ALESSIO

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ALESSIO

Minha vida era uma sequência de acidentes. Alguns mais afortunados do que outros.

Nascer? Péssimo negócio.

Ser abandonado no lixo? Arriscado. Mas deu certo.

Me tornar um Falcone? A melhor maldita coisa que podia me acontecer.

Minha mãe (Kiara, a única mãe que eu tive) acreditava que eu não sabia. Não sei ela era inocente o suficiente para acreditar mesmo nisso, mas agia como se fosse o caso. Meu pai, no entanto, tinha sentado comigo aos doze anos e explicado tudo. Ele dizia que eu não podia me tornar um Homem Feito sem saber a verdade. Que sempre esteve ali para qualquer um ver, e eu era filho de Nino Falcone. A inteligência é tão ensinada quanto uma predisposição natural. E desde que tive minhas suspeitas confirmadas, eu via a vida da mesma forma: se essa era um jogo, eu era um puta jogador sortudo. Negócios arriscados eram a minha praia.

Desde pequeno, consciente ou não, eu calculava as possibilidades. Claro que como melhor amigo de Nevio eu tinha uma conta grande de roubadas, mas todos os sucessos valeram a pena. Nós éramos uma dupla quase imbatível, dentro e fora dos negócios da máfia. O que ele precisasse, eu estava lá. Mesmo que os riscos geralmente fossem altos. E um namoro escondido com a filha do Scuderi? Muito, muito arriscado.

Não era o meu jogo, eu pensei. Meu único papel era ser coadjuvante e garantir que as fechaduras estivessem trocadas e que Nevio e Aurora tivessem a privacidade de fazer o que quer que faziam. Eu duvidava que ele estivesse conseguindo sexo com ela ainda. Aurora Scuderi não era nenhuma boba, e mesmo ele sendo Nevio Falcone... Os dois não tinham casamento marcado. O sobrenome dela carregava um histórico pesado de escândalos em Chicago e Nova York.

-Alessio. - Nevio entra no quarto, sem pedir licença. Típico.

Voltamos da viagem anual de férias há dois dias, e ontem nós dois fomos sugados pela montanha de assuntos pendentes da Camorra.

-Vai sair para algum lugar hoje? - ele inspeciona minha carteira jogada na cama e o fato de que eu não estou usando moletom, mas jeans e jaqueta de couro.

-Sim. Nem adianta pedir, não vou cobrir para você.

-Qual é, Alessio, tem...

-Dois dias. Você pode sobreviver mais um. - eu corto. A maioria das pessoas não tem coragem de cortar Nevio quando ele fala, mas alguém precisa fazê-lo. Ele me encara com seu olhar mais ameaçador, o que não gera nenhum efeito.

-Vai me pagar por isso na gaiola. - Nevio sentencia.

-Mal posso esperar.

Nevio estreita os olhos e aponta em minha direção.

-Qualquer dia desses eu vou cansar de você, Alessio.

Faço um gesto de descaso. Ameaças vazias. Nevio sabe disso tão bem quanto eu, mas como um bom filho do tio Remo, ele precisa falar. É impossível que ele saia de uma conversa sem sentir que teve a última palavra e eu deixo que ele tenha. Mesmo assim, ele não sai do meu quarto, apenas se joga no pufe mais próximo.

-Vai aonde? Sugar Trap?

-Interessado? - eu levanto uma sobrancelha.

Não conversamos muito sobre isso, mas Nevio parece estar sério em relação a Aurora Scuderi. Ele vai me contar seus planos quando for relevante para ele, mas se quer ser levado a sério por ela ou por qualquer um de nossos pais, ele vai ter que começar a mudar certos hábitos. Depois do quase fiasco entre tio Savio e tia Gemma anos atrás, tio Remo estava determinado a não deixar nenhum compromisso de casamento na Camorra ser em vão. Ou era para valer ou não existia.

Twisted LivesOnde histórias criam vida. Descubra agora