O Lago

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Lianne parou perto da beira do lago, segurando a si mesma com força, conseguindo sentir nos braços as pancadas do coração. Estava tremendo. Muito. Sua pele estava seca demais para suar, mas estava molhada do mesmo jeito. Seu braço esquerdo estava ardendo. Muito. Nele estava mutilada a grande e legível palavra SUFOCANTE. O sangue transbordava entre as letras, a lâmina que as escrevera estava suja e vermelha no bolso do seu suéter. Era um suéter cinza, velho, que cheirava como a sua casa. Mas sua casa já tinha deixado de ser sinônimo de reconforto a muito tempo atrás.

Lianne estava com dificuldade de puxar o ar para os pulmões, com o peito subindo e descendo lentamente, enquanto ela tentava ignorar o que estava sentindo e o que estava prestes a fazer. O que não estava prestes a fazer. Não ia fazer nada. Nada. Nada. Porém, estava doendo o peito. Muito. Muito. E não ia parar. Não ia.

Lianne estava descalça na beira do lago. Seus tênis vermelhos estavam mal jogados na terra a alguns centímetros dali. Ela não se importou com eles quando começou a subir a ladeira ao seu lado, feita de terra dura e pedras avulsas. Ela não se importou com nada quando se viu no topo daquele monte tão alto, acima do lago, olhando para o mundo como se ele a pertencesse.

Lianne definitivamente não estava mais respirando enquanto parada lá em cima, olhando para a água congelante abaixo de si. Porém, de alguma forma, seu peito subia e descia normalmente. Ela puxava e soltava o ar, mas não sentia que fazia isso. Sentia como se estivesse em um mundo aparte, onde o ar não existia.

Lianne estava... Li-Lianne estava.... Lianne... LIANNE LIANNE LIANNE LIANNE

AH MERDA! - Lianne gritou. Na verdade, não gritou, mas jurou que tinha gritado. Assim como jurava que não estava mais respirando, apesar de claramente estar.

RESPIRE. Respire respire respire.

As lágrimas estavam quentes, descendo por suas bochechas, escorrendo pelo seu pescoço, pingando no seu suéter cinza com cheirinho de casa. Casa. Mãe. Não, não pense em sua mãe. O que está fazendo? O QUE ESTOU FAZENDO?

Ela ia pular. Era oficial. Lianne, a doida, ia finalmente se matar, na água fria de um lago perto de casa. Ela iria se afogar e morreria sozinha. Ninguém ia ficar surpreso, isso é certo. Todo mundo viu que ia acontecer, ninguém tentou impedir. "É doidinha, aquela ali" era o que diziam. Maluca. Insana. Problemática. Quebrada.

Quebrada quebrada quebrada quebrada.

Ela foi até a borda da queda, os pés doendo contra o chão duro e gelado, cheio de pedrinhas e pedaços de madeira. Ia acabar com um espinho no pé, mas esse era um problema que levaria para outra vida. Me leve para onde quiser, Ceifador, mas tire esse espinho do meu pé.

Respirou fundo. As pedras da ladeira eram cheias de musgo e seus pés estavam escorregadios. Ela se sentia deslizando lentamente, com muita paciência, em direção a água gelada. A ladeira era fácil de subir, mas muito difícil de descer. Era apenas para quem tinha coragem.

- Eu tenho coragem? - Pensou Lianne, mas, na verdade, tinha dito em voz alta. O mundo estava deslanchando, em dez segundos cairia em direção a sua doce morte, que também seria agoniante e muito fria.

Quantos remédios tinha tomado antes de parar ali?

8...

Foram cinco, todos de uma vez.

6...

Cinco? O que mamãe vai dizer se me ver fazendo isso?

4...

Ela nunca vai ter a chance de dizer nada para mim.

2...

Não... A minha mãe...

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