Twisted Lives

CARLOTTA

CARLOTTA

Velhos hábitos eram difíceis de deixar para trás, eu pensei, enquanto revirava na cama. Era quinta feira a noite, a primeira semana das férias. Quer dizer, eu estava graduada do ensino médio agora. Ainda chamavam férias? Geralmente, eu estaria garantindo que o quarto de mama estivesse trancado e fugindo para alguma festa. Dessa vez, não era o caso.

Pego meu celular, a tela acesa a única luz do ambiente. 22:50h. Digito uma mensagem para Aurora, torcendo para que esteja acordada e não ocupada transando. Deus, eu queria estar transando. Mas não queria pensar no meu último beijo. Tinha sido mais de um mês atrás. Não, era furada. Porque minha mente já tinha revivido o momento várias e várias vezes, e cada vez que eu lembrava calor surgia no meu corpo. Eu tinha beijado Alessio Falcone.

Inferno. Ele beijava bem, melhor do que todos os outros. Me sentei na cama, acendendo o abajur. Ligar um filme na TV podia trazer questionamentos de porque estava acordada.

O celular acendeu. Só podia ser uma pessoa.

Aurora: sim, nevio saiu agora

Eu: hm 👀

Eu: não acredito q vc está tendo mais ação que eu

Aurora: eu tenho um namorado

Eu: ha como se isso fosse uma opção

Aurora: Lotta...

Eu: td bem, não mandei msg pra isso

Aurora: n consegue dormir?

Aurora: quer conversar?

Eu queria? Eu queria uma solução para meus problemas. Queria que caísse do céu um homem italiano perfeito que aceitasse se casar comigo sabendo que eu não era virgem. Que não me olhasse menos por isso, que não me deixasse no canto como um brinquedo quebrado. Eu queria não ser forçada a ter vergonha de ter vivido minha vida do jeito que eu quis. Tinha sido minha escolha, e eu não me arrependia disso. Não de verdade.

Antes que pudesse responder a Aurora, uma outra mensagem aparece na tela. Eu franzo a testa, como se meus olhos estivessem me enganando. E depois outra. Eu pisco quando o celular começa a vibrar, o jogando na cama e encarando a tela antes de atender.

-Finalmente. - a voz do outro lado da linha não me deixa enganar. É ele.

-Alessio? O que você... Por que me ligou? - eu afasto o telefone da orelha, conferindo a foto do contato. Meus olhos pousam na hora. - Por que me ligou às 23h da noite? Aconteceu algo com Tio Savio? Tia Gemma? As meninas?

Ele ri do outro lado da linha. Se isso for uma brincadeira, eu vou acabar com ele.

-Não, está tudo bem.

-Então o que diabos está fazendo?

-Você xinga muito para uma garota tradicional.

-Não é novidade. - eu me sento na cama, de forma a olhar pela janela, não conseguindo deixar de imaginar se ele está em casa. - O que você quer?

Silêncio. Espero alguns segundos, sentindo o nervosismo crescer. Isso é estranho, mais do que estranho.

-Carlotta, o quanto sua família está decidida em te casar logo?

Eu quase engasgo.

-Muito. - minha voz sai tremida, e eu tento evitar tossir.

-O quão fudida você está se eles te casarem com um tradicionalista?

Dessa vez eu não consigo evitar de rir. Respondo com mais ênfase.

-Muito. Vou lidar com isso. Não precisa... - pauso. Ele estava preocupado? Não podia ser. Provavelmente meu irmão tinha armado isso. Eu devia ter imaginado antes. Eles eram todos homens feitos.