8 - Floriu pra morrer.

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                                                         ⊱───────⊰✯⊱───────⊰


        Criei um gosto estranho por roupas floridas, eu gostava de ter as flores em mim. Benjamin disse que os vestidos soltos que escolhia eram quase sempre da década de quarenta, ele tinha lembranças de sua avó vestindo algo como aquelas peças. Como esfriava, passei a usar casacos de tricô e um sapato surrado que peguei em um bazar de caridade.

       Meu primeiro par de meias listradas me causou um estardalhaço. Meus pés ficaram quentinhos e confortáveis e coloridos. Mas eu ainda preferia ficar descalça.

      Ben me contou que tinha 31 anos e fazia aniversário no dia 9 de fevereiro, ele vinha de uma família grande, cheia de irmãos. Era esse o motivo talvez, que observei, dividia tudo o que tinha. Para mim era um pouco frustrante não saber o dia de meu próprio aniversário para poder assar um bolo e comemorar como todo mundo. Concluímos que minha idade física estava entre 18 e 25 anos. Uma jovem magricela.

      Eu visitava Clara com mais frequência, temerosa de não a ver enquanto meus olhos poderiam. Pensando nisso soube que nunca precisaria deles para vê-la.

      Naquele dia, furtei uma florzinha alaranjada e cheia de pétalas que recolhi no gramado do Hospital para ela e pus no vaso em lado da cama.

      Clara estava pálida e cansada, mas o sono não a visitava para poupa-la da realidade. Me assustei dolorosamente com a luz opaca que eram seus olhos... era quase como se...

      Como se a vida a estivesse deixando.

      Balancei a cabeça para expurgar o pensamento.

      Ela bocejou e então pediu com a voz rouca para ir até a janela se esquentar "juntinho" do Sol. Meu coração pesou. Queria poder lhe oferecer meu corpo para ela ter forças para correr e brincar, e ficar na sob sua luz sem esforço.

      O pai Rubens e pegou gentilmente no colo e caminhou cantarolando com ela. Sua expressão era tranquila, mas por um momento mínimo, vi pelo reflexo do vidro o homem quebrado que guardava por dentro, ele o suprimiu rapidamente.

       Postei-me a seu lado e segurei sua mão grande.

      Tome a minha força.

      Segurei na pequena mão de Clara também.

      - Você é sua própria luz.

       A mãe de Clara parecia um pouco melhor hoje, juntou-se a eles assim que adentrou o quarto, ela era linda, cachos escuros derramavam-se até o queixo triangular, os olhos grandes sempre atentos. Sua presença encheu o ambiente. Beijou Clara na bochecha afagando-a e recostou-se no marido.

      Fomos aquecidos por dois Sois.

      E todos nos esquecemos de onde estávamos ou o porquê.

      Afastei-me para dar a eles alguma privacidade e os observei cheia de calor.

      Não chorei porque não pude me conter.

      E nem porque seria a última vez que os veria juntos.

      Chorei por que a vida, em sua forma real é formada de momentos no presente.

       Daqueles que em meio a todo o caos, se você permitir, haverão brechas de felicidade.

       E em meio a tanta dor, há algo muito mais forte e poderoso que faz com que sua existência, mesmo que brevemente, seja anulada.

A Longevidade das Borboletas.Onde histórias criam vida. Descubra agora