Capítulo 4

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Alice deambulou pela casa escura até encontrar uma porta que descobriu ser de uma varanda. Andou até à beirada de pedra, onde se apoiou, e olhou para o céu estrelado. Parecia especialmente bonito naquela noite.

-Amanda? – Alice saltou com o susto, estava distraída nos seus pensamentos e nem ouviu os passos a aproximarem-se.

– Arthur. – Exclamou como um cumprimento.

– Desculpe, não queria assustá-la. – Desculpou-se arrependido.

– Não faz mal, estava perdida em pensamentos.

– E em que pensava? Em como irá repor todas as roupas e sapatos que perdeu? Em como isto é muito mais longe do shopping do que pensou e em como é horrível não ter rede aqui?

– Por quem me toma, Arthur? – Perguntou ofendida.

– Por uma condessa, aquela condessa mimada de que ouvia falar quando a minha mãe voltava de viagem. – Por momentos, Alice esqueceu-se da sua personagem.

– Pois, eu cresci e amadureci. E quanto às suas perguntas, eu estava a pensar em como os meus pais me fazem falta e aos meus irmãos... – Respondeu, virando-se de costas para Arthur, de frente para o jardim que se via da varanda, para esconder as lágrimas que insistiam em cair pelas bochechas.

– Desculpe por a ter julgado com algo que ouvi há muitos anos.

– Tudo bem. – Disse verdadeira. Se fosse sobre ela, ficaria magoada, mas era acerca da pessoa que ela fingia ser então não valia a pena fingir que tinha sido afetada por algo que não era mesmo sobre ela, já tinha de fingir o suficiente. – E o Arthur, o que o traz aqui?

– Antes de responder, poderia pedir-lhe que me tratasse menos formalmente? É estranho ver uma pessoa da minha idade tratar-me assim fora dos eventos formais.

– Só se me tratares igualmente, Arthur.

– Combinado. – Concordou sorrindo. – Respondendo à tua pergunta, – começou encostando-se à varanda, imitando Alice – estou sem sono e quando te ouvi a passar à minha porta, vim ver quem era.

– Sofres de insónias? – Perguntou curiosa.

– Às vezes. E tu? – Alice apenas concordou com a cabeça, sem dizer que mal dormia desde a morte dos pais, com medo de isso gerar perguntas que a expusessem.

– Acho que vou deitar-me agora. – Disse ela. – Boa noite, Arthur.

– Boa noite, Amanda. Se tiveres insónias na próxima noite, vem para aqui, é a melhor vista.

– Obrigada pela dica, Arthur. – Agradeceu, despedindo-se e voltando para o quarto.

Condessa de MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora