26 de julho de 2019: O envelhecer final de minha avó

18 1 0
                                    

Hoje a morte da minha avó materna completa 7 anos. Morte que chegou aos poucos, depois de anos de evolução do Alzheimer e do Parkinson. Anos que levaram embora sua capacidade de reconhecer os filhos, de comer ou usar o banheiro sozinha, de expressar o que sentia. Mas nunca tiraram de seus olhos o brilho a cada vez que me via, acompanhado sempre de um "oi, bela". Não há como dizer se ela sabia quem eu era. E isso não importava. Mesmo depois do que minha mãe e tios contavam ter sido um dia difícil, cheio das mais diversas crises, se eu chegasse, o sorriso dela vinha junto. O meu também.

Despedir-se por anos de alguém machuca. Um pouco todos os dias. Cada falta de memória de minha avó doía fundo, mesmo disfarçada pelos risos inevitáveis ao vê-la chamando a filha de mãe, o filho de marido – aquele mesmo marido que a tinha abandonado antes mesmo de eu nascer.

Então, era isso. A vida sofrida, cheia de mágoas veladas, que ela nunca deixou que os netos enxergassem nela, estava acabando. Tanta proximidade do fim traz também o lado nada bonito de se tornar um velho. Idas sem fim ao hospital, quedas de pressão, ambulância na porta de casa, infecções urinárias sem explicação.

Na última internação, de alguma forma eu soube. Eu realmente sabia que aquela seria a última vez. Entrei no quarto da enfermaria e o "oi, bela" já não veio. Restava um breve sorriso e um pouco do brilho nos olhos. Me despedi. Sem lágrimas visíveis, sem alardes. Apenas em pensamento, quis mostrar a ela que a hora chegada deveria vir acompanhada da tranquilidade que lhe faltou em vida. Que seu último envelhecer chegaria sem dor, com cuidado, rodeado de amor.

A morte veio, poucos dias depois. Já se foram 7 anos. Ou seriam "só faz 7 anos"? A dor bate no peito, forte, a cada vez que penso nela. Sinto falta e talvez nem queria deixar de sentir falta. Ela faz parte de mim. E nunca deixará de assim ser.

Pequenas histórias dos diasOnde histórias criam vida. Descubra agora