Luzes da Cidade

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Música City Lights tocada no carro de Christian, acima:

Christian:

Passei anos da minha vida dizendo para mim mesmo e tentando acreditar que eu sou incapaz de sentir o amor, e de que esse sentimento não passa de uma metáfora. Mas Heloise conseguiu mostrar o contrário e agora ela nao está aqui.

De fato o meu mundo se colidiu com o mundo de Heloise, mas não existe perfeição que fizesse nossos momentos durar, porque apenas por alguns instantes nós fomos eternos e ela existirá eternamente em minha memória.

É tarde da noite, estou dirigindo a caminho de casa. As luzes da cidade estão iluminando as ruas pouco movimentadas por automóveis e pessoas.

Todas as janelas do carro estão fechadas, o ar condicionado está ligado e o rádio permanece desligado. Eu não vou ousar ligar somente para ouvir City Lights de Aaron Carter, desde que essa música foi lançada, em todas as estações só toca essa canção que me faz recordar de como cada noite era o meu tempo e o de Heloise.

A chuva já havia começado a cair, ativei o parabrisa para conseguir dirigir ja que lá fora a chuva insistia em ficar mais forte. Então o rádio liga sozinho, como eu previ está tocando City Lights, eu tento desligar o rádio, mas é como se ele tivesse vida própria, quanto mais eu apertava no botão para desligar, o volume da música só aumentava.

O carro estava desgovernado, ele foi para contra mão, as portas travaram sozinhas e eu só consegui ver o clarão de dois faróis.

Quando eu acordei, era noite. Eu estava deitado na terra molhada em frente à uma lápide, então eu li o que estava escrito na lapide:

- Christian Corvin, 1986 - 2014.

É parece que os meus dias de vida acabaram, mas por que eu ainda estou na Terra?

Enquanto eu caminhava em direção a minha em direção a minha casa em Londres, é como se nada fosse seguro para mim agora.

Caminhando sob as luzes da cidade as memórias voltam a vida, mostrando o quanto eu fui perverso, imprudente, egoísta em querer tudo só para mim e ainda não consigo acreditar em como eu vejo o rosto dela em tudo.

É errado culpar Caleb por ter matado Heloise, é errado culpar ela por nao ter sido forte o suficiente para se afastar de mim, porque ela tentou afastar-se, mas eu fui atrás dela e acorrentei ela em minha essência obscura.

Por toda a rua eu sinto a presença de Heloise mais forte, é como se ela estivesse me olhando o tempo todo, observando cada passo da minha alma na terra do pecado.

Eu queria poder toca-la, sentir o perfume dela e dizer o quanto eu lamento por tudo, e que se eu pudesse faria diferente, se eu pusesse voltar no tempo, eu deixaria ir para bem longe da minha escuridão.

Aevun:. Heloise

Observando o espírito de Christian vagar pela terra dizendo que se arrepende é pouco, porque ele nao parece está sofrendo.

- Não é o suficiente, a morte é pouco para ele.

- Dê tempo, Heloise, dê tempo. - Luck disse tranquilamente.

- Como Luck? Diga-me como?

Christian nunca soube o que é sofrer, mas eu passei minha vida toda sofrendo por ser maltratada por uma mulher que nem minha mãe era, por amar meu próprio irmão, por manter um relacionamento com meu professor, por ser renegada pelo meu pai, por não poder contar ou pedir ajuda à ninguém.

Eu guardei todo sofrimento para não machucar quem eu amava e agora eu estou sendo congelada pelas memórias e tentando queimar os vestígios de Christian que ainda restam na minha alma.

É difícil juntar os cacos de um coração partido, mas será se é possível encontrar algo que nunca foi seu? Meu amor está perdido entre as rochas desse lugar, toda a paz que eu sentia desvaneceu-se entre as névoas das noites frias e escuras nesse lugar.

Eu nunca acreditei que Aevun fosse um lugar real, mas agora eu sei que existe e cada segundo nesse lugar está me matando como se várias facas estivesse me perfurando.

Eu queria queimar as palavras que Christian dizia, mas elas me assombram como um fantasma no meio da noite. Ele mente tão bem quando diz que está arrependido, mas eu sinto que é mentira.

As palavras de Christian são como facas perfurando minhas veias provocando uma perda de sangue que me leva a morte aos poucos.

- Você acha certo odiar alguém que você amou a sua vida inteira? - pergunta Luck.

- O que é certo ou errado não se aplica a esse lugar. - eu fiz uma pausa. - não vivo mais, então não tenho remorsos.  - concluiu.

- Cuidado, Heloise. - Luck fez uma pausa. - Às vezes o ódio não deixa o ser humano ver a verdade e acaba confundindo a mente. - concluiu.

- Você se arrependeu de algo, Luck? - perguntei por curiosidade.

- Não. - ele disse sorrindo. - Eu fiz tudo o que convém às minhas vontades. - concluiu.

Eu não acreditava que o Luck tivesse razão, como eu poderia perdoar Christian? Eu não queria perdoá-lo nem tampouco a felicidade dele.

Nunca pensei que desejaria o mal de alguém, principalmente do Christian. Eu o amava mais do que amava a mim mesma, e mesmo quando eu estava com Caleb meu coração era do Christian e ele tatuou o nome dele em minha alma.

Tudo o que Christian toca vira cinzas, queima, desmorona. Porque ele é tipo de pessoa que destrói tudo aquilo que ver, deseja e toca. Christian é uma bênção e uma maldição, um bem e um mal, ao mesmo tempo que ajuda, ele também machuca.

Quando eu pertencia a Christian era a calmaria antes da tempestade, e naquele temporal, eu transbordava até nao aguentar e quando eu não aguentava mais, eu corria e me escondia para chorar comigo mesma.

Eu não acreditava que o amor fosse radical assim. Ele parecia ser bom, puro e ingênuo, mas o amor levou meu corpo para debaixo da terra e aprisiona minha alma onde as memórias voltam a vida e podem ser eternas.

"Eu vejo meu corpo congelar nessa música."

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