XLVII

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ARRASCAETA

Gabriel mexia frenéticamente no celular, alternando entre digitar e dar uma garfada no seu almoço. Aquilo já estava me irritando (tudo ultimamente tem me irritado)!

O silêncio havia se instalado na mesa e todos prestavam atenção no artilheiro, que tinha um sorriso que quem estava tramando algo.

- O que você tanto faz nesse celular hoje, hein Gabe? - Rafinha perguntou tentando olhar a tela do aparelho dele, fazendo com que o camisa 9 bloqueasse rapidamente a tela e voltasse sua atenção totalmente em almoço.

- Nada! - Gabriel disse mas não havia convencido ninguém.

- Você tava conversando com a Sophi? - Rafinha o questionou, fazendo com que todos na mesa olhassem para Gabriel, esperando uma resposta. O que ele tanto conversava com ela?

- Sabia que ficar vendo a conversa dos outros é feio, Rafael? - Gabriel disse com um misto de irritação com brincadeira - Só estava me despedindo da Sophia! Vocês se lembram que ela vai embora amanhã, né? - meu coração se apertou. O fatídico dia era amanhã!

- Achei que o pai dela ia arredar o pé dessa história! - BH disse.

- Também, cara! A Sophia tava tão bem aqui! Ela vivia contando pra todo mundo que ela tava vivendo um sonho! - Ribeiro disse e eu não estava mais aguentando o assunto "Sophia" naquela mesa. Me levantei, deixando o resto do meu almoço com o pessoal da cozinha e caminhando até o banheiro, me trancando lá dentro e deixando as teimosas lágrimas caírem. Era bem comum elas virem quando eu escutava alguém falar sobre Sophia.

Ouvi alguém bater na porta do banheiro e rapidamente sequei meu rosto.

- Arrasca? - ouvi a voz do Gabriel do outro lado e abri a porta - Por quê saiu daquele jeito?

- Você sabe! - eu disse passando por ele e indo em direção a academia.

- Ei! O que você vai fazer hoje a noite?

- Provavelmente nada! Por quê?

- Vou no seu apartamento depois!

- Você não tem que descansar? Amanhã vocês terão treino cedo.

- Não se preocupa com isso! Te vejo a noite - Gabriel disse e voltou para o refeitório enquanto eu caminhava para a academia, ficando um tempo atoa até que Marcio, o fisioterapeuta apareceu depois do horário de almoço para prosseguir meu tratamento.

Enquanto fazia exercícios na bicicleta, eu via o time treinando e fiquei pensando quando eu poderia voltar a jogar. Estava ansioso para voltar aos gramados!

- Muito bem, Arrasca! Tá sentindo alguma dor? - o fisioterapeuta perguntou.

- No momento não!

- Isso é ótimo! Estamos progredindo.

- Qual é o seu prazo para que eu volte?

- Na próxima semana, se continuarmos progredindo, posso te liberar para voltar aos treinos! - sorri esperançoso.

Saí da bicicleta, quando Marcio disse que já está bom e me pediu para ir até a sala do pessoal da massagem e pedir o Adenir para massagear meu joelho, como eu sempre fazia depois da fisioterapia.

Me distrai bastante com o Adenir, que era sempre muito bem humorado e nos últimos dias estava tentando ser bem mais ao perceber meu estado e com certeza depois de saber dos rumores que corriam pelos corredores do CT sobre mim e Sophia.

Depois da sessão de massagem, fui para o vestiário para tomar banho e poder ir embora. Quando estava de saída, vi os rapazes serem liberados do treino.

- Ei, Gabi! - eu disse assim que vi meu amigo - Você vai que horas lá pra casa? Se quiser, posso te esperar.

- Pode ir, Arrasca! Tenho que passar num lugar antes - assenti e me despedi dos caras, logo indo para o estacionamento, procurando por meu carro.

O caminho até meu apartamento não demorou muito porque ainda não era o horário de pico aqui no Rio. Quando cheguei no meu apartamento, larguei minhas coisas em qualquer canto e liguei a TV mas não prestei muito a atenção porque fiquei mexendo no celular, inclusive mandei mensagem para o Gabriel para perguntar o que ele queria comer mas sem resposta.

Ouvi a campainha tocar e eu pressupus ser Gabriel. Me levantei não muito animado para abrir a porta e assim que fiz isso, me surpreendi ao ver quem estava ali.

- Sophia? - ela não disse nada apenas se aproximou e me beijou. Que saudade de sentir seus lábios nos meus!


Angel - G. De Arrascaeta Onde histórias criam vida. Descubra agora