A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.A frente da casa,
De cor branca amarelada,
Com a corrente de Filó no corrimão amarrada.Filó uivava tristonha,
De focinho a porta,
Fareja o vazio.A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.Maria,
Minha irmã mais novinha.
Afaga Milena,
Minha bonequinha.
Que por sua vez,
Jaz na mesa da cozinha.Mamãe a olhava,
A olhava da porta,
Mas desta vez,
Não é a mesma que eu brincava.Encarava Maria,
Com brilho nos olhos,
Brilhos que cortava sua alma.O vento sopra,
Filó uiva mais alto.
E a porta se abre.
Junto ao vento uma folha de árvore,
Uma folha seca e marrom,
Que na base da soleira,
Caiu no piso do chão.A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava,
Antes do homem,
Do homem que passou por Filó,
Passou pela soleira onde eu brincava,
E com suas mãos me machucava.Ali,
Ali mesmo na soleira da porta,
Aquela mesma,
Onde eu brincava,
Pelas mãos do homem,
Minha vida foi levada.A soleira da porta,
Aquela porta,
Aquela mesma em que eu brincava.
Antes de estar morta.
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Vilipêndio- O Autor Pós Mortem (segundo volume de A Morte do Autor)
PuisiSinopse CARO LEITOR, é um fato consumado, morri vertinosas vezes e Vivi outras mais. Sofri como Danilo. Amei como Glória. Abracei como Luzia. Perdoei como Bruno. Chorei como Alencar. Sorri como Felipe. Sonhei como Gabriel. Pouco sei sobre as vidas q...