Saudades daquele tempo em que eu era a menina do papa, livre de todos os problemas, daquele tempo de pequenos grandes momentos numa família perfeita e ao mesmo tempo imperfeita, ou simplesmente normal, daquele tempo em que conversávamos sobre tudo e mais alguma coisa, saudades das gargalhadas que dávamos juntos. Em que ficávamos uma tarde toda de domingo juntos, sem fazer nada, mas juntos e felizes, um tempo em que sempre quis que passasse rápido e que chegasse o futuro, mas agora, que o presente de hoje é o futuro que eu antigamente desejava, daria tudo para ter aqueles momentos de volta.
-Papá, papá! Vamos rápido!!!-chamava, enquanto lhe puxava a manga da sua camisa vermelha, que ele tanto gostava.
-Sophie, tem calma! Temos de ir dizer á mamã que vamos sair.-sorriu, enquanto pegava no pequeno ser de cabelos compridos, designado por Sophie.
-Então vamos! Não podemos chegar tarde! O Pai Natal não espera e depois não posso pedir a minha boneca!
-Achas que o Pai Natal se ía embora sem ouvir o pedido de uma menina tão linda como tu?-disse, apertando-lhe o pequeno nariz.
Pequenas gargalhadas soaram.
-Não percam mais tempo, vão lá!-a mãe, que usava um avental que nada me era estranho.
-Vamos, vamos papá!
Os dois seres, pai e filha, sairam agora de casa, fazendo caminho ao local onde se encontrava o Pai Matal, tão esperado por Sophie.
Um estrondo ouviu-se.
-Papá! Papá?? Acorda, temos de ir ter com o Pai Natal! Papá? Porque é que não falas! Papá! Acorda!
A inocência da criança não lhe permitiu saber o que se tinha acabado de passar.
-NÃO!!!-acordei, enquanto gotas de suor escorriam pela minha face. A minha respiração estava acelerada.
-Shhh, está tudo bem. Eu estou aqui.-Uma voz masculina soou, enquanto me abraçava.
-Brad?? Oh Brad!-agarrei-me a ele com toda a força que tinha, e desabei, mesmo em frente ao amor da minha vida. Lágrimas escorriam pela minha face acompanhadas por soluços contínuos.
-Está tudo bem agora. Eu estou aqui.-disse, baixinho, enquanto me abraçava.
-Era o m-meu pai! E-ele e-estava a atraves-sar a estrada e e-e f-foi atropelado! E eu, eu n-não fui cap-paz de f-fazer nada!-soluçava, enquanto chorava contra o seu peito.
-Já passou. Eu estou aqui. Já passou.-disse, enquanto me abraçava.
-Onde é que estámos?-perguntei, olhando em redor.
-Estámos no hospital.-disse o rapaz moreno que se encontrava á minha frente, com um aspeto cansado, olhos inchados e vermelhos. Certamente, esteve a chorar.
-Porque é que eu estou no hospital?-perguntei, levantando-me um pouco, mas logo voltei para trás, pois tinha umas dores horriveis na barriga, que não me permitiam estar sentada.
-O que é que se passa? Porque é que eu tenho dores na barriga? Brad! O que é que se passou?-perguntei, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto.
O rapaz estava prestes a falar, quando a porta foi aberta por um homem negro, alto, que vestia uma bata branca.
-Bom dia menina Sophie. Como é que se sente?-perguntou aquele, que possívelmente seria o médico.
-Não muito bem, para ser sincera. Pode-me explicar o que aconteceu? Por favor.-pedi.