CAPÍTULO X

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DEZ

Quando você resolve brincar com algo muito poderoso, como os sentimentos alheios, por exemplo. Muito cuidado ao jogar conteúdos inflamáveis - ou despertar esperanças pesadas demais, nesse caso - pois em algum momento, a explosão irá atingir você também.




(Já sabem, ouçam a música apenas no momento correto)

Os dois próximos dias passaram tão devagar quanto  tortura eterna do inferno aos condenados. A convivência com a pirralha nova dentro de casa quase não existia, já que cada um ia para a escola por seus próprios meios.
Pois é, acreditem ou não, o cretino do meu pai deu um carro para uma adolescente mimada de 16 anos.

Segundo ele, o carro era para os dois, mas me recusei sem chances de voltar atrás.
Enquanto estávamos em casa, comíamos em horários diferentes e, ela nem se quer saia de dentro do quarto, a não ser para ir para à escola.

Acordei no sábado um tanto quanto nervoso por conta do teste, faziam anos que eu não dançava mais e, eu sabia que reabrir essa porta em minha vida seria o início de uma catástrofe social que já havia começado.

Mãe, anda logo! Estou atrasado. – Eu disse ansioso, porém animado por saber que minha mãe estaria ao meu lado.

ela pegou a bolsa apressada e andou em direção à porta de saída. Pela primeira vez em anos, a vi sorridente e arrumada. Ela vestia um blazer cinza claro, sobre um vestido todo preto e justo que ia até o joelho. A maquiagem, apesar de leve, a deixava com a fisionomia saudável.

– Você não esqueceu de nada? – Ela disse  ligando o carro assim que entramos no mesmo e dando partida. Parecia ainda mais nervosa do que eu.

– Não, estou com o formulário preenchido na mochila e vestido adequadamente. – Respirei fundo assim que terminei de responder e passei as mãos em minha calça de moletom preta, na tentativa de tirar alguns pelos do Miles que sempre ficavam em minhas roupas.

Quando chegamos, os testes já haviam começado, e o auditório tinha alguma dezenas de cadeiras preenchidas por pais, amigos e candidatos às vagas.
Sentei ao fundo com minha mãe e chequei a lista de inscrição que havia levado na mochila, confirmando quantos candidatos ainda iam dançar antes de mim.

– Falta muito para sua vez? – Minha mãe levantava volta e meia a bunda da caçadeira para poder analisar quem se apresentava.

– Ainda faltam três pessoas, mãe. Calma! – Disse guardando o papel novamente e logo levantando. – Preciso ir. Vou passar minha música para o pessoal do som.

Ela segurou rapidamente em minha mão e, eu pude sentir o que ela queria me dizer, sem que ela precisasse de fato dizer. Apenas sorri e dei um beijo leve em sua mão como uma breve despedida.

Subi nos bastidores e avistei uma silhueta feminina e pequena perto de alguns equipamentos de som. Assim que me aproximei, reconheci de imediato.

– O que você está fazendo aqui? – tentei não esboçar descontentamento, mas falhei.

– Eu perguntaria o mesmo, mas já vi seu nome na lista de candidatos. Deveria se apressar, você é o próximo. – Maria Luísa virou-se para mim assim que fiz a pergunta – Eu sou DJ, aliás.

NÃO SIGA ESSAS REGRASOnde histórias criam vida. Descubra agora