Socorro

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Camila POV

Choque. Esse era meu estado naquele momento. Não esperava que o diretor fosse realmente fazer algo para punir aqueles meninos. No momento em que Ben ergueu sua mão na arquibancada eu já sabia que ele sofreria retaliações. Simplesmente admirei sua coragem, mas as vezes precisamos ser medrosos para preservamos nossa integridade. Eu já havia aprendido isso durante todos esses anos. No começo até tentei denunciar meus malfeitores, mas percebi que as consequências eram muitas vezes piores, e eles nunca recebiam uma punição adequada. Isso sempre me deixou revoltada! Eles estavam esperando alguém morrer para tomar as medidas corretas?

Eu não entendia o que se passava com Lauren. Ela sempre deixou claro que me desprezava. Acho que parte de sua aparente superioridade se baseava em inferiorizar as minorias do colégio, não só ela, mas todo seu bando de "populares". Creio que havia uma única exceção: Veronica Iglesias. Ela era como uma irmã para Lauren e também era parte do time de futebol, mas nunca se envolveu com essa parte. Já havia escutando a mesma falando diversas vezes para os outros que não aprovava esse tipo de comportamento, mas na maioria das vezes ela só recebia piadinhas em troca.

Em relação a Lauren, na primeira vez em que a vi, não pude negar que meu coração bateu mais forte. Ela era simplesmente linda, seus olhos verdes eram coisa de outro mundo. Assim como me cativou, ela também chamou a atenção de diversas pessoas e logo estava andando com os mais populares. Ela era linda e rica, era notável que dinheiro nunca havia sido um problema para ela que sempre se vestiu com as melhores roupas de marca e atualmente vinha para o colégio com um Porsche Spyder. Meus sentimentos por ela morreram assim que vi o tipo de pessoa que ela estava se tornando. Suas agressões e outros comportamentos a deixavam extremamente feia a meus olhos agora.

Não entendi quando a peguei me espionando no banheiro após eles terem insultado a minha família. Ela não tinha aquele brilho perverso no olhar naquele momento, não pareceu que sua intenção era me machucar ainda mais. Quando ela me acompanhou para a sala do diretor, pude perceber a mesma coisa. Ela expressava apenas curiosidade, fato que não fazia nenhum sentido, já que todos esses anos ela tinha sido exatamente a mesma e se portado de maneira estúpida.

Agora estava aqui, ao lado de Ben, tentando conter o sangramento em seus lábios e ajudando o garoto a se levantar. Agora via que ela não havia mudado nada, aqueles momentos comigo deveriam ter sido mera curiosidade mesmo, talvez ela realmente usasse tudo que descobriu sobre mim para me humilhar mais. Um frio correu sobre a minha coluna ao pensar naquilo.

- Vamos, Ben! Ajudaremos você a se levantar e vamos te levar ao hospital.

Disse com a voz suave perto do menino que chorava e gemia de dor. Peguei seus óculos que agora estavam quebrados no chão e guardei na minha bolsa. Eu e Dinah ajudamos o garoto a se levantar e logo o levamos para o carro da minha melhor amiga.

- Eu não sei qual o problema desses populares!

Dinah disse de maneira mais alterada.

- Eu bem queria me enfiar ali no meio, mas eram muitos. Me desculpe, Ben, não consegui te proteger...

Continuou minha amiga que agora olhava para o garoto no banco de trás do seu carro. Alguns minutos se passaram e a única coisa que conseguíamos ouvir era o choro baixo de Ben. Chegamos no hospital e logo fomos atendidos. Os médicos iriam ligar para os pais do garoto e disseram que estávamos liberadas. Ele provavelmente levaria alguns pontos no rosto e ficaria para fazer alguns exames, já que havia machucado a barriga. Ele apenas disse aos médicos que havia caído da escada. Nós não o desmentimos, pois sabíamos que ele tinha suas razões para aquilo. Fomos embora assim que seus pais chegaram ao local. Eles nos agradeceram imensamente. Agora estávamos no carro e Dinah se dirigia para a minha casa.

- Sabe, Cancho, você não se cansa desse tipo de coisa? Eu não aguento mais ver esse pessoal mexendo com você e alguns outros...

Dei um longo suspiro para respondê-la.

- Sim, você sabe que sim. Mas não vejo muito saída... só espero que o ano acabe logo e eu consiga minha bolsa na Yale.

- Você vai conseguir, tenho certeza! Enquanto isso não acontece, você sabe que pode me chamar sempre que precisar né?

- Sim, eu sei, Cheeche.

- Ótimo, porque mesmo não sendo da mesma sala que vocês, eu consigo acabar com aquela bunda branca da Jauregui!

Não contive a risada que escapou dos meus lábios. Minha amiga era meu porto seguro. Dinah estacionou na porta da minha casa e logo nos despedimos. Passei a noite em claro, pensando em como algumas pessoas tinham capacidade de ferir outras. Eu nunca chegaria a compreender tal coisa.

..........

Já havia se passado dois dias desde a surra de Ben. Estávamos na última aula do dia, fato que agradeci mentalmente, já estava cansada. Hoje haveria jogo e todos aparentemente estavam animados. Eu particularmente não dava muita bola para aquilo. Achava uma grande perda de tempo porque a maioria dos jogadores eram babacas. As coreografias das líderes de torcida eram as únicas coisas que me agradavam. Admito que gostava de apreciar a beleza e a suavidade das garotas mais belas do colégio, mas isso não me faria ir naquele evento. Logo o sinal bateu e comecei a me dirigir para a saída. Passei no meu armário para deixar alguns livros para depois seguir o rumo de casa, mas, para o meu desgosto, Brad e Jake surgiram ao meu lado quando fechei o armário.

- Sabe, Cabello, hoje deveria ser nosso dia de brilhar em campo.

Disse Brad com um sorriso cínico no rosto.

- Mas graças a você, não estamos escalados, nem sequer podemos treinar!

Completou Jake. Eu já estava extremamente nervosa com aquilo, sabia que eles não deixariam barato.

- Então resolvemos levar você pra assistir o treino hoje, não é legal?

Eu não consegui formular sequer uma frase tamanho o medo que sentia. Onde estava Dinah em uma hora daquela? Provavelmente a loira já havia ido para casa. Me xinguei mentalmente por não ter prestado atenção.

- Quem cala consente, não é mesmo, quatro olhos? Vamos!

Disse Brad e já me puxou pelo braço. Jake estava no meu outro lado, não me deixando brecha para escapar. Os corredores já estavam mais vazios e as pessoas pareciam não se importar com aquilo.

- Alguém me ajuda, por favor!

Consegui formular após alguns segundos. As pessoas passavam com a cabeça baixa, parecendo não se importar.

- Pode falar o quanto quiser, Cabello. Ninguém vai se meter com a gente.

Respondeu Jake e deu uma gargalhada. Eles me arrastaram até o campo de futebol. Ao longe era possível ver alguns alunos já treinando. Brad continuava apertando meu braço e me guiou para baixo da arquibancada.

- Aqui está bom, não seremos interrompidos.

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