Capítulo 10 - Família

37 4 71
                                    

Família
Família
Papai, mamãe, titia

XOXO

Samira

A família Scarlatti era razoavelmente grande. Eu tinha cerca de 10 tio-avós do lado de meu pai, mas meu avô paterno tinha tido só três filhos. Tia Dani, a mãe de Érica, tinha quatro. Tio Rodrigo, pai de Gui, tinha cinco.

Eu era filha única. Não exatamente por escolha de meus pais. Era o tal problema já anteriormente mencionado: não conseguir segurar uma gravidez com facilidade. Em um tempo em que o normal era se ter pelo menos dez filhos, minha bisavó teve três. Uma tia-avó minha sequer tinha filhos. Não foi por escolha das duas, importante frisar. Por parte de pai, o normal era ter muitos filhos. Por parte de mãe, ter um já era um milagre.

Minha mãe tinha sofrido muito com isso. Ela viu a irmã e a cunhada de meu pai tendo filhos enquanto nenhum dela "vingava". Meu pai já tinha quatro sobrinhos, dois de cada irmão, quando ela finalmente ficou grávida de mim.

E eu vim.

Fui a última esperança. Depois disso, ela teve que tirar o útero.

Por isso, meus pais sempre me trataram como seu maior tesouro. A herança de Deus para eles, diziam. Mesmo assim, foi razoavelmente fácil me mudar para outro lado do mundo.

Isso para mim era cômico, pois Érica era a segunda mais velha de quatro irmãos e mesmo assim tinha tido uma dificuldade enorme para convencer meus tios a deixarem-na morar aqui.

Fala sério. Não é meio sem sentido?

Talvez fosse a diferença de convivência com Gui. O fato dele já estar em Seul quando eu decidi vir foi muito confortante para meus pais. Quando Érica veio, por outro lado, nós dois estávamos aqui, e nem por isso foi fácil. O fato deles não morarem no Brasil fazia com que nos víssemos somente em datas comemorativas, porém, Gui morou comigo e meus pais por muitos .anos. Eles tinham bastante confiança em meu primo, que tinha se tornado praticamente um filho para eles.

Bem, essa era uma das datas comemorativas. Natal.

Eu amava estar com eles. Amava mais do que tudo estar com minha família. Desde que Gui se assumira, porém, nunca mais fora a mesma coisa. Digo, não tínhamos mais seus pais e irmãos por perto, pois tio Rodrigo não aceitava ficar perto dele de maneira alguma, menos ainda deixar meus primos próximos, agindo como se sua homossexualidade fosse um tipo de doença altamente contagiosa.

Deus, como aquilo me irritava! Não tinha sequer palavras para descrever o quão horrível era aquela atitude. Ele sequer se importava com a forma como aquilo afetava a família.

Se meus avós estivessem vivos, morreriam de desgosto. Eles sempre prezaram a família acima de tudo. Com isso, estava falando de união, família unida, que se ama e se cuida.

Aquilo era uma palhaçada.

— Truco! — gritou Ju, irmã de Érica, 15 anos, totalmente empolgada e confiante. Olhei para meu parceiro, papai, sentado no chão bem à minha frente. Ele piscou pra mim. Significava que não tinha mais cartas tão "fortes". Bem, eu tinha a terceira mais forte do jogo. A resposta estava em minhas mãos. Deveria aceitar? Poderia ganhar três pontos ou perdê-los. Deveria aumentar a pontuação?

Hm. Por que não?

— Seis! — respondi, esforçando-me para parecer ainda mais confiante.

— Nove! — retrucou.

Certo. Fodeu.

— Desce! — provoquei, como se não estivesse rindo de desespero por dentro.

Olhei para ela, ela olhou para mim. Olhei para meu pai, para ela novamente. A tensão era tanta que poderíamos imaginar que a partida era tão importante quanto uma reunião da ONU.

Scarlatti (BTS - Jungkook x O.C)Onde histórias criam vida. Descubra agora