My nerd

Usual day

Lauren POV

     Mais um dia perfeito em minha vida. Tinha que admitir que todos os dias pareciam de certa forma iguais. Eu, no auge dos meus 17 anos, a garota mais cobiçada do colégio. Admito que alguns me respeitavam pelo meu dinheiro, já que meus pais eram donos de uma multinacional no ramo da construção civil, mas outros me respeitavam porque eu era a capitã do time de futebol americano. Eu era assumidamente bissexual e isso nunca foi um problema. As garotas praticamente se jogavam aos meus pés, assim como vários garotos tentavam de todas as maneiras possíveis me chamar para sair. Eu chegava a achar aquilo hilário, mas não podia reclamar, afinal eu poderia ter quem eu quisesse.

               - Como vai gostosa?

     Perguntou Brad, meu melhor amigo e braço direito no time.

               - Estou bem, Brad, o que você tá querendo com esse olhar?

     Perguntei estranhando um pouco a cara de excitação que ele estava. Ele rapidamente me apontou o motivo.

               - Ela está mais esquisita que o normal hoje!

     E começou a rir sem o menor pudor. Entendi a situação e, poxa, ele tinha plena razão. Camila Cabello, a nerd do colégio havia acabado de entrar no pátio e usava um moletom verde musgo com alguns detalhes vermelhos. Precisava admitir que ela nunca teve um senso de moda muito bom. Desde que me lembro por gente, ela sempre usava roupas estranhas.

               - Qual é, Laur, a gente precisa ir até lá!

     Disse Brad ainda rindo. Apenas concordei com a cabeça e segui meu amigo de perto. Assim que nos aproximamos mais, Camila imediatamente abaixou seu olhar e começou a encarar os próprios sapatos, que também eram péssimos por sinal.

               - Hey, ciclope, você pode nos informar onde comprou seu novo moletom? Nós amamos, queríamos comprar também!

     Disse com o máximo de desdém em minha voz e segurando o riso. Brad logo entrou na brincadeira:

               - Eu morreria por um desses! Acho que foi a própria mãe dela quem fez. O mau gosto com certeza é de família, só pode! 

     Já havia uma aglomeração em volta e as pessoas riam sem o menor pudor, já xingando Camila de vários nomes. Ela começou a chorar, o que puder ver mesmo através das grossas lentes do óculos que ela usava. Ela se desvencilhou da multidão ao sair correndo para o banheiro.

     Admito que minha curiosidade foi maior naquele momento. Durante todos esses anos, Camila nunca havia chorado em nossa frente. Ela sempre carregava aquele olhar triste e carregado quando tirávamos sarro dela. Sempre a achei durona por manter a pose na nossa frente, mas isso havia mudado pelo visto. Deixei Brad seguir para sua aula junto com os outros e me dirigi ao banheiro. Assim que entrei sorrateiramente, pude ouvir um fungar vindo de uma das cabines. Entre o choro, pude ouvir que ela falava algumas coisas bem baixo.

               - Mama, não os escute, eles não sabem da nossa vida. Eles não sabem da sua história.

     Naquele momento não aguentei minha imensa curiosidade para descobrir se ela realmente estava com a mãe no telefone, então subi no vaso da cabine ao lado da dela para observar o que estava acontecendo. Camila tinha os olhos fechados e segurava o pingente de seu colar com devoção. Pude perceber que havia uma foto ali dentro, que provavelmente era de sua mãe. Ela recomeçou a chorar.

               - Me perdoa, mama. Deveria ter falado algo. Eu te amo com todas as forças e sei que você está comigo até mesmo agora...

     Eu não sabia como reagir àquilo. Nós tiramos sarro da mãe morta dela? Até mesmo eu tinha coração e sabia que aquilo foi algo horrível. Acabei escorregando e cai do vaso. Camila imediatamente parou de chorar e saiu da cabine em que estava. Ela logo me viu na outra cabine ainda arrumando minhas roupas da queda que havia levado.

               - Como você se atreve?? Veio encher meu saco mais um pouco?

     Ela perguntou ainda com os olhos vermelhos.

               - Eu não...

               - Você não o que? Não tem outra piadinha pra fazer sobre mim? Perdeu o seu talento, Jauregui?

               - Camila, eu não sabia...

               - Vai pro inferno!

     Ela respondeu e se retirou rapidamente do banheiro, me deixando ali ainda sem reação. O que eu sabia sobre Camila? Sabia que ela amava estudar e que sempre fora a nerd da escola, certo? Além disso o que mais? Não me recordava de nada. Todos esses anos estudando juntas e só me recordava dos inúmeros meios que achávamos para tirar sarro dela. Realmente não fazia a menor ideia do que ela passava e de como era sua vida.