Capítulo 18

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– Eliza deixou aquelas pessoas entrarem e levarem Mia. – Rose esbugalhou os olhos em segundos, quase soltando um palavrão com a surpresa.

– Charles! – Chamou. O marido que se encontrava um pouco afastado deles, percebendo o tom de aflição da mulher, logo foi até junto dela. – Manda todos embora, temos problemas graves. – Percebendo que era de facto grave, foi pedir a todos que se fossem embora enquanto Rose ia abraçada a Alice para dentro de casa e Arthur arrastava Eliza para lá.

– Fazes ideia do que fizeste? – Perguntou Charles a Eliza quando já estavam todos na sala de estar. Alice com uma chávena de chá de camomila para se acalmar e com Raphael adormecido no seu colo de tanto chorar.

– Eu não sabia que isto ia acontecer. – Exclamou tentando desculpar-se.

– Não sabias que ao entregar Mia àquelas pessoas, estavam a deixar que ela fosse com traficantes? Poupa-me ao teu teatrinho, claro que sabias. Tu ameaçaste-a com isso se ela se relacionasse comigo. – Contrapôs Arthur.

– Eu fi-lo por ti. – Levantou-se esquecendo-se o seu fingimento e aproximando-se dele. – Tu ias ser enganado por ela se não fizesse nada. Ias deixar-me! Ela ia roubar-te de mim!

– Eliza, acorda! Isso não é amor, é obsessão. Estás obcecada por mim e não consegues ver que não é por ti que estou apaixonado. Tu tens sequer noção do que te vai acontecer quando se souber o que fizeste? O que vai acontecer à família real quando se souber o que a duquesa fez? Tu pensaste nisso? Podes perder o acesso ao trono! – Pela expressão dela, percebeu que aquilo nunca lhe tinha passado pela cabeça. – Tu vais embora. E vais explicar tudo aos teus pais. E vais procurar ajuda para curar essa tua obsessão.

– E-Eu posso ajudar.

-Não. Já fizeste o suficiente. Ainda hoje vais embora. – Negou Rose, firme. Rose raramente falava assim tão a sério pelo que Eliza não discutiu a ordem.

Nessa noite, Eliza entrou no carro com todas as suas malas. Ninguém foi despedir-se dela. Como fui capaz de fazer isto a uma criança? pensava com a consciência finalmente a pesar.

Nessa noite apenas Raphael dormiu. Todos os restantes estavam demasiado preocupados com o que poderia estar a acontecer a Mia para conseguir dormir. Após algumas horas, Alice estava na sala de estar com a cabeça deitada no colo de Arthur a ver televisão enquanto ele lhe fazia carinho nos cabelos, mesmo que nenhum deles estivesse a prestar atenção ao que estava a dar, quando a campainha junto ao portão tocou pelo interfone. Mesmo sem saber a razão, Alice precipitou-se para lá, vendo que eram apenas as pessoas que estavam a planear o desmembramento da rede consigo.

Pressionando o botão na consola, abriu o portão para os deixar entrar.

– Fui eu que os chamei. – Explicou Charles saindo da cozinha com Rose.

Durante algumas horas todos ficaram no escritório a modificar o plano. Com o rapto de Mia, tinham de avançar de forma a que ela não corresse perigo algum. Ela era a sua prioridade. Decidiram que a missão iria decorrer daí a dois dias, para salvar a criança sem fragilizar a operação, para desespero de Alice que achava ser demasiado tempo.

– Achas que ela está bem? – Perguntou Alice quando já estava sozinha com Arthur na varanda.

– Eu não sei o que te dizer, Alice. – Admitiu. – Ela deve estar assustada, mas também sabe que farás tudo o que estiver ao teu alcance para a salvar. Ela é nova, mas muito inteligente, como tu. Vocês não estão sozinhos agora, nós faremos de tudo para vos deixar a salvo.

– Eu sei... – Respondeu, apesar de não ter sido uma pergunta. Ele tinha afirmado e ela já o sabia antes de ele o dizer. Antes das palavras, eles já tinham provado isso com ações, o que, para alguém que passou os últimos dois anos a desconfiar de tudo e de todos, era muito tranquilizador. Recostou-se na espreguiçadeira e tentou pensar em algo que não fosse a irmã para não prejudicar a missão. Se pensasse muito mais iria até à casa dos traficantes, comprometendo tudo, inclusive a sua vida e a da irmã. Ela estava tão perto, mas tão longe...

– O que é que queres fazer depois de tudo ficar resolvido? – Perguntou-lhe Arthur a dada altura para a tentar distrair.

– Não sei... Nunca pensei nisso. Talvez tente arranjar um trabalho e uma casa para mim e para os meus irmãos. Talvez tente pô-los na escola novamente. Eles sempre gostaram da praia, talvez tente algo no litoral... – Disse pensativa olhando as estrelas.

– Espera, então vais abandonar-nos? Abandonar-me?

– Arthur, eu não pertenço aqui. Esta vida, não me pertence. Eu estou aqui a viver a vida de outra pessoa.

– Do que é que estás a falar? Estás aqui como Alice, minha namorada, amiga dos meus pais. Estás a viver a vida de quem?

– Da condessa! – Exaltou-se. – Esta vida, para todas as pessoas de fora, para os teus familiares de hoje, eu era a condessa. Não sou ela, não quero ser! Quero ser eu! Quero poder viver, não sobreviver! Quero andar pela rua sem estar sempre a olhar por cima do ombro. Quero viver novamente! E nem quero pensar no que se passará se a verdadeira condessa me processar por roubo de identidade.

– Não podes viver aqui?! – Suspirou quando percebeu que estavam a gritar, não queria chamar a atenção dos pais. – A condessa não te irá processar, e se o fizer é mais uma razão para ficares, para nós te ajudarmos. Achas que te pedi em namoro para quê? Para acabares comigo no dia seguinte? Alice, eu adoro-te. Penso que um dia posso mesmo vir a dizer que te amo. Queres mesmo deitar isso tudo a perder? – Questionou baixando o tom de voz.

– Quem seria eu aqui, Arthur? – perguntou, desta vez sem gritar.

– A minha namorada, a nossa visita permanente, a amiga da minha mãe. O vestido que tinhas vestido mostra o quando ela gosta de ti. Não sei se ela te contou, mas aquele era o vestido que ela usou no dia que ela conheceu o meu pai. Nunca pensei que ela o desse a alguém e, no entanto, aqui estamos nós. Vivias connosco, voltavas a estudar, assim como os teus irmãos, irias para a universidade depois, és talentosa e inteligente o suficiente para isso. Sei que tens um futuro tão mais brilhante do que trabalhar num bar, num café ou num restaurante. Mais brilhante do que matares-te a trabalhar para no fim não teres dinheiro para tudo o que precisam. Por favor, pelo menos pensa nisso.

– Eu vou pensar nisso. – Deu-se por vencida. Logo se despediram e foram dormir. Pelo menos, tentar. Alice ficou por mais algumas horas a revirar-se de preocupação por Mia. Quando o seu despertador tocou, ela não tinha fechado os olhos por cinco segundos.

Condessa de MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora