My nerd

Esclarecimentos

Lauren POV

Alguns dias se passaram desde o episódio do banheiro. Nós continuamos zuando Camila, mas eu não me sentia como antes. Em todos esses anos, tirar sarro dela e de mais alguns esquisitos do colégio era algo que me divertia muito, mas agora eu continuava meio que por costume. Camila continuava com os olhos tristes e até mesmo vazios.

Estávamos agora em uma aula horrível de física. Como eu achava aquilo entediante! Fiz questão de sentar atrás da Camila, já que ela sempre se sentava na primeira carteira da fila. Ela estava um pouco mais relaxada que o normal, talvez por saber que não poderíamos atormenta-la no meio da classe, mas aparentemente ela estava enganada. Brad e Jake, um outro garoto do time de futebol, começaram a rir e desenhar algo em uma pequena folha de papel. Eu não sabia ao certo o que eles estavam tramando. Logo vi uma bolinha cruzar o ar em minha frente e acertar a cabeça de Camila. Ela se virou já com uma expressão cansada e pegou a bolinha do chão. Quando ela começou a desamassar o papel, o professor notou qua havia algo errado.

- Srta Cabello, me entregue esse papel, por favor!

Camila congelou na mesma hora e estendeu o papel para o professor. Brad e Jake seguravam seus risos de maneira forçada. O professor, ao ver do que se tratava, logo fechou a cara e voltou a falar com a turma:

- Isso aqui não tem a menor graça! Eu não vou deixar passar impune durante a minha aula. Srta Cabello, vá para a diretoria agora. Srta Jauregui, a acompanhe por favor e leve este bilhete até o diretor.

Nos levantamos rapidamente e logo peguei o pequeno pedaço de papel que ele estendia para mim. Por pura curiosidade olhei o que havia ali. Havia um desenho de uma garota de óculos com as pernas abertas e um pinto. Embaixo estava escrito: "só nos seus sonhos, quatro olhos, porque ninguém nunca vai querer comer você". Não sei explicar ao certo, mas aquilo me causou um incômodo muito grande. Resolvi que não mostraria a ela o que estava em minha mão. Fomos caminhando em silêncio até chegar na sala do diretor. Ele estava com um aluno e seus pais, então teríamos que esperar até que chegasse nossa vez. Nos sentamos em sua sala de espera. Camila estava ao meu lado e continuava extremamente calada.

- Hey, você não queria ter vindo até aqui?

Perguntei tentando arrancar alguma coisa dela.

- Não.

Ela disse de forma seca, mas resolvi continuar a conversa.

- Não queria perder a aula, certo?

- Não queria porque sei que isso não vai mudar as coisas. Vocês vão continuar me atormentando da mesma maneira, talvez até pior.

Engoli a seco. Estava começando a perceber o quanto minhas atitudes e a dos meninos estavam sendo erradas.
Logo o diretor apareceu na porta do seu escritório e nos convidou a entrar.

- O que traz vocês aqui ?

Ele perguntou com um olhar cansado.

- O professor Matt nos enviou.

Camila disse com a voz baixa.

- E posso saber o que houve?

Ele completou.

- Jogaram um papel em mim durante a aula. Ele pegou o papel e pediu para que viéssemos aqui mostrar para o senhor.

Eu estendi o papel para ele naquele momento. Ele logo pegou e começou a analisar o que estava ali. Seu punho se fechou e seu rosto começou a ficar vermelho.

- Esses meninos foram longe demais, Camila! Você é uma excelente aluna, me arrisco a dizer que é a melhor de todo o colégio. Você se esforça tremendamente para manter sua bolsa desde muito nova, respeito é o mínimo que posso te assegurar aqui.

Ele se levantou e se dirigiu até a parede onde havia uma espécie de interfone. Logo ele começou a falar e suas palavras ressoaram por todos os corredores.

- Aqui é o diretor Jonathan, haverá uma reunião de emergência após o término da aula. Aguardo todos os alunos e professores na quadra de basquete.

Troquei um olhar confuso com Camila que também estava muito surpresa. Logo o diretor voltou a conversar conosco.

- Fique tranquila, Camila, vou pegar quem foi o responsável por isso! É o mínimo que posso fazer por você e pela amizade que tinha com a sua mãe. Não vou avisar seu pai, porque sei que ele não pensaria duas vezes em aparecer por essas portas e talvez seu emprego corresse risco. Não é isso que queremos!

Ela simplesmente concordou com a cabeça e abaixou seu olhar novamente.

- Vocês já podem ir para a quadra, a aula irá acabar em apenas mais alguns minutos.

Ele informou se levantando para abrir a porta de seu escritório para nós. Saímos sem trocar uma palavra e continuamos caminhando para a quadra.

- Eu não sabia que você era bolsista...

Comentei meus pensamentos alto com ela.

- Porque saberia? Você nunca se interessou em mim a não ser para fazer alguma gracinha, não é mesmo? Agora também irá fazer piadinha sobre isso?

- Não, Camila, eu realmente estou querendo saber um pouco sobre a sua vida. Fique tranquila, não irei comentar nada disso com alguém.

Ela respirou fundo e deu os ombros.

- Sim, sou bolsista desde que entrei aqui. Como você pôde ver no banheiro, não tenho mais minha mãe. Ela morreu no meu parto... meu pai era um engenheiro de sucesso e ganhava muito bem na época, mas não soube lidar com a perda de mama. Ele teve um surto no trabalho e quase agrediu seu chefe... eles acabaram o demitindo e o tal homem fez questão de que nenhuma outra empresa o contratasse. Desde então ele trabalha pintando muros em uma pequena loja perto da nossa casa. Nós não temos dinheiro para pagar o colégio. Tio Jonathan era um grande amigo da minha mãe, então ofereceu um bolsa para que eu pudesse estudar aqui quando fosse a hora.

Fiquei sem reação ao escutar aquilo dela. Após alguns segundos consegui reagir.

- Poxa, Camila, eu sinto muito...

- Você e seus amiguinhos podiam então facilitar minha vida e me deixar estudar em paz! Isso já seria ótimo.

Chegamos na quadra e logo em seguida pudemos escutar que o sinal havia tocado. Em alguns minutos a quadra já estava abarrotada de gente.