Capítulo dois

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   Quando Giles chega à Portland, está caindo uma leve garoa.

   Havia chovido à noite inteira. Na saída de Seatle, ele havia diminuído a velocidade, derrapando levemente pela pista molhada, atrás dos vidros embaçados do carro alugado. Nada o concentrava; Giles tentara o rádio, mas a estação ficava caindo o tempo todo, então ele o desligou e permaneceu em um silêncio assustador; tentou pensar no que faria, isso quase acarretou em uma batida brusca com um caminhão de carga; tentou apenas dirigir, e isso se mostrou extremamente difícil.

   Mas ele precisava conseguir. Por ela. Por ele. Não sabia mais nada ao certo, apenas agradeceu quando a chuva diminuiu lá pelas cinco da manhã e ele viu as primeiras estruturas da cidade.

   Do lado de fora do carro alugado, a cidade parece ainda mais aconchegante. Nem tudo que leu na internet parecia descrever com precisão o ritmo do lugar. Cafés abriam suas portas, enquanto garçonetes bem apessoadas limpavam as mesas e abriam pequenos guarda-sóis coloridos sobre elas. Lojas com vitrines impecáveis chamavam turistas desavisados que perambulavam na calçada. Com o limpador de para-brisa ligado, ele conseguiu ver Good cards posicionados na praça, enquanto o cheiro doce de chocolate quente invadia o interior do veículo fazendo sua barriga roncar e sua boca se enxer de saliva.

  Mas Giles não podia parar para comer. Ele tinha que seguir. Por isso está pisando no acelerador, e lembrando a si mesmo que não está em Portland à passeio.

Letícia Onde histórias criam vida. Descubra agora