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m.

hoje era o grande dia que eu desfilaria mais uma vez. eu gostava de fazer isso, ficava bastante nervosa mas no final sempre dava tudo certo. o desfile de moda inclusiva acontecia todo ano, e todo ano eu era chamada para poder desfilar usando roupas de estilistas super talentosas.

estava em uma sala com outras garotas cadeirantes para fazermos a maquiagem, era visível o nervosismo em todas nós, mas gostávamos de fazer aquilo, bom, pelo menos eu gostava. fui chamada e era a minha vez de se maquiar, e até que eu tinha gostado do resultado.

uma menina veio me entregar a roupa que eu usaria e chamei minha mãe para que me ajudasse a colocá-las, fomos até o provador e me arrependi de ter chamado minha mãe para me ajudar, já que a mesma só sabia reclamar que a roupa que eu usaria era feia, porém que culpa eu tinha? eu só estava ali pra desfilar.

voltamos novamente pra sala e fiquei na minha pensando o quão duros meus pais eram comigo. eu estava respirando fundo para não chorar e borrar a maquiagem, se não eu levaria mais esporro ainda. eu só estava cansada daquilo tudo.

uma mulher responsável por ajeitar o cabelo das meninas me chamou trocentas vezes e por eu estar no mundo da lua acabei não ouvindo, e consequentemente minha mãe ficou reclamando comigo.

não achando o suficiente, ela começou a reclamar agora de não ter gostado do penteado que fizeram em mim, e mais uma vez a vontade de chorar me invadiu e eu respirava fundo o máximo que conseguia.

mandei mensagem pras meninas tentando me acalmar e contando pra elas tudo que estava acontecendo, e elas ficaram me dizendo palavras reconfortantes me deixando mais calma.

deu a hora do desfile e todo aquele discurso de começo de desfile foi dito. tivemos que nos posicionar nos nossos lugares para quando fôssemos chamadas.

minha vez chegou e antes de entrar eu respirei fundo e fui com tudo sendo ovocionada por algumas pessoas. meu sorriso não saia do rosto, mas infelizmente aquele sorriso era mais falso do que os sorrisos que meus pais davam pros outros quando eles me elogiavam para eles.

o desfile já tinha acabado e eu e todas as meninas estávamos na sala esperando pelo resultado, fiquei mexendo em meu celular enquanto não éramos chamada novamente. as outras meninas ficavam conversando entre si e eu estava mais na minha, não queria conversar.

fomos chamadas para o resultado e a roupa que eu estava tinha ficado em segundo lugar, a estilista ficou feliz pelo resultado e eu fiquei feliz por ela.

voltamos novamente para a sala e eu fui me trocar, dessa vez sozinha. tive um pouco de dificuldade mas consegui tirar a roupa e vestir a minha. voltei para a sala e desfiz meu penteado sentindo meu cabelo totalmente duro por conta do fixador.

meus pais estavam do lado de fora da sala com cara de quem comeu e não gostou e eu apenas fiquei quieta na minha. fomos pro estacionamento para entrarmos no carro e fiquei ouvindo mais gracinhas ainda.

– dessa vez sua roupa tava ridícula, teu cabelo tava ridículo, até aquela maquiagem estava um pouco ridícula. você resumidamente estava ridícula. – meu pai fala olhando pra mim pelo retrovisor do carro.

– estava ridícula mesmo. eu odiei tudo e fui obrigada a ficar lá esperando aquilo tudo acabar. o pior de tudo é que nem em primeiro lugar ficou. – minha mãe falou alimentando o desprezo de meu pai.

botei meus fones e decidi os ignorar pois se ouvisse mais um pouco daquelas palavras, eu iria abrir a porta do carro e me jogar pra fora porque eu não aguentava mais passar por isso todos os dias.

assim que chegamos em casa, fui direto tomar banho pra tirar aquele fixador do meu cabelo, e a maquiagem também. eu estava me sentindo cansada, esgotada, e eu sei que o motivo era meus pais, eles detonavam meu psicológico e me faziam me sentir a pior pessoa do mundo por simplesmente nada.

sai do banho secando meu cabelo com a toalha e ouvi a casa em silêncio. agradeci a Deus por provavelmente estar sozinha em casa e não ouvir a voz deles. resolvi apenas dormir de cabelo molhado mesmo, precisava descansar.

(...)

acordei ouvindo risadas altas vindo da cozinha e tentei dormir de novo, mas não consegui obviamente. fiquei alguns minutos deitada na cama ouvindo o que meus pais falavam, e resolvi levantar para comer alguma coisa.

chegando no local eles cessaram a risada e me olharam com olhos frios. eu não disse nada, apenas me encaminhei para dentro da cozinha pegando a jarra de água.

– olha só quem acordou, a preguiçosa. – minha mãe alfinetou.

– conseguiu tirar aquele negócio do teu cabelo? – meu pai diz com a voz raivosa. apenas balanço a cabeça em confirmação. – não tem mais boca pra falar não?

– o que eu vou dizer? vocês só sabem me criticar. – falo olhando pra ele sem recuar.

– te criticar? tô falando a verdade, você estava ridícula. – ele fala e bebe seu café com total despreocupação.

– maisa não sabe ouvir a verdade que já fica bravinha. – minha mãe diz rindo com deboche. respirei fundo me segurando para não explodir e falar merda.

– se vocês continuarem a falar merda eu vou me trancar naquele quarto e não vou mais falar com vocês. – digo rápido com mágoa na voz.

– e quem liga? merda é o que você está dizendo aí de se trancar. – minha mãe fala me olhando com superioridade.

– por que vocês são assim? que droga! eu só queria viver um dia bem nessa casa, mas vocês fazem de tudo pra me atacar, eu não posso dizer um a que vocês já estão falando no meu ouvindo, me xingando, me humilhando. eu tô cansada disso. – digo chorando enquanto gesticulo com os braços.

– ai meu Deus maisa, para de drama. – meu pai diz gritando.

deixo a jarra de água em cima da pia e volto pro meu quarto chorando muito. eu não entendia, juro que eu não entendia o porquê eles me tratavam assim, eu nunca tinha feito nada com eles, eu não merecia isso. eu só queria viver em paz. queria pela primeira vez respirar com tranquilidade sabendo que ninguém vai vim me criticar.

eu preciso me livrar disso que estou vivendo, preciso encontrar um ponto de paz em qualquer coisa ou lugar. eu só preciso encontrar a minha felicidade seja ela como for.

"tal como o espaço vazio numa pintura, o tempo em que nada acontece tem seu propósito. – de bono."

a procura da felicidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora