entrevista.

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  Agora num registo mais pessoal, acredita no amor?

No amor seguramente acredito. Há coisa mais bela? Não há. Se for o amor da tua vida então, não há nada melhor. Mas quando não é, não é mas é vivido forte e é vivido bem. Vale o vazio? Vale a ausência? Vale o desiquilíbrio, a solidão, vale as noites em branco, vale as lágrimas, vale os lenços e o papel higiénico atirados do escuro da cama?

Que até pode não ser dos amores que entram de rompante, pode ser dos que batem à porta e entram devagarinho, sentam-se à mesa e conversam dia e noite e dia de novo, e quando dás por isso já lá estão, sempre, presentes na tua vida, e és tu, ele e ela, os três de mão dada e não sabem, não sabem ver quando ele sai pela mesma porta por onde entrou. Não querem acreditar. E é tão triste, tão gradual, que quando dás por ti já foi. Já não está, já não é. Agora são só memórias. Tudo o que foi construído, é só uma memória! E dói. E choras. Só há uma coisa a fazer e é das mais difíceis que fazes nesta vida. Pode não ser na altura, pode até já ter sido parte, mas é, e magoa.

E depois choras mais, porque sabes que perdeste, mas não sabes bem o quê. Tens medo, tens medo que seja uma vida, tens medo que seja o sorriso da manhã, o aconchego à noite, o abraço apertado, tão apertado que aleija não conseguires apertar mais, o infinito que é um beijo, daqueles bem dados, profundos na alma, que demoram o tempo que quiseres, que até podem durar para sempre.

E não é que não saibas quem és agora, é que sabes perfeitamente o que já não és, o que já foste. Dói, porque não te falta nada, mas estás tão longe de ter tudo. E é duro, mas é assim. Agarras-te à vida, com unhas e dentes, podes não pensar nisso, mas há noites que aleijam.

É a maior dor que carrego comigo, a dor de um amor perdido.

Não sei se respondi à sua pergunta.

O dia que passouWhere stories live. Discover now