⏩To want⏪

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Todas as manhãs, ele deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver.”

Jungkook

O sol iluminava as paredes frias e secas do meu quarto. O vento ecoava pelas janelas, fazendo um ranger estridente que me deixava irritado. Ao lado da minha cama, havia um pequeno caderno onde escrevia meus pensamentos. Acredite ou não, isso não é um diário. Esse termo não se aplica ao fato de que expor minha vida em pedaços de papel não é nem um pouco agradável.

Falando em vida — se é que tenho uma — verdadeiramente gosto de me imaginar um super-herói, sabe? Típico de cinema, os implacáveis ou sei lá como são denominados hoje em dia. Gostaria de ser imbatível, sem nada que me destruísse ou me causasse dor, neutro nesse mundo que só me atrai coisas ruins.

— Jeon Jungkook, é melhor que desça logo pra comer! — escuto a voz gritante de minha mãe, que soa como um eco em minha mente. Ela estava no fogão, preparando omeletes, suas mãos movendo-se habilidosamente enquanto conversava com meu irmão, que, de relance, parecia não lhe dar atenção. — Ande, filho, venha, você precisa se alimentar. — Sento-me em uma das cadeiras enquanto ela me serve. Seu sorriso carinhoso me alegra, trazendo calor nos momentos de escuridão.

Nem sempre ela foi assim. Lembro-me claramente de quando se separou do papai. Sempre foi uma mulher independente, levava uma vida fácil e cheia de luxos, mas tudo foi por água abaixo quando, por grande infortúnio, engravidou de mim. A gravidez na família nunca foi aceita, para começo de conversa. Diziam que a reputação dos Jeon seria abalada, pois ela engravidou de um qualquer. Coisa idiota, em minha opinião, mas ela deu a volta por cima, criou-me sozinha até encontrar o cara certo — ou seja, meu adorável (nem tanto) pai.

A relação dos dois foi um conto de fadas, flores e chocolates, e aquele horrível clichê era visível para quem quisesse notar. No começo, foi tudo mil maravilhas, um casal apaixonado que causava impacto em todos ao redor.

Ela o amava demais e se machucou na mesma intensidade...

Depois da chegada de meu irmão e da terrível aparição do meu "problema", a família tornou-se um caos. Papai sempre chegava bêbado em casa, brigavam como cão e gato, com gritos ecoantes e avassaladores que cobriam o espaço confortante da casa. Ele foi embora dois meses depois. Lembro-me claramente das últimas palavras ditas por ele, que não queria uma família defeituosa, que já estava cheio de problemas; em outras palavras, nos mandou se ferrar, como se não fôssemos absolutamente nada.

Mamãe chorou por dias até se recuperar totalmente. Temo que, por minha culpa, ela foi obrigada a se reerguer. Teve de ser mais forte ainda quando descobriu que seu amado filho poderia morrer...

Isso mesmo que você ouviu: eu vou morrer! Talvez hoje, amanhã ou até quando eu for capaz de sobreviver. Essa é a questão; meus dias são inteiramente contados até que, no momento certo, eu deixe de existir, como poeira em pequenas e inexistentes partículas.

— Já tomou seus remédios? — Mamãe pergunta, me retirando dos meus devaneios. Maneio a cabeça em concordância, ainda que me obrigue a dizer que não vale a pena.

— Não sei por que tenho de tomar essas porcarias diariamente! — digo num suspiro inconformado. Mamãe me olha com tristeza. Por mais que ela diga que vai ficar tudo bem, eu sei que não vai... no fim, nada vai acabar como o planejado.

— Se apresse pra ir ao colégio, filho! — Com os olhos marejados, ela me dá um último beijo e força um sorriso.

Dou-lhe um abraço e acaricio o topo da cabeça de meu irmão, que sorri alegremente. Respiro fundo, finalmente saindo de casa. Na minha mente, eu constantemente repetia:

Before you goOnde histórias criam vida. Descubra agora