Verônica estava indo ao único lugar que conhecia na cidade, o único lugar onde poderia obter as devidas respostas para questões inacabadas e mal resolvidas; dobrando a esquina, o pé levemente sobre o acelerador, ela viu a loja. Continuava a mesma. Parada. Bem ali.
Ela mexe no volante, pronta para estacionar na vaga mais próxima. A vaga mais viável está ocupada. Verônica suspira e pisa um pouco mais pesado no acelerador. O carro desliza suavemente para frente, adentrando na rua e passando pelo conjunto de casas vitorianas todas muito parecidas e com o alpendre de meia proporção. Ali, ela nota, a grama das casas ainda não é verde. Nem nunca será.
A terra eu pagarei com seu sangue, e nenhuma rosa, tulipa ou fruto há de brotar saudavelmente; seu solo está podre e amaldiçoado...
Quando para, percebe ter se afastado um pouco demais da loja. Terá de caminhar um pouco. Está parada na frente de uma casa que no passado pertenceu à uma garota chamada Sarah Pround. Verônica vasculha a frente do lugar com os olhos atrás do vidro. Parece o mesmo desde então. As vigas velhas no teto do alpendre, que sustenta uma pequena sacada no andar de cima. A cadeira velha de balanço, que dá um vai e vêm com o vento frio. A madeira do assoalho, velha, desgastada...
Assim como seus ossos. Eles devem ser poeira agora. Deus sabe onde.
Quem mora ali agora ?, divago. Ou a casa está fechada ? Devem ter vendido. Não deixariam a propriedade dando sopa. Não mesmo.
Verônica lembrava com clareza da época em que morara ali. Em como as tardes eram barulhentas e sublimes, adocicada ao som de gargalhadas na rua e motores engasgado na pista. Os copinhos suados, elétricos, intermináveis, sempre buscando mais uma travessura. Vez ou outra, era possível ouvir um grito estridente da Sra.Mags, uma velha senhora abandonada pelos filhos e tão insuficiente para eles, que os mesmos nem se preocuparam em jogá-la em um lar para idosos, e estava ali, para apodrecer. Puf! Algum dos garotos da rua havia chutado a bola de futebol outra vez bem em sua janela.
— Não aguento mais isso, senhor policial — ela sempre fazia um alvoroço ao telefone, gritando tão alto que toda a vizinhança podia escutar.— Esses pequenos terroristas vão me destruir. Eles estão me perseguindo, certeza. O senhor precisa dar-lhes um jeito. Caso contrário, vão me fritar de tanto estresse.
Não foi exatamente assim que aconteceu. Mas aconteceu...
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Letícia
Teen FictionA relação de Cora e Giles era perfeita. Até que um evento inesperado acontece. E quando o passado de sua namorada é revelado, Giles precisa voltar a cidade natal dela e falar com o único parente aparentemente vivo que ela possuía. Porém, ao chegar...