Cicatrizes

Prólogo

 A sala estava com um ar aconchegante e acolhedor, mais do que o normal, principalmente, talvez, devido à chuva que ocorria lá fora, os trovões soavam furiosos do outro lado da janela, a sala estava iluminada pela luz da lareira, as sombras daquele lugar pareciam maiores, agora essa ideia só me parece ser uma péssima ideia, eu só queria dar meia volta e sair pela porta, mas se fizesse isso teria de evitar ele pelo resto da vida, o ser que se encontrava na poltrona estendeu uma das mãos, revelando estar com uma taça de vinho vazia, a figura colocava a taça na mesinha e cruzava as mãos.

- Então...sobre o que queria conversar comigo?

Engoli em seco antes de continuar

- Eu...estou saindo - Minha voz saiu como o guincho de um animal prestes à morrer.

Ele apenas deu uma risada seca, como se fosse uma piada.

- Me desculpe mas...poderia repe-

- Eu estou saindo, estou deixando o seu grupinho

Ele suspirou de forma audível, e visivelmente decepcionado.

- Quer ir embora? Por causa daquele acidente?

- Sim...- Tudo que eu precisava fazer era sair pela porta, mas minha boca foi mais rápida - Você sabia...sabia que eu e ele não éramos normais!

- Ora por favor...por qual motivo você acha que trouxe vocês para esse...grupinho?

Senti as lágrimas queimarem em meus olhos, eu não queria chorar, mas era quase impossível, depois de tudo, ele ainda conseguia tratar meu irmão como se não fosse nada.

- Você que tinha convencido ele...ele foi porque você-

- Ele foi por sua causa! Estava lá por você, e se você quer ir embora, então vá, não vou te impedir de ir. Mas saiba...se você sair...vai ter uma dívida de vida comigo.

Eu estava tremendo, sorte minha de ele estar sentado naquela poltrona. Cerrei os punhos, tudo que eu queria era dar um soco no rosto dele, mas tudo que pude fazer, foi responder com uma voz mais trêmula do que eu gostaria:

- Não vou sentir sua falta.

Saí e bati a porta com força. 

A figura se levantou e ficou na frente da lareira.

- Eu também não sentirei sua falta...minha cara...

Então apagava a lareira.

- Eu também não...