Capítulo 3

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"Podemos conversar?" Pergunto ao me aproximar de onde Arlo estava no corredor, pegando suas coisas em seu armário para a próxima aula. Seus olhos azuis encontram os meus e eu engulo em seco, meu coração acelerando meu meu peito. Havia apenas um dia que toda a merda com ele e Liam desabou, mas pareciam fodidos séculos.

Me perguntava se seria assim sempre. Se meu coração ia sempre acelerar quando eu estava perto de um deles... Se minha pele iria queimar ou se eu iria perder o fôlego. Daqui a meses, ainda seria assim? Anos? Porra... Eu espero que passe, porque Deus sabe que eu me sinto uma merda.

"O que foi?" Arlo questiona, e eu mordo o lábio, segurando mais forte o aperto que eu tinha na alça da minha bolsa.

"Eu quero parar com os treinos." Murmuro, e o vejo trincar um pouco a mandíbula antes de sua expressão retornar ao papel em branco de sempre.

"Você vai perder." Fala, e eu dou de ombros.

"Se acontecer, tudo bem." Tento manter o tremor longe da minha voz. Eu odiava ter que fazer isso. Odiava ainda mais não saber o porquê.

Mas o aviso de Nolan e Adam repassa na minha cabeça. Perca a luta, ou todos vão morrer. Yeah, isso não vai acontecer, e eu não vou arriscar.

Talvez eu devesse saber mais sobre isso antes de simplesmente obedecer à dois garotos que deveriam estar mortos mas... Eu confio neles. Não sei porque. Talvez seja pela amizade deles com Liam, ou pela seriedade na qual eles falaram tudo aquilo... Mas eu acreditava nos dois.

Arlo bate a porta do armário fechada, o barulho soando pelo corredor e atraindo alguns olhares. Ele me encara com a expressão vazia.

"Muito bem, Sorrentino... Cancelado." Diz, então se afasta de mim sem olhar para trás.

Eu fecho os olhos, suspirando, e me encosto contra os armários. Afasto as lágrimas que ameaçam aparecer, e secretamente me chamo de tudo quanto é nome. Eu não devia ter me apaixonado por eles. Por nenhum deles. Fodasse...

Talvez eu não deveria nem sequer ter vindo para Gotville High em primeiro lugar.

"Amiga?" Escuto a voz de Val e abro os olhos, apenas para vê-la se aproximar, com Jace ao seu lado. Os dois me encaram preocupados. "Tudo bem?"

Dou meu melhor sorriso. "Yeah. Tudo. Só... Não estou me sentindo muito bem, acho que vou para o quarto. Vejo vocês mais tarde?"

"Tem certeza?" Jace questiona, e eu concordo com a cabeça.

Sinto o olhar dos dois em mim mesmo quando já me afastei, e subo as escadas para voltar para o meu quarto. Não quero enfrentar mais um dia de escola. Mais uma aula inútil com Sharon onde eu tenho que pegar toalhas limpas e limpar sapatos.

Pego a minha chave na bolsa e abro a porta, me encostando na mesma quando a fecho atrás de mim. Suspiro e fecho os olhos, respirando por um momento. Então é aí que eu escuto o barulho da televisão ligada e franzo a testa.

Abro os olhos, apenas para encontrar Adam Shade na minha cama, como se fosse dono do lugar, com um pote de pipoca no colo, assistindo à um filme. Ele pausa o que quer que estivesse passando e me encara com um sorriso meio... fofo. E rebelde.

Como um garoto que faz algo que não devia e sabe disso.

"Hey." Cumprimenta antes de botar um pouco mais de pipoca na boca. Arqueio uma sobrancelha e olho para a janela, que estava aberta. Suspiro.

Quarto seguro é meu traseiro.

"O que está fazendo aqui?" Questiono enquanto deixo a minha bolsa em cima da minha cadeira.

"Achei que pudéssemos ser amigos." Fala, inocentemente, e eu encaro com meu melhor olhar de desdém. Adam suspira e rola os olhos. "Okaaaay." Ele morde o lábio. "Como ele está? Liam."

Suspiro, passando meus próprios braços ao redor de mim mesma como um escudo. "É complicado."

"Ruby? Sharon?" Pergunta, e eu bufo.

"Duas vadias. E Ruby me quer morta." Resmungo, e um sorrisinho divertido aparece em seu rosto. Noto uma covinha quando seu sorriso cresce, e mordo o lábio.

Era estranho que ele tivesse uma. Sempre imaginei covinhas para as pessoas mais fofas, como algo extremamente adorável. E Adam não é exatamente adorável. Não quando ele tinha o corpo coberto de tatuagens, um piercing na língua, uma jaqueta de couro e todo aquele negócio de 'bad boy que vai quebrar seu coração' rolando.

Mas, merda, se não era atraente.

"Então você está se enturmando direitinho." Murmura, divertido. Rolo os olhos, mas com um sorrisinho próprio aparecendo no meu rosto, e sento na cama, não tão perto dele.

"Só tenho problema com elas duas." Mais ou menos. "Mas, sério... O que está fazendo aqui?"

"Assistindo um filme." Ele indica a televisão, e estende o saco de pipoca para mim. "Quer?"

"Adam." Digo, em um tom firme, e ele rola os olhos.

"Só estava entediado."

"E por que não vai ver Liam?" Questiono, e me arrependo da pergunta assim que escapa dos meus lábios. Seu rosto muda para uma expressão de dor.

Havia algo em Adam que eu gostava. Algo diferente. Que Liam e Arlo não tinham... Ele não escondia o que sentia. Tinha a muralha em volta de si, que os outros meninos também tem, mas a dele é diferente. Não parecia ser para se proteger... e sim para proteger o resto do mundo.

E, porra, se isso não me deixa curiosa.

"Não posso." Murmura baixinho, e eu mordo o lábio.

"Por que não?" Questiono, e seus olhos verdes encontram os meus. Deus, ele tinha olhos lindos.

"Só não posso. Podemos não falar disso?" Fala, e eu concordo com a cabeça, sem querer empurrá-lo longe demais.

"Okay."

Adam suspira, e estende mais uma vez o saco de pipoca para mim. Parecia mais uma oferta de amizade, e eu olho dele para a comida. Dou um sorrisinho e pego um pouco. Um sorriso próprio aparece em seu rosto satisfeito.

Ele não tinha medo de sorrir. De mostrar que estava feliz, ou que estava sofrendo. Eu gostava disso.

"Então... Ouvi que você causou um bom drama por aqui. Quer me contar o que tá rolando?" Questiona, e eu arqueio uma sobrancelha.

"Por que contaria?" A pergunta sai como uma provocação, e Adam da uma risadinha divertida.

"Para me entreter. A vida no mundo dos mortos não é tão divertida quanto parece."

Desde o momento em que vi Adam naquela foto do anuário, eu senti algo estranho. Não era forte, mas era uma certa... curiosidade. Fascinação, até. Ele parecia tão feliz.

Ele parecia livre. E, bem aqui, na minha frente, ele ainda parecia assim. Eu tinha certeza de que não era o caso, mas era como se ele pudesse fazer o que quiser, quando quiser, e ninguém poderia pará-lo.

E isso é algo que eu nunca fui. Livre. Gostaria de saber como seria.

Então, eu suspiro e concordo com a cabeça.

"Okay, Shade... Vou te contar."

The Stolen Empire - Gotville High 2Onde histórias criam vida. Descubra agora