75. um conto que precisava ter: piano, cachoeira e penteadeira

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Tinha acabado de sair da minha aula de piano e assim que me aproximei de casa vi minha amiga e seu irmão pela janela sentados no meu sofá conversando com a minha mãe. Aproveitei que eles não me viram para ouvir a conversa escondida, e era basicamente Flavia avisando minha mãe que ela e Isaque iriam me levar para a cachoeira daqui a pouco.

-Ah, é? Nem tava sabendo. -aproveito a deixa para entrar em casa. Isaque me olha de repente e preciso me controlar para não soltar um suspiro e ficar óbvio para todos naquela sala que eu sentia algo por ele. Nós 3 somos melhores amigos desde sempre, eu não saberia nem como contar isso para Flavia, mal admitia para mim mesma meus sentimentos, imagina dizer em voz alta.

Me preparo para subir as escadas e ir para o meu quarto me arrumar e arrumar minha mochila também, mas Flavia se apressa e para na minha frente, me barrando de continuar.

-Nada de ir pro seu quarto. -ela dá um sorriso torto. -Já providenciei a mochila, se troca no banheiro daqui mesmo. -minha amiga diz me entregando minha mochila e me empurrando na direção do banheiro.

Com tudo pronto, entramos no carro de Isaque e partimos rumo à cachoeira, cantarolando várias músicas durante o caminho que fazia Isaque rir dos nossos shows, e toda vez que ele abaixava a cabeça e ria, meu coração me fazia perder o foco por uns segundos.

Chegando lá os dois logo arrancaram a roupa e subiram na pedra mais alta para pular, enquanto eu fiquei admirando a coragem que eu nunca teria, mas eu amava ver como os dois se davam bem.

Eu estava meio relutante para entrar, a água estava bem fria, então só fiquei de biquíni sentada numa pedra com as pernas na agua, brincando com as pedrinhas debaixo dos meus pés enquanto os dois brincavam de guerrinha. Foi eu desviar um pouco meu olhar deles para pegar meu celular para tirar uma foto que quando olhei para frente novamente eles nem estavam mais lá, mas estavam do meu lado, Flavia pegando meu celular de um lado e Isaque me erguendo do outro, me levando até dentro da água no seu colo, que agachou de repente e me molhou de uma vez. Dei um grito porque a água estava muito gelada que fez Isaque rir e depois me soltar, bati em seu ombro para mostrar que eu estava brava com o que ele fez, mas a verdade é que só queria me jogar em seus braços agora mesmo.

-Desculpa por isso. -ele diz e ajeita meu cabelo molhado colado na frente do meu rosto. A visão deveria estar horrível.

-Tudo bem. -dou de ombros. -Sei que é difícil pra você ficar longe de mim. -digo em tom de brincadeira, mesmo que pra mim seja verdade.

-Não. -Isaque diz sério e eu me preocupo, mas assim que ele me olha nos olhos, toda a preocupação vai embora pelos tremores do meu corpo e só sobra espaço para a ansiedade de sentir que agora é a hora. -Desculpa por isso. -Isaque repete e dessa vez meu corpo todo se arrepia com sua aproximação e não mais pela água gelada.

Assim que suas mãos quentes encostam na minha nuca gelada eu sinto o melhor choque térmico da minha vida. Tudo acontece muito rápido, mas para mim foi tudo em câmera lenta. Isaque põe sua outra mão na minha cintura e me puxa para si, me beijando e me causando mais arrepios com aquele beijo quente e gelado. Envolto meus braços em sua nuca e me pressiono mais ainda em seu corpo, não posso deixar nada passar batido; quero que cada parte de mim se lembrei disso de forma vívida. Quando finalmente nos separarmos Isaque me olha e sorri tímido, conseguindo fazer aquele momento melhorar ainda mais. Não resisto à sua expressão fofa e insegura; preciso de mais, ficar encarando de repente não consegue mais ser o suficiente. Seguro delicadamente seu rosto e dessa vez sou eu quem o puxa para um beijo, ele precisa saber que está tudo bem, aliás, que está muito mais que bem. Diferente do primeiro, esse beijo acabou se tornando mais intenso, Isaque me ergueu na agua e eu entrelacei minhas pernas em suas costas, e quando finalmente me firmei em seu colo, ele me virou e me deixou bem embaixo da queda da cachoeira.

-Idiota! -digo falsamente brava quando ele me tira de lá. Eu não estava esperando por essa, me assustei com, do nada, a água gelada caindo em cima de mim, e eu poderia até dizer que esse era o motivo do meu coração ter acelerado, mas eu sabia que não era.

-Até que enfim! -ouço Flavia gritando ao fundo e finalmente me solto de Isaque e olho para ela, sorrindo que nem boba, mas ela também tem um sorriso enorme no rosto. Acho que nós 3 estávamos já há um bom tempo esperando por esse momento, mas ninguém queria tocar no assunto.

Na volta para casa, assim que Isaque estacionou em frente à minha casa e eu saí do carro, Flavia gritou para eu ir olhar minha penteadeira. Eu não entendi muito bem, mas assim que entrei em casa fui correndo para o meu quarto, não aguentando de curiosidade.

Abro a porta e de imediato vejo um envelope enfiado no vão do espelho da minha penteadeira. Sorrio com a cena e meu coração bobo volta a palpitar. Ando lentamente até ele, querendo que esse momento dure mais.

Encaro mais uma vez o envelope antes de o pegar e reparo no meu reflexo, eu estava parecendo uma adolescente apaixonada, e talvez eu fosse mesmo.

Com o envelope em mãos vejo meu nome escrito na frente e "se você está lendo isso significa que eu finalmente tive coragem de pular nessa queda que eu tenho por você" escrito atrás. Rio de como Isaque consegue ser fofo e idiota ao mesmo tempo, então respiro fundo e abro o envelope, dando início à algo melhor do que eu jamais pude imaginar.

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