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Não dei sequer tempo de ela me responder antes de desligar a chamada. Sei que se ela me perguntasse se tinha a certeza ia vacilar e provavelmente perder a pouca coragem que me resta.

“Rosie” Rosie” demorou cerca de cinco minutos até eu ouvir o seu chamamento “Rosie, graças a Deus que estás bem, estávamos todos tão preocupados contigo!” o meu corpo treme quando sou envolvida no seu abraço.

“Desculpa, desculpa por tudo Luke…” começo mas ele corta-me antes que eu possa prosseguir.

“Shhh, está tudo bem Rosie”

“Não não está Luke. Não está nada tudo bem. Eu tenho de te contar, tu precisas de saber” as lágrimas rolam pelo meu rosto a medida que as palavras abandonam a minha boca “Tu mereces saber” escondo a minha cara no seu peito enquanto arranjo coragem para lhe contar o passado que me deixou neste estado. Tão quebrada, tão fraca, tão miserável.

“Não precisas de contar Rosie, eu não te quero pressionar. Eu sei que quando estiveres pronta o vais fazer” consigo sentir o seu coração a bater fortemente e a sua respiração pesada enquanto acaricia o meu cabelo.

“Mas eu quero. Eu quero contar-te tudo, o porque da minha bipolaridade, quero contar-te porque é que fugi do bar, quero contar-te porque é que tenho medo de amar assim” ele abre a boca para falar, mas eu corto-o antes que tenha oportunidade “ por favor deixa-me continuar” ele assente enquanto respira profundamente.

Solto um suspiro que não sabia que estava a aguentar, aconchegando-me mais no conforto dos seus braços quando nos sentamos no areal e recomeço o meu discurso.

“ Os meus pais nunca foram casados. Eles eram namorados já há algum tempo quando a minha mãe descobriu que estava grávida” começo “ Eu fui aquele tipo de gravidez indesejada mas que ninguém teve coragem de matar. Até aos nove anos vivi sempre com a minha mãe e os meus avós maternos, convivia de vez em quando com o meu pai, mas era raro porque entretanto ele acabou por se casar com uma francesa. Quando eu tinha oito anos, a minha mãe começou a namorar com o meu padrasto” o meu corpo estremece com a lembrança “Ainda me lembro como se tivesse sido ontem. Foi num café, o meu padrasto já estava meio alegre da bebida, ainda com as roupas do trabalho e cheias de manchas de vinho. Apesar da primeira impressão ter sido má, eu comecei a gostar muito dele.” Sorri ironicamente “Ele levava-me sempre a sair com ele e com a minha mãe e dava-me tudo o que eu queria e precisava. Tratava-me como uma verdadeira princesa. Mas era tudo fachada!”

As lágrimas já são impossíveis de controlar e os meus soluços eram bem audíveis “Assim que se casou com a minha mãe começou a tratar-me abaixo de cão! Mudamo-nos para casa dele, mudamo-nos para uma casa no meio do monte, onde não havia ninguém a quem recorrer. Deixavam-me sozinha em casa enquanto iam para o café, porque o ele dizia que não me queria levar, então trancavam-me em casa e diziam para deixar tudo desligado, e que se a conta da luz no fim do mês fosse muito grande que já sabia o que me acontecia. Se o preço da conta fosse muito elevado, eu iria levar um excerto de pancada. Ia levar tanto que não me conseguiria levantar no dia seguinte.” Paro por segundos para recuperar o folego, e aproveito para mira-lo. Os seus olhos encontram-se raiados de vermelho, e gotas de água salgada rolam pela sua bela face, as quais eu me apresso a limpar com o meu polegar. Ele beija a minha testa demoradamente enquanto sussurra um “por favor, continua” contra a mesma e assim o faço.

“Quando eu tinha dez anos a minha primeira irmão nasceu, e a minha responsabilidade aumentou. A minha mão pôs-me a tomar conta dela assim que ela largou a mama. Fui eu que a criei desde bebezinha Luke, ela é tão linda, aposto que ias gostar dela, e do meu irmão também. O meu irmão nasceu um ano depois da minha irmã, e mais uma vez fui eu a tomar conta dele” sorriu com as memórias dos meus pequenos “ quando ele nasceu, o meu padrasto pôs-me a trabalhar também na sucata para ajudar a arranjar dinheiro. Até aos doze anos sofria de violência física e psicológica por parte do meu padrasto e da minha mãe, então aos doze anos fugi de casa e fui até ao posto da policia mais próximo” ri-me sem graça ao lembrar-me da cara do pilicia que me abriu a porta “ diz-me Luke, que criança de doze anos foge de casa e pede na policia para ir para um colégio?” Pergunto retoricamente. Luke continua calado  a passar a sua mão pelos meus cabelos e eu agradeço lhe mentalmente por isso.

“Passado um mês, um tio meu tirou-me de lá e levou-me para sua casa, mas também não correu muito bem lá por causa dos ciúmes do meu primo e eu acabei por voltar para casa da minha mãe. Voltou tudo de novo! As agressões e os maus tratos eram cada vez piores” suspirei “mas desta vez era diferente. Desta vez eu respondia. Se eles me batiam eu batia neles também, se me insultavam eu insultava de volta. E isto assim até que ele me expulsou de casa.” Elevo o meu olhar para ver qual a reação de Luke e tudo o que encontro é um par de olhos cor do céu arregalados de surpresa com a minha revelação. “Esse verão foi horrível” Eu andava perdida. Uns tempos andei na rua, a comer os restos das refeições que serviam nos cafés, outros tempos em casa de amigos ou família afastada. Até ao dia em que uma prima afastada me levou a segurança social e de lá mandaram-me de novo para um colégio. Eu estava completamente perdida, numa cidade que não conhecia, se amigos, sem família, sem ninguém.” Luke aperta-me ainda mais nos seus braços e eu dou por mim a não querer mais nada a não ser ter Luke ao meu lado.

P.O.V Luke

O meu coração está acelerado, a minha respiração irregular e as lágrimas não param de cair.

Eu sabia eu o passado da Rosie não tinha sido fácil, mas nunca pensei que fosse tão controverso.

Agora percebo porque é que a minha menina é assim. Ela no fundo ainda se sente perdida. A minha menina perdida.

“Quando cheguei no colégio tornei-me numa coisa que era tudo menos eu! Fui “gótica, fui “guna”, fiz asneiras, roubava, fugia do colégio, andava com más companhias…” sinto-a estremecer e agarrar ainda com mais força na minha camisola “até que conheci um rapaz. Ele era toxicodependente, mas mesmo assim, eu era louca por ele” fazia tudo por ele! E tal era que quando ele me pediu para fugir com ele, eu não pensei duas vezes. E essa foi o pior erro da minha vida.” O seu choro intensificou-se, assim como o buraco que estava a crescer no meu peito.

“Era noite de Halloween e fomos com os nossos amigos para a rua festejar. Eu não confiava em mais ninguém a não seu nele e só bebia o que ele me desse. Mas se calhar foi mesmo esse o meu erro. Todas as bebidas, todas as porras das bebidas que ele me deu para a mão tinham droga! Aquele filho da mãe drogou-me Luke” raiva está presente nos seus olhos “Ele drogou-me e quando me apanhou pedrada o suficiente ele usou e abusou de mim Luke” não, ele não pode ter feito isto! Não a minha pequena!

“Não, ele não pode ter feito uma coisa dessas Rosie, não a ti! Por favor diz que é mentira” a minha voz falha no final, custa tanto saber que ela passou por tudo isto sozinha. Que eu não estava lá para a ajudar, para a proteger. Sinto-me tão insignificante.

“Ele fez Luke, e é por isso que tenho tanto medo.” Ela segura no meu queixo de modo a que eu fique a encara-la “Eu gosto de ti Luke, eu gosto mesmo de ti, mas eu tenho medo. Medo de me entregar a alguém novamente, de voltar a apaixonar-me, de voltar a amar e voltar a sofrer. Eu amava-o Luke, ele podia ser um sacana, mas era ele que tinha o meu coração, e foi também le que acabou com ele. Não fazes ideia do quão assustada eu fico quando sino isto tudo dentro d mim de cada vez que eu olho nos teus olhos. Basta sentir o teu cheiro para o meu coração começar a acelerar, quando vejo o teu sorriso sinto que o meu corpo vai entrar em erupção de tanto tremer, e a tua voz é a chave que abre a gaiola onde as minhas borboletas estão guardadas, deixando-as a voar que nem lucas na minha barriga.” Os seus olhos estão marejados mas serenos, e nos seus lábios carnudos baila um sorriso tímido.

“Já passou tanto tempo depois disto, mas neste tempo eu refugiei-me na escuridão, e deixei se saber como lidar com este turbilhão de sentimentos, mas eu estou disposta a prender, se tu estiveres desposto a ensinar-me” um sorriso aparece de imediato nos meus lábios “MAS, eu não garanto que vá ser fácil Luke! Pelo menos para mim vai ser uma guerra, vou ter que lutar todos os dias para mudar, mas eu aceito entrar nesta guerra se tiver o teu amor como arma..” oh Rosie se tu soubesses o quanto eu te amo! Junto as nossas testas e solto um suspiro que não sabia que estava assegurar. Olho nos seus olhos sem nunca separar as nossas testas.

“Tens todo o meu amor para lutar nessa guerra Rosie, mas tens de me deixar combater do teu lado, porque se tu caíres, eu caio junto” digo ao mesmo tempo que interlaço as nossas mãos

“Porque se caíres, eu caio junto” ela murmura enquanto fecha os olhos.

Deixo a minha não livre acariciar a sua bochecha, e vejo-a inclinar a sua cabeça para sentir melhor o meu toque. Cutuco o seu nariz com os meus e dou-lhe um beijinhos a esquimó, fazendo a rir

Num ato de coragem junto os nossos lábios, e por momentos acho que estou a sonhar…

*hard life* // Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora