Liliane Moon

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Quando Thomas tinha doze anos, sua terapeuta tinha pedido para que ele escrevesse um diário sentimental. Era basicamente para ele escrever todos os sentimentos que tinha tido num dia num caderninho qualquer e depois de uma semana trazê-lo para a Dr. Francisca ler. Cada dia não podia ter mais de duas páginas, porque a Dra. Francisca tinha outros pacientes, e ele compreendia isso muito bem. Ele usava todo o espaço de duas páginas que podia, pois achava que tinha sentimentos demais para um menino, mas que estava tudo bem com isso. Era o que sua mãe dizia.

Ele tinha receio de escrever sobre Liliane Amato e parecer meloso demais, então quando narrava seus sentimentos nos dias de escola, nunca citava ela. Até que teve um dia, em que a escola tinha proposto um passeio escolar para fora do Estado, que Thomas não teve como evitar. A turma estava toda reunida em uma praça pública em Minas Gerais, e estava anoitecendo. A lua estava grande e brilhante. Muito, muito brilhante. E ele ainda conseguia se lembrar da visão de Liliane Amato contra a lua, no ângulo em que estava, com a pele pálida tão brilhante e os cabelos escuros esvoaçantes.  Ela estava... linda. Sobrenatural, quase. Era uma imagem digna de uma pintura histórica, que ele nunca iria esquecer.

Quando chegou no hotelzinho em que estavam ficando naquela noite, abriu seu diário escondido num armário de vassouras e escreveu suas duas páginas, todas falando sobre Lianne Amato e sua imagem contra a lua. Esqueceu todos os outros sentimentos e então, na segunda página, ele ousou até escrever o nome dela para a Dra. Francisca ler, mas com um sobrenome diferente. A chamou de Liliane Moon. A partir daquela noite, ela era a sua Liliane Moon, e não importava se ele estava beijando outras garotas, ou se ela estava apaixonada por um babaca como o Diego Albuquerque, ela seria sempre sua Liliane Moon, mesmo se até ele se esquecesse disso.

E ele esqueceu.

Por estranho que pareça, ele só foi se lembrar que tinha a dado o sobrenome Moon a ela todos aqueles anos atrás bem ali, naquela singela aula de Português. Ele lembrou porque estava olhando pra ela, algumas cadeiras atrás, e viu que ela estava fazendo um desenho (muito bonito, particularmente falando) de uma meia-lua coberta de nuvens. Foi como um clique na sua cabeça, e ele lembrou.

Liliane Moon. Estou apaixonado, doutora, pela Liliane Moon.

Foi todo o impulso que nosso jovem precisava para decidir que precisava falar com ela. Haviam vários tipos de comunicação, e a sua foi escrita. Thomas rasgou uma folha do seu caderno e logo começou a escrever o bilhete...

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