A Soleira da Porta

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A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.

A frente da casa,
De cor branca amarelada,
Com a corrente de Filó no corrimão amarrada.

Filó uivava tristonha,
De focinho a porta,
Fareja o vazio.

A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.

Maria,
Minha irmã mais novinha.
Afaga Milena,
Minha bonequinha.
Que por sua vez,
Jaz na mesa da cozinha.

Mamãe a olhava,
A olhava da porta,
Mas desta vez,
Não é a mesma que eu brincava.

Encarava Maria,
Com brilho nos olhos,
Brilhos que cortava sua alma.

O vento sopra,
Filó uiva mais alto.
E a porta se abre.
Junto ao vento uma folha de árvore,
Uma folha seca e marrom,
Que na base da soleira,
Caiu no piso do chão.

A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava,
Antes do homem,
Do homem que passou por Filó,
Passou pela soleira onde eu brincava,
E com suas mãos me machucava.

Ali,
Ali mesmo na soleira da porta,
Aquela mesma,
Onde eu brincava,
Pelas mãos do homem,
Minha vida foi levada.

A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.
Antes de estar morta.

Vilipêndio- O Autor Pós Mortem (segundo volume de A Morte do Autor)Onde histórias criam vida. Descubra agora