora entendo o poder e a liberdade que ela deve sentir.

Acelerei mais e até sorri um pouco.

Acelerei mais, até perceber que outro som se misturou ao do motor e parei, me deparando com o do meu celular no teto do carro. Peguei.

— Alô?

— Filho — a voz da minha mãe me deixou perplexo.

— Mãe, o que houve? Está tudo bem com você? Eu fiquei te esperando várias horas.

— Acho que... — ela fez uma pausa dramática. — Perdi a noção do tempo.

Estranhei.

— Mas... antes de sair você me confirmou, disse que estava tudo certo, que iria me encontrar. Você... pegou no sono?

Ouvi seu suspiro aparentemente cansado. Olhei as horas no meu relógio. Eram dez da manhã, ela não devia estar no trabalho?

— Onde você está? — completei.

— Eu... peguei no sono, filho. Desculpa te fazer esperar.

— Então... — engoli em seco. — Você... só teve um dia ruim ontem?

— Digamos que sim. Me desculpa. Podemos tentar durante o almoço?

Mordisquei o interior da boca dolorosamente, pensando se o "dormi demais" talvez se repetisse mais uma vez e todas as vezes que tentássemos conversar como deveríamos e precisávamos depois de nove anos de ausência.

— Claro... mas... se acontecer de novo, é melhor que... não me de esperanças de nada, mãe. Sabe que tenho o que fazer também.

— Obrigada, filho. Eu sei, eu sei que o seu tempo é precioso e você dedica a essas crianças, prometo que hoje vai acontecer.

— Tudo bem... marcado.

— Beijo, querido.

— Beijo, mãe.

Acho que desligamos na mesma hora. Voltei minha atenção para a moto e sabia que a primeira coisa que precisava fazer era alcançar a caixa de ferramentas super legal do meu pai. Todo homem de respeito precisava de uma, mas como ele não está mais aqui, agora sei que a dele me pertence e então esse se torna o meu primeiro item de homem — o segundo seria uma máquina de cortar cabelos e fazer barba, o terceiro deveria ser ao menos cinco ternos de diferentes cortes e cores e o quarto, uma caixa de ferramentas e uma furadeira de impacto.

Sullivan, o Jovem TutorOnde histórias criam vida. Descubra agora