Eu nunca estive diante de um juiz. Não, na verdade só estive uma vez e foi quando o meu pai foi multado por estar a 51 numa pista de 40. Quem é multado por ultrapassar dez quilômetros? Tem gente que passa 15 e ninguém fala nada!
Mas, diferente de uma multa de transito, o fórum de Ottawa, que mais se parecia um palácio vitoriano, tornou-se grande e assustador demais para um cara que nunca foi contra a lei e nunca cometeu um crime — do contrário, era totalmente afim das ações policiais; criminosos não merecem a piedade de ninguém.
Eu entrei no cenário que mais se parecia uma minicidade. O prédio era bastante antigo, por isso os corrimãos e as escadas em madeira escura tinham certo estilo, além dos imensos lustres no teto que mais se pareciam estacas de gelo congeladas.
Ali, diante de uma imensa bancada de mogno negro e de uma estátua da senhora justiça cega (uma mulher trajada num vestido longo, com uma tala nos olhos, uma balança e segurando uma espada), estavam Morgan e uma mulher asiática atrás de alguns telefones e uma pilha imensa de papeis. Ele, sorrindo de forma sedutora e ela dando risadinhas que certamente demonstravam sua diversão.
— Bom dia — eles prontamente me notaram. Morgan tomou minha mão e eu me dobrei a bancada da moça, Zandaya. — Oi, sou Sullivan Oliver.
— Como passou a noite, Sullivan? As crianças deram trabalho?
— Trabalho algum — dei de ombros. — Só preciso de um pouco mais de pratica, nunca fiz tantas coisas em um dia como fiz ontem. Acho até que estou com as pernas um pouco doendo.
— Se prepara que vai ter bem mais a partir de agora.
— Com certeza — indeferiu Zandaya. — Sullivan, o juiz os espera na sala 202 no segundo andar. Está com seus documentos?
Entreguei o que tinha.
— Depois de ontem, acho que estou pronto para fazer algo novo. Quero dizer, não que eu vá me tornar o melhor guardião de um par de gêmeos, mas posso pelo menos tentar... era o que o meu pai provavelmente me aconselharia.
Zandaya me entregou um documento com o logotipo da justiça e uma coleção de palavras que juntas formavam algo aparentemente importantes mas que eu não teria tempo para ler.
— Tenham um bom dia — disse ela.
— Obrigado... te ligo — correspondeu Morgan, ganhando um pequeno aceno de mão dela. — Bem, Sullivan, conversando com o juiz Doyow hoje, a única coisa que impediria ele de nomear um qualquer para cuidar das crianças é esse documento que está na sua mão. Pedi a pouco para Zandaya. É um alvará de efeito imediato que elaboramos com base na recomendação que eu e algumas pessoas que estávamos na festa e falamos com você pudemos fazer em relação ao seu caráter. Bem dizem que a justiça funciona melhor para os endinheirados, e isso não é uma mentira. Sorte sua foi não falar com os outros com uma carranca ou estaria ferrado agora.
— Mesmo com vontade de chorar, meu pai me ensinou a ser educado e gentil e a sorrir quando necessário, Morgan. Por isso não falei merda.
— Fez bem. Olha, porém... vão existir várias limitações durante esse processo — nós chegamos a uma escada lateral ao fundo de onde viemos e por ela subimos na direção de um segundo andar, onde pessoas trajadas em roupas chiques e mesmo pessoas que vieram pelos serviços judiciais estavam perambulando entre uma sala e outra das muitas que acompanhavam um grande corredor que parecia feito de pedrarias.
As paredes eram de madeira nobre e tinham ornamentos que pareciam flores verdes de seis pétalas. Ao fundo, um porta reforçada com o nome "202. Doyow Clark – juiz de direito familiar" estava esperando por nós.
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Sullivan, o Jovem Tutor
Fiksi RemajaPerdido com os rumos da vida pós-ensino médio, Sullivan Oliver sonha em ser um grande escritor. De família humilde, o jovem com mentalidade de adulto vê a vida pacata se transformar do dia para a noite quando, sozinho, herda uma difícil tarefa: cuid...