Capítulo 5

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Com o passar dos dias, com muita atenção, Alice conseguiu manter a farsa de ser a Condessa de visita. Pelas janelas, de vez em quando, via os homens que a perseguiram a rondar os portões, impossibilitando a sua saída, não queria pôr os irmãos em perigo...

Quase todas as noites encontrava-se com Arthur na varanda. Após a segunda noite, Arthur pediu para os empregados levarem duas espreguiçadeiras para a varanda e deitavam-se nelas à noite, onde ele explicava as constelações a Alice e ela ouvia com muito interesse. Adorava as estrelas e Arthur explicava muito bem.

Naquela manhã, Alice estava especialmente animada e descontraída então, pela primeira vez desde a morte dos pais, decidiu vestir um vestido. O que escolheu era azul marinho e soltinho, esvoaçando um pouco quando chegou ao jardim, onde estavam a tomar o pequeno-almoço.

Ao sentar-se à mesa, estranhou a movimentação dos empregados então perguntou a Rose o que se passava.

– A duquesa Eliza está de visita. Sei que pediste para sermos só nós, que te querias afastar de toda a formalidade, mas Eliza queria imenso vir, especialmente quando soube que cá estava, ela não te vê há imenso tempo.

– Tudo bem... Sei que não tenho o direito de vos isolar apenas por minha causa. Se me derem licença, não me sinto muito bem, irei para o quarto. – Dito isto, voltou para o quarto com mil pensamentos a rodar-lhe na cabeça. Já tinha uma enorme dificuldade a enganar todas aquelas pessoas, agora viria mais uma?

Quando já estava no quarto, foi até à janela, de onde viu novamente os homens a rondar os limites da propriedade disfarçadamente. Afastou-se antes que a vissem e deitou -se na cama. Não tinha forma de sair com os irmãos antes da duquesa chegar com aqueles homens a rondá-la.

Nessa mesma tarde, a duquesa chegou. Com toda a futilidade que tinha ouvido Arthur queixar-se anteriormente, aquela rapariga passou pelos portões com a sua roupa de marca e penteado rebuscado. Quando saiu do carro, percorreu o olhar pela família que a esperava, com um ligeiro sorriso de satisfação... Até olhar para Alice e os irmãos, aí Alice pode ver que tudo dentro da duquesa se contorceu para não se encolher, especialmente quando olhou a forma simples como estavam vestidos e as sapatilhas nos seus pés. O olhar de repulsa não lhe passou despercebido.

– Barão Charles, Baronesa Roselin, que prazer rever-vos novamente. – Exclamou graciosamente. – Phillipp... E Arthur. – A Alice também não passou despercebido a forma como ela proferiu o nome do último e a forma que se chegou perto demais quando o cumprimentou.

– Duquesa Eliza, esta é a Condessa Amanda e os seus irmãos, Mia e Raphael.

– Que prazer revê-los. – Ostentava um sorriso sarcástico. – Da última vez que a vi o seu cabelo era loiro, o que aconteceu?

– Escureceu com os anos, apenas isso. – Respondeu simples, temendo que uma resposta mais elaborada a pudesse entregar.

– Que seja. – Exclamou desinteressada. – Arthur, gostaria de me acompanhar até ao meu quarto? Tenho medo de me perder nesta casa enorme.

-Se faz questão. – Aceitou com um revirar de olhos. A duquesa nunca teve problemas em orientar-se em casas grandes, mas de alguma forma sempre procurou uma forma para ficarem sozinhos, e Arthur sabia disso. Ela aproveitava-se do seu respeito para se atirar a si.

– Ótimo. – Disse contente, agarrando-se ao seu braço e puxando-o para a entrada da casa. Alice ficou a observá-los afastarem-se enquanto Mia e Raphael iam brincar nos jardins da casa e Rose falava com o marido.

– Ela sempre foi assim. – Exclamou Rose assustando Alice.

– O quê?

– A duquesa. Ela sempre procurou motivos para andar com o Arthur. Não sei que alguma vez percebeu que ele apenas o faz por respeito, mas se percebeu ignora esse facto. Sinceramente, nunca vi um brilho apaixonado no olhar do meu filho dirigido a ela. Verdade seja dita, nunca vi esse olhar dirigido a ninguém. Se bem que por vezes parece-me ver uma faísca desse olhar quando ele olha para ti, Amanda. – Disse a última parte mais para si do que para Alice, como se só se tivesse apercebido daquilo quando estava a falar.

– Ela faz isso muitas vezes? – Perguntou curiosa.

– Desde os cinco anos, quando se conheceram. Sinceramente, sempre temi que essa insistência resultasse e que Arthur se subserviesse a uma menina mimada como ela para o resto da vida. Mas também sempre tive fé que o que lhe ensinámos fosse suficiente para ele aprender a seguir o seu caminho e as suas ideias. Bem, trocando de assunto, queres vir ajudar-me na cozinha? De tempos a tempos, preparo uma refeição para dar uma folga aos cozinheiros.

– Claro, vamos, também sinto falta de cozinhar para os meus irmãos.

Nessa noite, ao jantar Rose e Alice serviram uma das suas comidas favoritas, peito de pato no forno.

– O que é isto? Parece comida de pobre. Claro que foi feito pela condessa. – Exclamou olhando com nojo para o prato.

– Algum problema com a comida que eu e Amanda preparámos? – perguntou Rose. Sorrindo falsamente Eliza exclamou que havia perdido a fome e foi para o seu quarto.

– O que se passa com ela? – Perguntou mais tarde naquela noite a Arthur, quando já estavam na varanda onde se costumavam encontrar.

– Não tenho a certeza. – Respondeu recostando-se na sua espreguiçadeira. – Acho que desde crianças nunca lhe dei a atenção que ela queria e, não sei, contigo tenho uma outra ligação. Depois destes dias nós dois estamos mais próximos do que eu e Eliza ficámos em todos estes anos. Acho que ela tem inveja.

– Não sei porquê. Não é como se nós pudéssemos ser namorados ou assim. – Respondeu risonha, olhando o céu. Mas aquela resposta mexeu em algo dentro de Arthur. Algo que o magoou.

– Não poderíamos? Se gostássemos um do outro não poderíamos namorar? Porquê?

– Porque...– não podes namorar uma plebeia, ia completar, mas parou a tempo. Esteve quase a desmascarar-se! – ...nunca irias gostar de mim assim.

-Achas mesmo isso? – Até ali pensava que ele estava a ter aquela conversa na brincadeira, mas quando desviou o olhar das estrelas para os olhos dele, percebeu a seriedade do que estava a dizer. Aquilo fê-la perder o sorriso e engolir em seco. – O que aconteceria se eu te beijasse? – Agora o olhar de Arthur estava nos seus lábios.

– E-Eu... – Arthur não a deixou terminar o que tentava dizer, em vez disso calou-a colando os seus lábios aos dela num beijo suave.

– Eu acho que me estou a apaixonar por ti, Amanda... – Confidenciou quando encerrou o beijo.

– E-Eu... T-Tu... Não podemos. Desculpa. – E assim sem mais explicações correu para o seu quarto e deixou Arthur sozinho na varanda com os seus pensamentos.

Condessa de MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora