Divorciado

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Finalmente uma vaga conquistada em um escritório de advocacia e Amanda ia sair da mais profunda merda que estava afogada desde que mandou seu chefe assediador para o quinto dos infernos.

Merecia comemoração, ela pensava enquanto acendia seu cigarro black em uma festa barata nos cafundós da cidade. Não queria ser vista por conhecidos, estava se reencontrando com sua própria companhia. Suas amigas haviam desaparecido depois do seu último relacionamento abusivo. Ela não as culpava por isso, porém tal compreensão não mudava o fato dela estar sozinha.

Bom, isso também não era tão ruim quanto imaginava, Amanda concluía enquanto tomava animada mais um drinque no cartão de crédito, já contando com seu próximo salário.

Aquela música, ela amava aquela música. Uma batida eletrônica das boas, que vibrava cada veia do seu corpo, a fazendo se sentir viva novamente. Dançou essa melodia, a que tocou em seguida e depois mais uma. Lamentou ao olhar o relógio, precisava estar cedo no trabalho no dia seguinte, mas se permitiu um último drinque de Gin.

Quando pediu a bebida, percebeu a gargalhada vindo ao seu lado no balcão. Olhou então na direção do som, mas tomou um baque tão grande que a quentura foi dos seus pés ao ventre em segundos, como um raio.

Ele era mais velho, talvez uns 35, muito distante  dos seus 25. Mas era perfeito, um exemplar de homem que nunca havia provado na vida. Amanda estava acostumada com os caras da sua idade, como Jonh, seu último namorado que desgraçou a sua saúde mental.

— Sabe o que é mais engraçado? — o homem moreno parou de rir sozinho e olhou para ela. — Aquela desgraçada foi a única que me convenceu a casar.

Amanda precisou se esforçar para fazer de conta que aqueles olhos verdes sobre ela não a deixaram nervosa.

— Dor de corno? — recorreu à sua personalidade espevitada.

— Bingo — ele tomou mais uma cerveja, como se não estivesse suficientemente bêbado.

— Bem-vindo ao clube. Se quer um conselho, vai passar.

— Você não tem idade para me dar conselhos — ele sorriu e, quando fez isso, Amanda sentiu de vez o impacto da flechada.

— Por que não vem dançar ao invés de ficar julgando a idade alheia? — ela sugeriu, deixando seus hormônios falarem.

— Boa ideia. Talvez isso você possa me ensinar.

Amanda estava praticamente em chamas com o corpo daquele homem tocando levemente o seu enquanto trocavam passos de uma batida internacional um de frente para o outro, se encarando com insistência, em uma química visceral.

Quando o jogo de luzes batia sobre os seus corpos, ela reparava mais de perto como ele era um homem elegante, mesmo que hoje não fosse o seu melhor dia. A camisa social preta estava desabotoada até o peito forte e o cabelo levemente desgrenhado. Amanda se perguntou como essa espécie foi parar ali naquela espelunca e se convenceu de que a decepção dele deveria ter sido mesmo muito grande. Talvez, assim como ela, ele quisesse fugir de conhecidos, do mundo e do que costumava ser antes.

Quando ele tocou firme na cintura dela e levou a boca para o seu ouvido, Amanda sentiu pela voz sedutora do desconhecido que ele, novamente assim como ela, não era de meias palavras.

— Na minha casa ou na sua? — a pergunta com um ar divertido veio depois de enxergar nos olhos de Amanda um traço que ele já tinha total prática e habilidade para identificar em rostos femininos: tesão.

— Na sua — Amanda respondeu, certa de que sua última dose de juízo havia sido tomada mais cedo com o Gin.

Depois de um caminho estranhamente  silencioso em um uber à meia luz, a porta de uma cobertura luxuosa estava diante dos olhos de Amanda, dando a ela a certeza de que este encontro não poderia ter sido mais improvável. O homem era rico de verdade e em sua estante ainda estavam os porta-retratos dele com a suposta  traidora, um perfeito exemplar de loira odontologia.

Prazer, CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora