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O despertador tocava estridentemente, mas Louis só abriu os olhos pra localizar o aparelho e jogá-lo contra a parede. Não adiantou muito, porque o relógio continuou tocando, com um bipe um pouco mais lento e deformado que o normal, o que só bastou para irritar Louis mais ainda. Bufando, ele se levantou da cama, pegou o despertador e desligou decentemente.

Ele estava atrasado. De novo.

Louis era o filho mais velho entre cinco na família. Seu pai era sócio de uma empresa de marketing famosa em Doncaster, o que dava a família Tomlinson uma boa condição financeira. Os filhos não eram muito cobrados desde que conservassem a boa imagem da família. As gêmeas mais novas, Phoebe e Daisy, eram muito pequenas para entenderem, mas se comportavam bem. Das mais velhas, Felicite e Chalotte, apenas Fizzy era considerada o exemplo da família. Os pais de Louis não permitiam que falassem o nome de Lottie dentro de casa depois da confusão que teve há seis meses. Louis, por fim, costumava ser como Fizzy até cansar de se esforçar para receber migalhas. Desde então, ele simplesmente não se importava com mais nada.

A mudança começou aos poucos. Tatuagens discretas, nos tornozelos e braços. Logo ele fechou um braço com desenhos. Sua mãe fez um escândalo quando viu, mas as notas de Louis no colégio ainda eram as melhores. Naquela época, ele ainda não era um vagabundo, como seu pai o chamava às vezes. Naquela época, Louis ainda não matava aula, não fumava, não tinha pintado o cabelo de vermelho-escuro e ele ainda era um garoto relativamente exemplar. Agora, ele só ia para a escola por obrigação. Ou por paz, coisa que ele não tinha em casa.

Ao terminar de tomar banho Louis sabia que, a essa hora, a primeira aula já teria acabado. Ele vestiu uma calça jeans skinny, moletom e os surrados Vans que sempre usava. Botou a mochila em um ombro e saiu do quarto.

A casa estava silenciosa, todo mundo já devia ter saído. Louis não pretendia nem tomar café, mas ao passar pela cozinha, ele percebeu que alguém estava lá. Ao se virar, tomou um susto.

― Lottie?

A garota sorriu para o irmão. Charlotte estava muito diferente desde a última vez que Louis a viu. Estava mais magra, parecia quase doente, seus olhos estavam fundos por causa das olheiras. O coração de Louis foi tomado de preocupação e ele correu para abraçar a irmã.

― Nós sentimos sua falta. ― Ele sussurrou, se referindo às outras irmãs também. ― Fizzy especialmente.

― Eu sinto falta dela também. ― Lottie respondeu com a voz baixa. Louis achou que ela estava tão fraca que não teria forças para aumentar a voz nem se quisesse. ― Eu sinto falta de vocês todos os dias.

― Há quanto tempo você está aqui?

― Durante toda a madrugada. ― Louis a encarou com os olhos arregalados e Lottie se apressou em acrescentar: ― Esperei todo mundo sair pra entrar.

― Lottie, onde você tá morando?

A garota mordeu o lábio, hesitando.

― Lottie?

― Por aí.

― Como assim?

Ela desviou o olhar. ― Estou... sem casa fixa agora.

― Você quer dizer que tá morando na rua, Charlotte? ― A voz de Louis aumentou alguns oitavos.

― Cale a boca, Louis! ― Lottie sibilou. ― Savannah não sabe que estou aqui e ela pode contar pro pai.

Savannah era a empregada e Louis duvidava muito que ela contaria para seus pais se Lottie estivesse aqui. Mesmo que isso custasse seu emprego.

― Você sabe que ela não falaria.

Lottie suspirou.

― Só... Não precisa gritar, tá?

― Lottie, eu sei que essa casa não é um lar. Mas morar na rua também não é bom.

― Não vou voltar, Louis. ― A voz de Lottie endureceu e ela ficou na defensiva.

― Não estou dizendo para voltar! ― Louis disse. Sua irmã o encarou de sobrancelhas arqueadas, duvidando. ― Eu estou dizendo pra voltar.

Lottie riu.

― Você sabe que eu faria, Louis. Por vocês, eu faria. Mas não aguento viver de cabeça baixa, aguentando todas aquelas maluquices que nossos pais impõem. E mesmo que eu quisesse, não poderia voltar. Papai deixou bem claro.

― Eu te ajudo, Lottie. Eu convenço eles, eu... ― Louis engoliu em seco, quase entrando em desespero. ― Só volta pra casa.

Lottie sorriu, os olhos marejados, e balançou a cabeça.

― Eu preciso de ajuda, Louis, mas não é bem desse tipo.

Louis suspirou, sabendo do que ela estava falando.

Harry tinha todas as razões do mundo para estar nervoso. Nunca tinha trocado de colégio em sua vida, nunca foi o novato em lugar algum. Ele nasceu em Holmes Chapel e pretendia morrer em Holmes Chapel. Infelizmente, sua mãe tinha outros planos.

Após se separar, Anne decidiu que seria uma boa ideia recomeçar a vida numa outra cidade. Sua filha mais velha e irmã de Harry, Gemma, já estava na faculdade e morava no campus. E, apesar dos protestos do filho mais novo, Anne conseguira convencê-lo de que aquela era uma boa ideia.

Agora, pela primeira vez na vida, Harry dirigia seu carro até o colégio local de Doncaster, no meio de fevereiro – porque, além de novo aluno, ele também teve que chegar atrasado no ano escolar.

Harry sabia que estava fazendo isso mais pela sua mãe do que por si mesmo. E ainda assim, ele tentava se acalmar fazendo o quadro mais positivo possível.

Harry estacionou seu carro e respirou fundo antes de sair. Sorria simpático para as pessoas que olhavam pra ele e até foi cumprimentado. Não era tão diferente das pessoas em Holmes Chapel; quando um novato chegava atrasado, ele geralmente era bem recebido.

Ele passou na coordenação, pegando seus horários e seus documentos. Sua primeira aula era Cálculo, na qual, ao contrário da maioria dos adolescentes hoje em dia, Harry era muito bom. Vendo aquilo como um sinal de boa sorte, ele sorriu e seguiu o fluxo de alunos pelo corredor.

Seu armário ficava longe da entrada, mas perto do refeitório. Harry girou os números da senha, mas a porta não abriu. Ele tentou de novo, mas não teve resultado.

― Acho que esse é o que precisa de um soco pra abrir. ― Um garoto loiro no armário ao lado aconselhou.

Harry tentou, dando um soco leve na porta e deu certo. Olhando bem, ele percebeu que a porta já estava meio amassada mesmo, dos vários socos que recebera dos antigos donos. Virando-se para o garoto, Harry sorriu e agradeceu.

― Imagina. Você é novo?

― Sim. Meu nome é Harry Styles.

― Sou Niall Horan. Vai pra qual série?

Senior year.

― O melhor ano, se quer saber minha opinião. ― Niall riu. ― Provavelmente vamos dividir algumas aulas, então.

Eles trocaram os horários e Harry viu que teria aula de História, Inglês, Química e Educação Física com Niall.

― Bem, eu tenho Física agora. Nos falamos depois, Harry?

― Claro. ― Harry sorriu. ― Boa aula.

― Pra você também.

Niall foi embora e só então Harry pode avaliar o garoto. Ele certamente não era dali, por causa do sotaque. Niall usava óculos que o deixavam com cara de nerd, mas seus braços eram grandes o bastante para fazê-lo parecer com um rato de academia.

Harry deixou seus livros no armário, tirando apenas o de Cálculo, e foi pra sala. Que ficava no segundo piso. Do lado oposto do seu armário. Seria uma grande caminhada...

UncoverWhere stories live. Discover now