2 - O cachorro quente existencial

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       Cores brincavam através de minhas pálpebras, sonhava com incontáveis rostos e formas, eles giravam em torno de mim como um vendaval de faces, soube que estava sonhando e tentei resgata-los, trazer meu inconsciente á tona. Mas então num esforço tremendo tudo apagou-se de súbito, e senti uma dor sufocante no estomago...

       Acordei na calçada com o ar escapando-me rápido pelos pulmões, tateei com as mãos o lugar da dor e olhei para traz a tempo de ver um sujeito levantando-se boquiaberto do chão, limpando os joelhos enquanto voltava a andar muito rápido pela multidão de pessoas. Ele tinha tropeçado em mim.

       Fiquei magoada mas busquei entende-lo, afinal ele não tinha culpa por eu existir ali e ainda por cima ter um estomago para ele chutar. Desculpe-me rapaz.

       Sentei-me e me espreguicei. Esperei por algo acontecer e eu recordar das coisas esquecidas... elas não foram lembradas. E minha barriga roncou.

       - Não vou ignora-la muito mais barriga, vamos comer.

       E ela roncou novamente.

       Meus olhos se encheram de lagrimas e eu me abracei. Ela respondeu! Algo preencheu meu peito como um balão de ar quente. Alegria. Passei vários minutos sorrindo bobamente até o balão esvaziar-se, deixando somente o calor.

      Me pus em pé renovada e caminhei pelas ruas seguindo meu nariz.

       Apesar de nunca me lembrar de como, reconheci os cheiros de pão quente e fritura, café fresco e um emaranhado de frutas. Encontrei-me entre uma feira a céu aberto e uma padaria charmosíssima com margaridas nas janelinhas de madeira. Reparei com um sobressalto que eu sabia ler.

      Com a mente a mil comecei a ler placas e cartazes em voz alta, gritei e gritei, dei pulos e abracei uma senhora que estava prestar a atravessar a rua, ela não pareceu se importar.

      -Eu sei ler! – Minha garganta borbulhava em risadas

      Dançando, voltei a feira e peguei a mais vermelha das maças, suculenta, ela derramou-se em minha boca faminta, me engasguei de leve, e então aprendi a come-la. Doce e molhada.

      -Ah! – Exclamei – Deliciosa... –Ouvi o prazer em minha voz e arrepiei-me.

       Entrei da padaria e peguei um pedaço quente de pão e um copinho descartável com café, por um breve instante achei que a atendente sorria para mim, mas em vão, ela sorria através de mim, para a mulher em minhas costas. Seu nome era Charlotte. Soube disso porque li em seu crachá de funcionaria.

       Sou uma leitora excecional, não há como negar.

       Comi e bebi alvoroçada, não soube comparar o saber do pão e do café com nada, eles simplesmente tinham gosto de... pão e café! Crocante, macio e quente, como uma nuvem densa e salgada, e o café que em um gole possuía minha língua por completo, acariciando-a com seu saber forte.

       Comer era maravilhoso.

       Eu não queria pegar mais coisas do que precisava, mas estava tão curiosa sobre os sabores que furtei mais um morango e um cacho de uvas verdes. O homem da feira não tinha um crachá com o nome, mas observei-o. Tão curiosa era sua barba pintada de azul e ele possuía uma certa graciosidade com as mãos que prendeu meus olhos. Logo um de seus clientes o chamou de ''Jorge'', e achei que era um bom nome.

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