Velas e Pinturas

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Liliane Amato era bonita. Ela era bonita desde que Thomas a conhecera e ele não sabia dizer se um dia ela ia deixar de ser bonita. Ela era tão bonita que quando ela andava arrumada a aparência dela deveria dar pena de morte. Ela era tão bonita que quando acordava de manhã, sua beleza ofendia os canários que passavam perto da sua janela.

Era isso o que a cabeça apaixonada de Thomas pensava enquanto olhava para Liliane Amato, não mais arrumada do que ela estaria no dia a dia, mas simplesmente perfeita aos olhos daquele garoto. Ela estava usando uma blusa longa de frio azul ciano, e jeans tão escuros quanto seus olhos. Seus cabelos estavam presos num rabo-de-cavalo baixo e seus tênis eram brancos, os mesmos que ela usava para a escola. A maquiagem que estava usando era quase imperceptível, exceto pelos lábios, que estavam tão vermelhos quanto a bebida esquisita do Angel no andar de baixo. Aquela não era uma boa comparação, mas Thomas não estava raciocinando. Liliane Amato estava sorrindo para ele.

– Oi. - Ela disse, e seu sorriso, sim, deveria dar pena de morte.

– Oi. - Ele respondeu, também sorrindo involuntariamente. Por um ou dois segundos, ela olhou diretamente pra sua boca, e ele não soube dizer se ela gostava do seu sorriso ou se queria beijá-lo. Ele desejava que fossem os dois.

– Estão me chamando de Vadia Joaquina, aparentemente. - Ela disse, e o sorriso de Thomas morreu porque ele pôde perceber que os olhos dela estavam vermelhos. Seu sorriso, no entanto, permanecia ali, sincero como se já não se importasse. Mas dava para ver que se importava. Suas lágrimas a delatavam.

– Eu sinto muito por isso. - Ele disse, a voz dando a entender que já sabia.

– Não sei o que fiz pra essas pessoas.

– Você não fez nada além de ser você mesma. Algumas pessoas não gostam disso, e elas não merecem nem uma pequena parte do seu tempo. – Ela não respondeu, e eles apenas ficaram se encarando por um tempo. Ele teve que perguntar: - Posso entrar? - E ela abriu espaço para que ele passasse.

O quarto em que ela estava se escondendo era um pouco assustador, assim, no escuro. Era como uma pequena galeria de arte, cheia de velas e telas de pintura e tinta espalhadas pelo lugar. As paredes brancas tinham tinta de diversas cores espirradas nelas e a iluminação era incrivelmente fraca. Thomas se lembrava mesmo de ouvir falar que a mãe do Angel pintava, e era esquisito invadir o lugar da arte dela. Mas, depois de dar uma boa olhada nas pinturas que não eram bem pinturas, o sentimento se esvaiu completamente.

– Uau. - Ele disse. Sua voz era bem sugestiva enquanto ele olhava em volta, claramente tirando sarro. Se perguntou se não estava sendo maldoso demais.

– Pois é. - Concordou Lianne, ali perto. - Alguém aqui tem um belo quê artístico, hã? - Brincou ela, enquanto limpava uma lágrima teimosa que estava caindo. Ela pegou uma vela alaranjada que estava perto dela e estendeu para ele ler o rótulo. - Essa aqui tem o fantástico aroma de "banho".

Meu Deus, pensou Thomas. E riu.

– Por que isso é laranja?

– Talvez os banhos dela sejam mais interessantes que o normal.

– É, ela deve se enfiar na terra e regar.

Foi a vez de Lianne rir, andando pelo cômodo com um pouco menos de desconforto. Ela então apontou para uma pintura, que era basicamente um borrão preto, azul e branco que não parecia ter secado direito.

– Adivinha o que é.

– Não faço a menor ideia. Um buraco negro? - Ele poderia facilmente dizer que todas as pinturas daquele lugar eram buracos negros.

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⏰ Última atualização: Mar 23, 2020 ⏰

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