2 de julho de 2019: Cama desarrumada

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Virou um hábito: a cama está sempre desarrumada. Não é por falta de tempo nem por preguiça. Este não foi um hábito adquirido na base do sem querer. Foi um hábito desejado. Os lençóis bem esticados eram (quase) regra velada na casa dos meus pais. 

Mesmo se o tempo faltasse, em uma manhã atrasada, e eu optasse por deixar a cama bagunçada apenas naquele dia, o retorno do trabalho à noite me trazia sempre a mesma cena: lençóis em ordem, cobertor dobrado, travesseiro no lugar. Era minha mãe, sempre pronta a me ajudar. Em mim, logo aparecia a culpa. Culpa por não ter seguido a tal regra velada da cama esticada.

Hoje moro sozinha. Conquista da liberdade sonhada desde a infância, quando meu plano de vida era comprar um apartamento e viver comigo mesma, e não me casar e ter filhos. Faltou coragem para chegar a esse ponto antes. A culpa de não arrumar a cama também morava no símbolo de deixar meus pais para trás. 

Ficou para trás a culpa e a cama arrumada. Agora, os lençóis se embolam. E a relação filha, mãe e pai se ajusta de forma mais prazerosa. Dentro dos limites que aprendi a criar.

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