Caso de Polícia

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O plantão na Delegacia havia sido tranquilo, como há tempos não acontecia. A vida de delegada de Polícia Civil ainda era algo novo para Juliana. Ela estava aprendendo a enfrentar a realidade dos crimes em uma carreira precoce aos 29 anos.

Queria ser juíza e o cargo de delegada era um dos seus degraus, para o qual estudou anos, perdendo boa parte da sua juventude. Namorados? Ficantes? Noitadas? Tudo isso ficou de lado. Atribuía a toda essa renúncia e consequente falta de experiência com o sexo oposto o fato de estar envolvida agora com alguém tão diferente dela.

Inspetor Nogueira, 32 anos e um temperamento semelhante ao de um pitbull. Desde a chegada de Ju na delegacia, não houve um só dia que não tivesse batido de frente com a Barbie, como ele gostava de chamá-la pelas suas costas. Bom, na verdade, houve um dia de trégua. Aquele maldito dia, como Juliana gostava de dizer.

Um político influente havia sido brutalmente assassinado e Ju estava imersa na investigação sigilosa do caso. A mídia estava nos seus calcanhares e ela precisava de alguém realmente competente para acompanhá-la na loucura que estava prestes a fazer.

Uma fonte segura havia lhe contado que os principais suspeitos se reuniam num galpão em uma zona afastada da cidade e ela decidiu ficar de tocaia em um carro blindado no endereço fornecido. Perguntou a Nogueira se ele poderia ir com ela. Por mais que detestasse a ideia, ele era o mais inteligente entre os inspetores.

E assim ficaram duas horas sentados naquele carro esperando alguém aparecer, no mais profundo silêncio. Nogueira estava começando a praguejar a fonte de Juliana, até que um dos vereadores do partido político do defunto surgiu ao longe.

— Shhh, fica quieto, Nogueira. Olha lá, é um dos caras.

— Puta merda, é mesmo o filho da puta.

Depois do vereador entrar, outros foram chegando um a um, em bons intervalos de tempo. Eles não tinham nenhuma ligação partidária para estarem se reunindo, o único interesse em comum eram os desafetos com o morto. Horas depois, da mesma forma que entraram, saíram isolada e disfarçadamente. Às 4h da manhã, só faltava um político deixar o local. E bastou o velho barrigudo despontar na saída para mais uma briga de Juliana com Nogueira começar.

—  Eu vou lá —  ele ousou segurar a porta para abri-la, mas Ju agarrou no seu braço forte.

—  Você tá louco? Você não vai a lugar nenhum.

—  Vai deixar todos eles escaparem? Foi pra isso que você me chamou aqui? Vou torturar aquele velho até ele me dizer toda a verdade.

—  Não é assim que as coisas funcionam, Nogueira!

—  É como é? Fala pra mim como as coisas funcionam no mundo da Barbie? Acorda, Juliana! A teoria que você aprendeu nos seus livrinhos não funciona aqui fora. Não existe Justiça, isso aqui é a Justiça —  ele apontou para a mão fechada.

—  Eu não vou deixar a sua selvageria atrapalhar a minha investigação nem colocar nós dois em perigo. E não esqueça que a Barbie está acima de você. Eu exijo respeito!

Nogueira bufou profundamente, relaxando o corpo sobre o banco, parecendo um pouco arrependido, mas ainda puto. Seu olhar encarou o lado de fora e seus pensamentos foram para longe.

— Perdi minha mãe em um assalto, excelentíssima doutora Juliana. Foi o tiro de um vagabundo na cabeça dela que fez eu me tornar o que sou. Então da próxima vez que a sua ideia for ficar olhando assassinos passearem sem fazer nada, chame outro inspetor.

Cacetada.

—  Sinto muito — sussurrou, realmente tocada com a revelação.

—  Este é justamente o seu problema. Você sente muito, se importa com as pessoas. No nosso meio, você não pode sentir, você só tem que agir, entendeu?

Prazer, CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora