CARLOTTA

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CARLOTTA

A sala de espera do meu médico, Dr. Mariani, estava sempre lotada. Mesmo quando ele se mudou para um novo consultório, em um prédio alto e imaculadamente branco, sua sala era repleta de brinquedos e quadros coloridos. No fim do dia, ele era especializado em condições cardiovasculares em crianças. As decorações de Páscoa, já dispostas deixavam o espaço ainda mais confuso e colorido. Um coelho sorria para mim do seu lugar na mesa de centro.

Minha mãe torcia as mãos nervosamente ao meu lado. Nós carregamos o peso do meu último exame, sem saber o resultado. Quase podia sentir a tensão.

-Mãe. Pare. - eu peço, olhando para ela. Eu fui uma temporã, nascendo depois que minha irmã praticamente estava em idade de casar. E com a minha condição, e a morte precoce do meu pai e minha vó... Havia sido difícil para ela. Ás vezes eu quase me sentia mal por toda as frequentes vezes que a desobedecia, as festas e atos de rebeldia. Quase. - Por favor. Vai ficar tudo bem.

Ela me dá um sorriso trêmulo. Eu fecho os olhos. O transplante que fiz quando criança me deu a chance de ter uma vida praticamente normal, até dois anos trás, quando meus exames ficaram preocupantes de novo. E precisei de mais acompanhamento. Mais remédios, mais visitas aos médicos. E crescendo proporcionalmente a isso, minha inquietude. Eu queria fazer tudo. Se ia morrer jovem, eu queria poder ter vivido. Infelizmente, como parte de uma família tradicional da máfia, eu não tinha muita escolha. Então fiz o que pude em momentos roubados.

Gostava de sentir meu coração se acelerar até quase sair pela boca. O momento em que pulei a janela e fugi de casa para ir a uma festa pela primeira vez. Eu tinha quinze anos. Ou antes disso, quando matei aula para dar meu primeiro beijo debaixo das arquibancadas da escola. E ainda meu grande ato até o momento: perder a virgindade com Jason Ross, o filho de um senador, no banco de trás da Range Rover dele. Tudo isso, mais o resto, me deixava em paz. Eu sabia que no fundo Mama tinha consciência de que eu escapava de casa uma vez ou outra. Ela só escolhia relevar. Confiar em mim. Talvez fosse um erro, mas eu não iria reclamar. Nunca fui pega.

Exceto aquela vez. Já haviam passados muitos meses. Eu não devia lembrar daquilo ainda, mas por algum motivo, não conseguia esquecer. No Natal, ele estava na festa dos Falcone. Como se nada tivesse acontecido. Eu o perguntei se tinha conseguido deslanchar a carreira de ator teen em LA e ele riu. Mas eu sabia que ele estava lembrando do mesmo que eu. Do momento no carro onde eu estava em cima dele.

Tinha sido meu grande erro. Era a única coisa, de tudo que eu fiz, que me assombrava. Se por eu ter desistido ou não... Ainda não sabia responder.

-Bazzoli. - Sra. Evans, a secretária, me tira dos meus devaneios. - Você é próxima.

Minha mãe apertou minha mão enquanto andávamos até o consultório. Ela se sentou a frente, parecendo muito mais abalada do que eu. Era de se esperar. Após os cumprimentos de praxe, Dr. Mariani cruzou os braços sobre a mesa, encarando a tela do computador.

-Tenho boas e más notícias.

Mamãe solta uma respiração profunda.ela parece cansada. Eu odeio que eu seja uma preocupação.

-Pode nos contar a ruim primeiro. - ela pede.

Dr. Mariani assente.

-Bem, os exames de Carlotta foram inconclusivos.

-Inconclusivos? O que isso significa?

-Deixe o Dr. falar, Carlotta.

Dr. Mariani ajeitou os óculos no rosto.

-Essa é a boa notícia também.

Olhei para mamãe. Ela estava tão confusa quanto eu. Ele continuou falando.

Twisted LivesOnde histórias criam vida. Descubra agora